sexta-feira, junho 29, 2007

A VOLTA DOS GUARDIÃES DA MORAL E DOS BONS COSTUMES


Esta é mais uma para o FEBEAPÁ - Festival de Besteiras que Assola o País, versão 2007: o Governo Federal, por meio do Ministério da Justiça, quer baixar uma portaria estabelecendo a "classificação indicativa" dos programas de televisão, ou seja, determinando o horário em que cada programa deve ser transmitido, de acordo com a faixa etária do público. O que significa isso? Basicamente, a volta dela, a famigerada, a maldita censura governamental aos meios de comunicação, desta vez disfarçada de defesa do bom gosto e dos direitos das crianças e adolescentes.

Todas as minhas dúvidas sobre o caráter autoritário e paternalista do projeto do governo caíram por terra na última segunda-feira, depois de assistir a um debate sobre o assunto no programa Roda Viva, da TV Cultura. No debate, os defensores da medida, funcionários do governo, argumentavam que a iniciativa não era nenhuma forma de censura, mas unicamente um meio de regulamentar - "regulamentar", esta é a palavra mágica que utilizam os inimigos da liberdade de escolha - os horários dos programas, a fim de evitar abusos e coibir a baixaria. Além do mais, prosseguiam esses senhores iluminados, a decisão final de assistir ou não ao programa continuaria sendo do espectador, pois o governo apenas estabeleceria as bases dessa escolha (ou seja: o sujeito continua a ter o direito de escolher o que seus filhos vão assistir, mas quem determina o horário é o governo). Ao final do debate, convenci-me de que o que está em gestação é, sim, uma forma de censura, sutil e subreptícia, mas censura do mesmo jeito.

Por coincidência, no começo da semana, o governo voltou atrás na idéia de estabelecer a censura prévia - o exame, por um grupo de "especialistas" designados para a tarefa, do conteúdo da programação das emissoras, antes de esta ir ao ar. A simples idéia de que foi cogitado tal absurdo já é de dar calafrios. Por sua vez, a idéia da "classificação indicativa", da censura do horário, continua firme e forte. O que estabelece essa invenção maravilhosa? Simples: que o horário dos filmes ou programas, a grade das emissoras, deve adaptar-se aos altos padrões morais e estéticos de um punhado de excelências, pagos por você, contribuinte, para decidir que tal ou qual programa é adequado ou não para seu filho de oito anos assistir naquele horário. Em outras palavras, o que o governo está dizendo é o seguinte: você, espectador, não é capaz de decidir o que é bom para sua prole assistir na televisão, e portanto esta tarefa cabe ao Estado, ao paizinho Estado, que constitui, assim, o guia moral e espiritual da sociedade. O indivíduo, a família, estes não devem ter voz na escolha do que a meninada vê na telinha, nem quando; é somente a Ele, o Estado, que cabe esta árdua missão, em nome da preservação da moral e dos bons costumes.

Não há dúvida de que a programação das TVs privadas no Brasil, assim como em todo o mundo, não é nenhuma maravilha. Aliás, a maioria do que passa na TV não vale nada, é puro lixo. Não tenho paciência para porcarias como Domingão do Faustão ou Big Brother, por exemplo. Mas nem por isso aceito que o Estado se arvore em juiz da qualidade dessa programação, a ponto de decidir por mim sobre o que vai ou não ao ar, nem em que horário. Essa decisão cabe unicamente a quem assiste aos programas, a quem tem o controle remoto nas mãos.

Além do mais, tal decisão governamental, se vier a ser aplicada, será um desserviço à própria cultura. De acordo com a portaria do Ministério da Justiça, peças de Shakespeare repletas de cenas de sangue e sexo como MacBeth e Otelo só poderiam ser transmitidas depois das 23 horas. Contos infantis, como Chapeuzinho Vermelho, teriam de ser adaptados para passar de manhã ou à tarde, com a exclusão da cena em que o Lobo Mau devora a vovó. A idéia de intervir na programação das emissoras de televisão, na forma disfarçada e aparentemente anódina de uma "classificação indicativa", usando para tanto o monopólio da força pelo Estado, é sempre um tipo de censura, que abre caminho para outras formas mais explícitas de tutela governamental sobre os espiritos.

A justificativa apresentada pelos censores pagos pelo governo é sempre a mesma: é preciso "proteger" as crianças, livrá-las do lixo e da baixaria vomitados diariamente pela TV, que muitas vezes abusa de cenas violentas e até mesmo pornográficas. É assim que começa. Primeiro, o governo intervém na grade da programação, estabelecendo o que deve passar neste ou naquele horário. Depois, passa a dar cada vez mais palpite no conteúdo dos próprios programas, expurgando o que é considerado impróprio. Finalmente, passa a ditar o que deve e o que não deve ser transmitido, produzindo ele mesmo os programas que serão assistidos pela população - de preferência, em algum canal estatal. Daí a que se queira determinar o tema e o conteúdo de peças de teatro e de livros, ou simplesmente censurar as notícias, é um pequeno passo. Já vimos esse filme antes e, francamente, não vale a pena.
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O flerte do governo Lula com a censura é antigo. Está nos seus genes, na sua origem e vocação totalitária. Antes mesmo de chegar ao poder, o PT já dava mostras de sua relação tumultuada com a imprensa, elogiando-a sempre que lhe convinha, atacando-a ferozmente quando era criticado. Desde 2003, quando se instalaram no Palácio do Planalto, os companheiros já entraram em rota de colisão com a liberdade de expressão várias vezes: um dos primeiros casos de intolerância lulista foi a expulsão de um jornalista americano que teve a audácia de se referir, em um artigo de jornal, aos hábitos etílicos de nosso Presidente (infelizmente para Lula, não havia nenhum assessor por perto que o lembrasse do gosto pelo úísque de um Winston Churchill, por exemplo). Seguiu-se a malfadada e hoje quase esquecida iniciativa do governo de criar um Conselho Federal de Jornalismo, que outra coisa não seria senão um Conselho Federal de Censura, felizmente engavetada junto com outros programas inócuos, como o outrora badaladíssimo Fome Zero. Mas eles não desistem. A bola da vez é essa tal de "classificação indicativa", pela qual a companheirada pretende ressuscitar a tesoura da censura federal, criando uma espécie de polícia do bom gosto para decidir o que é melhor para seu filho, leitor.

Já tive a oportunidade de ver a propaganda do Ministério da Justiça em favor da "classificação indicativa" na televisão. Lembra muito uma propaganda veiculada pelo governo de Hugo Chávez na Venezuela, o qual fez aprovar medida semelhante anos atrás. Esta foi logo apelidada de "Lei Mordaça", pois na prática impôs o dever de as emissoras de televisão se autocensurarem, caso contrário correriam o risco de perderem a concessão do governo para continuarem funcionando. Essa mesma lei foi invocada por Chávez para fechar uma emissora que lhe fazia oposição, em maio passado. O governo já quis desarmar a população, retirando dela o direito de escolher defender-se ou não. Agora deseja controlar o que assistimos na TV, retirando do cidadão o direito de escolher o que seus filhos verão na telinha. Não há dúvida: estamos mesmo caminhando para o chavismo.

quinta-feira, junho 28, 2007

UM CLUBE QUE NÃO PÁRA DE CRESCER


Hoje não vou publicar nada meu. Creio que o texto a seguir, recolhido da internet, já diz (quase) tudo o que penso a respeito de mais esse absurdo da era Lula. Enjoy!

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OS NOVOS ALQUIMISTAS

Percival Puggina, escritor


A promoção de Lamarca a general de brigada, posto a que por certo jamais chegaria, ainda que tivesse permanecido no serviço ativo, é ato especial dentro dessa campanha do agasalho que os companheiros da luta armada conseguiram montar para benefício próprio. São os novos alquimistas, que transformaram em anos de ouro os anos de chumbo que provocaram.
Uma coisa é o clube em si mesmo, constituído para nadarem de braçada na piscina dos recursos públicos onde se derramam os impostos que todos pagamos e para cujo montante eles foram, ademais, dispensados do dever de contribuir. As indenizações e pensões que recebem, isentas de Imposto de Renda, são servidas no restaurante do clube limpas como filé de lagosta.

Certo líder metalúrgico, após liderar greve no ABC paulista em 1981, passou alguns dias na cadeia. O episódio lhe valeu uma loteria paga em prestações vitalícias de 3,3 mil reais. Bem sucedido jornalista gaúcho foi agraciado com pensão de 10,7 mil reais aos quais agregou bolada extra de um milhão e meio. Um engenheiro da mesma praça ganhou manchete com seu troféu: turbinou a pensão que já vinha recebendo, no valor de 4,4 mil reais, para 10,7 mil reais e foi premiado com mais 1,3 milhão. Conhecidíssimo jornalista carioca, alegando ter sido demitido em 1965 do jornal onde trabalhava, abiscoitou aposentadoria de 23 mil e um milhão de bônus. Já são mais de 10 mil os membros e passam de 50 mil os candidatos a sócio do clube que aguardam despacho da comissão constituída no Ministério da Justiça.

Não nego que certas indenizações sejam devidas, embora constituam uma novidade na política dos povos após conflitos internos sucedidos por anistia geral. Mas os montantes e critérios ferem a razoabilidade. Se a moda pega, teremos que promover ajustes com as vítimas do Estado Novo e com os familiares dos degolados de 1923. Faltaria papel no mundo para imprimir o dinheiro necessário a indenizar os cem milhões de mortos do comunismo e os pensionistas de seus cárceres. E eu frito no dedo se haveria anistia ampla geral, irrestrita e generosamente indenizatória se Lamarca e seus companheiros da luta armada, treinados para "defender a democracia" em Havana, Moscou e Pequim, tivessem sido vitoriosos em seus intentos revolucionários.

Como disse acima, isso é uma coisa. Outra, porém, é o caso Lamarca, porque a promoção de um desertor fere a carreira e a hierarquia militar. Trata-se, aqui, de um ato contra as Forças Armadas. Mas também isso vai passar batido no festival de escândalos urdidos para desmoralizar a alma nacional. Você talvez não perceba, leitor, mas são os seus valores e seus direitos que, a cada dia, estão sendo meticulosamente esfacelados.

Publicado em 25/06/2007

quarta-feira, junho 27, 2007

HETEROFÓBICOS E RACISTAS


Antes de qualquer coisa, é bom que fique bem claro: não tenho, nunca tive nem terei um dia nenhum sentimento negativo contra quem quer que seja por sua cor, raça, etnia, gênero ou orientação sexual. Do mesmo modo, desafio qualquer um a mostrar onde, quando e como eu já teria expressado, neste blog ou fora dele, qualquer opinião que possa ser remotamente associada a qualquer traço de racismo ou homofobia. Nunca tive nem terei nada a ver com nenhum grupo skinhead espancador de negros e nordestinos (até porque sou nordestino), ou com pastores evangélicos que em seus sermões condenam ao fogo do inferno os "sodomitas"(até porque não sou religioso). O simples fato de ter de fazer esse esclarecimento antes de entrar no tema deste texto demonstra a gravidade do ponto a que chegamos. Se, depois de ler o que escreverei aqui, você ainda tiver alguma dúvida quanto a isso, e insistir em considerar minhas opiniões eivadas de algum preconceito, alerto: o problema é todo seu.

Minha cisma com a política de cotas raciais nas universidades e no serviço público e com o projeto de lei "anti-homofóbico" ora em exame no Congresso (PLC 122/06) não tem nada a ver, ao contrário do que gostariam os militantes dos "movimentos" negro e gay, com nenhum viés discriminatório contra negros ou homossexuais. Tem a ver, isto sim, com o que considero uma clara violação de um dispositivo constitucional básico, segundo o qual todos - todos, sem, exceção - são considerados e tratados como iguais (frise-se: iguais!) perante a lei. Trata-se de um pilar do Estado de Direito Democrático, uma conquista da democracia e dos direitos humanos. É esse princípio fundamental da vida civilizada que está sendo ameaçado hoje, graças à ação de minorias antidemocráticas que, em nome da "correção de injustiças históricas" e da "ampliação dos direitos humanos" querem, na verdade, impingir à sociedade uma gravíssima injustiça e minar as próprias bases da democracia e dos direitos humanos.

Comecemos pelas cotas. Em 2003, após anos de pressão do chamado "movimento negro", foi aprovada uma lei que reserva 20% das vagas nas universidades públicas a pessoas que comprovarem ser afro-descendentes, ou seja, negros e pardos. Sob o rótulo politicamente correto de "ação afirmativa", a idéia seria permitir a negros e pardos - a parcela mais pobre da população, segundo estatísticas brandidas por esse "movimento" - o acesso à universidade, o que lhes estaria vedado por sua cor de pele, ou seja, por sua condição de negros e pardos. À parte o fato de que "afro-descendente", no sentido lato, constitui um conceito bastante elástico - tendo a humanidade, segundo as pesquisas arqueológicas mais recentes, surgido no continente africano, seríamos todos, portanto, por definição, afro-descendentes -, além de, culturalmente, como escreveu Gilberto Freyre, sermos mais africanos que europeus, aparentemente esqueceu-se que tal sistema, importado dos EUA, adapta-se muito bem a sociedades onde reinou, durante anos, a segregação racial, não sendo, pois, adaptável a países como o Brasil, onde a intensa miscigenação praticamente apagou as linhas que separam as raças. Isso, por si só, já seria motivo suficiente para demonstrar o caráter inócuo e demagógico dessa lei. O problema, no entanto, é muito mais grave, pois tal sistema, a pretexto de corrigir uma suposta divisão racial da sociedade - aliás, no caso do Brasil, inexistente -, acaba legitimando e institucionalizando o racismo, ao estabelecer, como critério para o acesso à universidade e a outros serviços públicos, não o mérito individual, mas única e simplesmente a cor da pele. Pior: através de um sistema risível de classificação racial, baseado, no caso da Universidade de Brasília, pelo exame - pasmem - das fotografias dos candidatos, no pior estilo do apartheid sul-africano ou do nazismo. Daí que dois irmãos gêmeos idênticos tenham sido considerados, por esse sistema absurdo, como um branco e o outro, negro, é algo que não deveria causar-nos nenhuma surpresa. Além da impossibilidade prática de definir-se quem, no Brasil, seria negro ou branco, criou-se, com essa lei, uma situação em que a imensa maioria da população, composta de mestiços, é alvo de antemão de uma política discriminatória e, sim, racista, para beneficiar uma minoria.

A PLC 122/06 consegue ser ainda mais absurda. De acordo com o texto atualmente em discussão na Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, pretende-se igualar a homofobia a crimes já considerados inafiançáveis, como o racismo. Argumentam os defensores de tal medida que esta se faz necessária em virtude do elevado número de crimes, sobretudo assassinatos, supostamente cometidos contra homossexuais no Brasil. Sem falar que os assassinatos praticados por homossexuais não se encontram contemplados em nenhuma legislação específica (e alguém nega que estes também ocorrem?), o problema é que, assim como no caso da política de cotas raciais, a definição do que seria homofobia, por sua própria natureza vaga e imprecisa, serve às mais amplas interpretações. Estaria enquadrada nessa categoria aquela piada que os amigos costumam trocar no bar, sobre o jeito afeminado do amigo gay? Nesse caso, dever-si-a prender quase todos os humoristas brasileiros, que têm na imitação de trejeitos e desmunhecadas seu ganha-pão. Deveria ser jogada no xadrez, aliás, quase toda a população brasileira, que não cansa de usar, no dia-a-dia, expressões populares como "boiola", "baitola" etc. (a propósito: o que diria o povo brasileiro de uma lei que, a pretexto de não ferir as suscetibilidades de judeus e muçulmanos, banisse expressões como "judiar" e "mourejar"?). Quem for heterossexual - a maioria, creio eu - que tome muito cuidado e pense várias vezes antes de rejeitar polidamente uma cantada de alguém do mesmo sexo, pois poderá ser tachado como "homofóbico" e parar atrás das grades. No mesmo sentido, deveriam ser encarcerados sem direito a fiança (quase) todos os padres católicos e pastores protestantes do País, sempre e quando mencionassem a Bíblia para expor seu ponto de vista sobre homossexualidade. Aliás, mesmo antes da aprovação dessa lei idiota, já tivemos uma amostra do grau de arbitrariedade dessa iniciativa, com a decisão judicial que ordenou a retirada de outdoors espalhados em Campina Grande (PB), com os dizeres: "Homossexualismo" e a frase do Gênesis, "E Deus fez o homem e a mulher e viu que era bom", por considerá-los "homofóbicos". Se é homofobia citar a Bíblia para expor uma posição religiosa sobre esse tema - com a qual, aliás, ninguém é obrigado a concordar -, imaginem o que ocorrerá, caso essa lei seja aprovada, com quem ousar expor publicamente seu ponto de vista pessoal sobre o assunto. Onde fica a liberdade religiosa e de expressão?

Se havia alguma dúvida de que, sob a égide do lulismo, caminhamos para um tipo de totalitarismo politicamente correto, o sistema de cotas raciais e a PLC 122/06 demonstram isso de forma cabal e irrefutável. Em um país onde quase todos trazem a marca ou o sangue africano nas veias, e onde artistas, cantores e diretores de televisão são em grande parte gays assumidos e militantes, dizer que há racismo e perseguição generalizada a negros e homossexuais é de uma imbecilidade sem medida. Longe de significarem um avanço na luta pelos direitos de minorias oprimidas, tais iniciativas são obra de "movimentos" político-ideológicos que, amparados durante anos pelas esquerdas, visam a defender não direitos, mas privilégios. O que realmente querem é impor uma divisão racial e sexual na sociedade, instituindo uma casta de indivíduos intocáveis e acima das leis, que utilizarão a cor da pele ou a opção sexual como álibi para todo tipo de abuso - uma ditadura gay e racista.

No começo deste texto desafiei quem o lesse a demonstrar em que momento lanço mão de argumentos racistas e discriminatórios. É uma pena que não se possa dizer o mesmo das mentes brilhantes que estão por trás do sistema de cotas e da PLC 122/06.

sexta-feira, junho 22, 2007

COMO ME TORNEI UM REACIONÁRIO


Nunca fui muito fã de textos confessionais. Talvez por timidez, talvez por excesso de objetividade, sempre achei que, de tudo que se pode pôr no papel ou na tela de um computador, relatos da vida pessoal são o que há, talvez, de menos interessante. Afinal, escrever sobre si mesmo, sobre a própria vida, é sempre um exercício de cabotinismo, de vaidade narcísica e de futilidade, e aí está o Orkut e a maioria dos blogs para comprovar isso (na minha terra, a gente diz que quem fala muito de si próprio é um cabra muito amostrado. A internet está cheia de gente amostrada). Além do mais, não importa o quanto se tente ou aparente ser honesto, o sujeito sempre vai querer inflar o próprio ego, enaltecendo as próprias qualidades, ao mesmo tempo em que vai dar um jeitinho de esconder este ou aquele detalhe pouco lisonjeiro, esta ou aquela lembrança constrangedora de sua biografia. Apesar disso, creio ser necessário quebrar um pouco essa regra auto-imposta para relatar um caso acontecido comigo, o autor destas mal-traçadas linhas, tempos atrás.

Pouca gente que me conhece hoje sabe, e certamente alguns se surpreenderão com o que vou dizer, mas houve uma época em que participei de uma organização esquerdista. Aliás, esquerdista não: de ultra-esquerda, revolucionária (pelo menos assim se intitulavam seus membros), marxista-leninista (trotskista, para ser mais exato), anticapitalista, antiimperialista, antiliberal, antiglobalização - enfim, extremista, ferrabrás, porralouca, mucho doida.

Eu tinha uns 18 ou 19 anos e acabara de entrar na universidade. Universidade pública, federal, situada lá na província, onde nada acontece. O curso, inicialmente Direito, depois de alguns porres e de uma crise existencial passou a ser História (achava, com razão, que o estudo das leis não tinha nada a ver comigo). Época de escolhas radicais, de muitas dúvidas e incertezas (com exceção da minha opção sexual, desde cedo hetero com todo orgulho e sem concessões). De namoros fugazes e amizades idem. De muita festa, bebedeiras homéricas e muita experimentação, caracterizada, acima de tudo, pelo tédio e arrogância naturais da adolescência. Tédio e arrogância ainda mais intensificados quando se lê um pouco mais que a média e quando os horizontes não se limitam à mediocridade da rotina escola-balada-escola. Para um moleque assim, entediado, impaciente e bastante pretensioso, a atração por idéias radicais e extremistas, por fórmulas mágicas capazes de mudar o mundo e redesenhar a própria natureza humana, é quase irresistível.

Mas eu dizia que fiz parte de uma organização esquerdista. Esta era uma sigla ainda hoje inexpressiva, teoricamente com alcance nacional - até mesmo internacional, segundo diziam - mas na verdade um grupelho minúsculo (com o perdão da redundância), cujos integrantes cabiam - e, até onde eu sei, ainda cabem -, com certa folga, numa Kombi. Apesar disso, suas pretensões revolucionárias eram ilimitadas e não caberiam dentro de um Jumbo. Era um grupúsculo orgulhosamente sectário, que insistia no purismo ideológico como resposta àquilo que chamava de "oportunismo" e "reformismo" dos partidos de esquerda tradicionais, como o PT e o PCdoB. Mais que isso: seus membros viviam às turras com outras seitas de extrema-esquerda, sobretudo trotskistas (a capacidade centrífuga dos trotskistas parece ser infinita), pois cada uma delas reivindicava para si o legado de Trotsky, acusando a outra de traição aos verdadeiros ideais revolucionários bolcheviques (Trotsky é uma espécie de Dom Sebastião dos ultra-esquerdistas, que insistem em dizer que, se fosse ele, e não Stálin, o sucessor de Lênin, a história teria sido diferente). Para se ter uma idéia do grau de radicalidade da tal organização, basta dizer que, para seus militantes, a URSS nunca foi socialista e Fidel Castro era um burguês contra-revolucionário. Embora falasse em nome dos operários e proclamasse, em panfletos mal redigidos, a necessidade da revolução proletária, a maioria dos integrantes dessas organizações era de estudantes de classe média, e seu principal terreno de atuação era a universidade e o funcionalismo público (o "proletariado" das regiões periféricas, de escassa indústria).

No início, achei que tinha encontrado, finalmente, minha "galera". A aproximação foi, digamos, quase natural. Como dez em cada dez estudantes, eu não queria ser identificado como um direitista - o mal absoluto, na visão de muita gente. Além disso, mesmo antes eu já sentia uma antipatia quase instintiva pela esquerda tradicional, principalmente pelo PT, cujos militantes me pareciam - e continuam a me parecer - um bando de bundas-moles, nem tão à esquerda para falar abertamente em revolução, nem tão à direita para defender o liberalismo. Mas o mais importante, o que mais me atraía naquele círculo bizarro, era seu caráter voluntariamente clandestino e conspiratório, underground, pois eles condenavam violentamente o "legalismo" dos partidos esquerdistas tradicionais e optavam pela atuação clandestina e à margem da lei, adotando - vejam só - codinomes, como num romance barato de espionagem. Apesar de, hoje em dia, achar tudo isso ridículo, devo confessar que aquilo me fascinava. Em minhas fantasias juvenis, eu já me via guiando as massas e tomando de assalto o Palácio de Inverno, ou descendo a Sierra Maestra para expulsar o imperialismo. Via-me também - e custou-me muito reconhecer o caráter mórbido disso - mandando os burgueses para o paredón, em verdadeiras orgias de fuzilamentos para purificar a humanidade e preparar o caminho para o paraíso socialista (no meio desses contra-revolucionários que eu despacharia para o além em gloriosos banhos de sangue deveria constar, pelo menos, este ou aquele desafeto pessoal, mas é claro que, na época, eu não encarava a coisa desse jeito).

Com o tempo, porém, aquela repetição incessante de slogans e verborragia pseudo-revolucionária ficou cansativa. O que antes me pareceu firmeza e convicção ideológica passou a ser para mim apenas intransigência e dogmatismo, agravados por reuniões intermináveis e por sessões infindáveis de masturbação intelectual - um marxismo academicista, apenas um pouco menos primário do que a vulgata esquerdóide que até hoje domina o ambiente acadêmico. Acima de tudo, eu queria menos blablablá e mais ação. Não entendia como um grupo que se dizia revolucionário e socialista (as duas palavras mais repetidas em suas proclamações, segundo lembro) insistia em apostar todas as suas fichas numa coisa chamada "movimento estudantil" - uma verdadeira palhaçada, como demonstra a comédia da invasão do prédio da reitoria da USP, ora em curso. Por causa disso, passei a ver aquela pose de carbonários, toda aquela ênfase no trabalho clandestino, como simples paranóia ou como algo meio fake, um teatrinho para atrair outros jovens entediados e ansiosos para mudar o mundo como eu. Por causa disso, também, nunca passei da condição de simpatizante, jamais alcançando o nível de militante da dita organização. Fui-me afastando cada vez mais dos "camaradas" (pelo menos eles não se chamavam de "companheiros", o que sempre achei uma veadagem) e assumindo posições cada vez mais independentes. Creio que a gota d'água para mim foi quando passei duas horas debatendo com um dos membros do grupo tentando convencê-lo das possibilidades propagandísticas da internet, ao que ele replicava, com veemência cada vez mais maior, argumentando que esta era um instrumento da pequeno-burguesia, logo não-revolucionário. Finalmente, após muita discussão e várias cervejas, descobri que eu era um burguês e nunca mais falei com aquele pessoal.

Desde então, tornei-me, para meus ex-camaradas trotskistas, um reacionário, um traidor, um vendido. Pior que isso: sou um "perdido" - era assim que eles chamavam alguém que se afastava das idéias sagradas bolcheviques, como se fosse uma menina que perdera a virgindade de forma desonrosa. Concordo com eles. De fato, há muito estou perdido para as idéias totalitárias, seja de que tipo forem. Também já perdi a inocência faz tempo, inclusive em política. Escolhi deixar a revolução de lado e cuidar de minha própria vida, seguindo o conselho de Nelson Rodrigues aos jovens: "envelheçam, pelo amor de Deus!". Envelheci. Cresci.

A lição que tiro daquela época é que hoje, quase quinze anos depois, vejo como é fácil deixar-se enganar, iludir-se quando se é muito jovem. Percebo claramente por que os partidos e ideologias totalitárias exercem tanta atração e atribuem tanta importância à juventude, possuindo, todos eles, uma "ala jovem". Sei que parece conversa de velho - coisa, aliás, que ainda estou longe de ser -, mas a verdade é que, aos 18 anos, por mais inteligente que alguém seja, não tem ainda o discernimento e a vivência necessários a uma opção de vida responsável e conseqüente. Com essa idade, ninguém é capaz sequer de dizer onde estará em cinco ou dez anos, quanto mais mudar o mundo. O que se busca, quando se tem 18 anos, é a emoção do momento, a satisfação egóica dos instintos. Ao contrário do que dizem os aduladores, não há nada de "puro" na juventude: há, sim, muita imaturidade e irresponsabilidade, muita porralouquice, o que faz dos jovens entre os 15 e os 25 anos presas fáceis de aproveitadores políticos, que vêem nessa falsa "pureza" a argila em que possam moldar o que quiserem. Felizmente, meu instinto "do contra" falou mais alto, já naquela época.

De vez em quando, chega para mim alguma notícia de onde anda fulano ou beltrano, os ex-futuros Lênin ou Trotsky brasileiros, que se batiam com tanto ardor em defesa da revolução socialista internacional e do governo de operários e camponeses. Soube que dois deles, de quem eu era mais próximo, continuam com as mesmas idéias, exercendo a mesma profissão de professores em universidades estatais ou em escolas da rede pública de ensino, intervindo de vez em quando em assembléias de servidores públicos e conclamando a todos para a greve geral que irá derrubar o capitalismo e deflagrar a revolução comunista mundial. Diante disso, agradeço todo dia aos céus, pois me convenço de que tomei a decisão certa.

terça-feira, junho 19, 2007

UM NOVO FEBEAPÁ


É do falecido jornalista Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, a autoria de uma das obras mais divertidas das últimas décadas. Seu "Febeapá": Festival de Besteiras Que Assola o País - tão extenso que precisou ser dividido em três partes - continuará a ser lido por gerações como uma pérola do anedotário nacional, demonstrando toda a burrice, a estupidez e a cretinice de sua época. Um verdadeiro retrato de seu tempo, digno de um Balzac e melhor do que muito livro de história ou ensaio sociológico.

Infelizmente, como escrevia em 1966, 67, 68, Stanislaw Ponte Preta limitou-se a elencar as bobagens dos que estavam no poder no Brasil de então, após a "Redentora" de 64, esquecendo-se que, do lado da esquerda, o manancial de besteiras é ilimitado. Se vivesse no Brasil lulista de hoje, o jornalista carioca teria material de sobra para vários outros volumes de sua obra. Desconfio, até, que nem saberia por onde começar.

No Brasil lulista, sob patrocínio oficial, o festival de besteiras bateu todos os recordes, atingiu proporções nunca dantes atingidas, e que dificilmente serão superadas. Sua principal fonte, claro, é o supremo mandatário da nação, o Apedeuta-Mor, aquele cuja mãe nasceu analfabeta - e o qual, orgulhosamente, mantém a tradição familiar, com o aplauso de intelectuais inebriados pelo espetáculo da ignorância popular e voluntária. Mas ele não é a única fonte. Juntamente com o Grande Molusco, veio toda uma plêiade de militantes, ongueiros e tutti quanti que viram em sua ascensão a oportunidade ideal para dar vazão a suas picaretagens politicamente corretas. Parafraseando uma grande filósofa do lulismo, que ocupa uma das Pastas de seu governo, estão relaxando e gozando.

Vou dar alguns exemplos, que considero os mais ilustrativos:

- Na Universidade de Brasília, dois irmãos gêmeos univitelinos candidatam-se pelo sistema de cotas raciais, que reserva 20% das vagas para estudantes que "comprovarem" ser afro-descendentes (negros e pardos). A comissão examinadora da referida universidade, em sua infinita sapiência, aplica um dispositivo previsto na lei aprovada em 2003 por pressão do "movimento negro" e reserva uma vaga a um dos irmãos, decidindo por decreto que se trata inegavelmente de um negro, enquanto o outro é rejeitado, por ser, segundo a comissão, branco como neve. Agora o detalhe surpreendente: a brancura ou negrura dos gêmeos idênticos foi examinada por foto. Em resumo: ser branco ou negro, no Brasil, deixou de ser uma questão genética ou mesmo racial, passando a depender da iluminação do estúdio fotográfico ou da qualidade da impressão. Mais grave ainda, tal sistema de classificação racial, que está sendo adotado em várias outras instituições oficiais do Estado e que institucionaliza o racismo em nome da reparação de supostas injustiças históricas, em um país de população majoritariamente mestiça, é considerado por seus idealizadores um avanço na luta contra o... racismo. Acredite se quiser.
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- Encontra-se em exame, no Congresso Nacional, um projeto de lei (PLC 122/06), que classifica a homofobia, ou seja, o preconceito ou discriminação contra homossexuais, como crime. Alegam os peticionários que tal dispositivo legal seria uma conquista dos direitos humanos, pois constituiria um poderoso instrumento de proteção de uma parcela da população supostamente marginalizada e alvo freqüente, segundo dizem, de atentados e violências de toda espécie. O problema é que, de acordo com o referido projeto de lei, passa a ser ilegal, por exemplo, um padre ou pastor protestante citar a Bíblia para falar mal da opção sexual de alguns, ou mesmo alguém fazer piadas e brincadeiras sobre o assunto. Quem ousar referir-se, de maneira pejorativa ou brincalhona, aos trejeitos afeminados do colega gay ou expressar seu ponto-de-vista contrário a que dois homens ou duas mulheres partilhem a mesma cama, poderá ter a oportunidade de fazê-lo na cadeia, no xilindró. Trocando em miúdos: quase ninguém, ao que parece, percebeu que tal projeto de lei, a pretexto de defender os direitos de uma minoria - gays, lésbicas, travestis, transsexuais etc. -, coibe na prática o direito da maioria de dizer o que pensa ou de praticar livremente sua religião, obrigando todos a assumir uma postura reverente ou a calar-se diante do gosto sexual dessa minoria. Desse modo, assim como no caso das cotas raciais, estabelece-se uma estranha distinção entre duas categorias de cidadãos: os heterossexuais, tidos a priori como tacanhos e preconceituosos, e os homossexuais, titulares de um direito exclusivo e acima do resto da humanidade. Um passo rumo a uma nova forma de governo: a homocracia ou pederocracia.

- A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça acaba de conceder ao falecido ex-capitão do Exército Carlos Lamarca a patente de coronel. Com isso, sua viúva passa a ter direito de receber pensão equivalente a de general e seus filhos, que, por força da opção revolucionária do pai, tiveram de sair do país, vão receber uma indenização do Estado no valor de R$ 100 mil, o que comprova a afirmação de Millôr Fernandes, de que os terroristas (ou guerrilheiros, como prefere a esquerda) estavam, na verdade, investindo em seu patrimônio. Lamarca desertou do quartel em que servia em 1969, levando armas e munição, para se juntar à luta armada contra o regime militar. Praticou assaltos e seqüestros, tendo sido responsável pelo assassinato de vigilantes de banco e de seguranças de embaixadores estrangeiros, além de ter ordenado a execução, a coronhadas, de um tenente da Polícia Militar que se encontrava dominado e amarrado, em 1970. Lamarca foi morto em 1971, no sertão da Bahia, pelas forças de segurança da ditadura. Em 1996, sua família recebeu uma indenização do Estado, que concluiu que ele foi executado, sem chance de defesa. Lamarca foi vítima da ditadura. Mas, ao abandonar o Exército, tornou-se um desertor e, como tal, não poderia ter direito a promoção póstuma, o que constitui, inegavelmente, uma afronta às Forças Armadas. Nem tampouco ser enaltecido como um lutador pela liberdade e democracia, já que seu objetivo era instalar, em terras brasileiras, uma ditadura comunista, nos moldes da vigente em Cuba. Onde, aliás, os dissidentes não têm qualquer direito, mesmo póstumo.

- Em outubro de 2005, realizou-se um referendo para decidir sobre o desarmamento da população. Na propaganda a favor da iniciativa, que partiu de ONGs e movimentos "pela paz", alegava-se que a medida - a proibição, pura e simples, da compra e venda de armas - teria como resultado a diminuição dos assustadores índices de violência no País. Esqueceu-se de dizer, porém, que tal medida já é adotada em países como a Jamaica, que tem um nível altíssimo de criminalidade e mortes por armas de fogo, enquanto a Suiça, por exemplo, convive com uma legislação que dá ao cidadão o direito de dormir com um fuzil do exército debaixo da cama, sem que haja, por causa disso, assassinatos em escala industrial. Mais que isso: países como os EUA, em geral mencionados como exemplos de falta de controle estatal sobre a circulação de armas, possuem um nível de assassinatos muito inferior ao do Brasil, com todas as restrições legais à posse e porte legal de arma. Esqueceu-se, aliás, que a legislação brasileira sobre armas, principalmente após a aprovação do Estatuto do Desarmamento, em 2003, é uma das mais restritivas do mundo para o cidadão comum que quiser adquirir um revólver calibre 38, mas não chega a impedir o comércio clandestino de armamento de guerra para os bandidos. Enfim, tentou-se vender a idéia de que o crime é resultado da própria existência de armas de fogo, como se estas disparassem sozinhas. Pelo mesmo critério, dever-se-ia proibir as cozinheiras de usarem facas ou os barbeiros de portarem navalhas.

A maioria da população, cerca de 64% dos votantes, rejeitou a proposta de desarmamento, mais por medo da bandidagem do que pela defesa da liberdade de escolha. Mas se tal medida fosse aplicada, teríamos hoje uma população ainda mais amedrontada diante da impossibilidade legal de escolher defender-se ou não diante da criminalidade bem-armada. Esta, provavelmente, torceu para que o "sim" vencesse no tal referendo.

Ilustrativos como são, esses são apenas alguns exemplos do festival de bobagens que vem tomando conta do Brasil desde que o lulismo chegou ao poder. Outros exemplos virão. Perto da avalanche de estultices produzida diariamente pelos lulistas, o Febeapá de Sérgio Porto chega a ser uma coletânea ingênua de bobagens inofensivas. É triste constatar, mas, sob a égide do lulismo, o Brasil ficou mais burro. Pelo andar da carruagem, estamos caminhando a passos largos para virarmos uma idiocracia.

terça-feira, junho 12, 2007

O TRAMBIQUE DO SÉCULO

Se houvesse um concurso para escolher o maior trambiqueiro dos últimos cem anos, o maior vigarista, o maior farsante, o maior 171 da parada, eu não hesitaria na minha escolha. Não, o troféu mundial de picaretagem não iria para Lula (embora o Grande Molusco seja forte candidato a um prêmio nacional na categoria). Também não iria para Bush, como certamente sugeriria algum engraçadinho, para quem os EUA são sempre o lado mal da humanidade, ainda que do outro lado esteja o Irã ou a Coréia do Norte. Nem mesmo o Hugo Chávez, esse cover falsificado de Simón Bolívar, versão tropical e ainda mais acanalhada de Mussolini. Todos esses, perto de quem eu escolheria, são café pequeno.

Meu indicado para o prêmio de maior mentiroso dos últimos tempos tem 80 anos e está à beira da morte. Seu nome: Fidel Castro. A maior mentira de todas: a Revolução Cubana.

Provavelmente alguém vai achar que é cisma ou fixação de minha parte. Pudera. Não há palavras nem blogs suficientes para fazer frente ao volume e à magnitude de falsidades, invenciones e mistificações produzidas pelo regime do ditador cubano e por seus inúmeros admiradores e simpatizantes (a última delas é a discurseira demagógica e oportunista contra o etanol). Praticamente não há um único aspecto da ditadura caribenha que não seja falso, que não traga a marca da propaganda e da manipulação.
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De tão repetidos, os clichês sobre a tirania cubana assumiram ares de verdades reveladas e irrefutáveis. Até mesmo seus inimigos, vez ou outra, acabam repetindo, mecanicamente e sem se darem conta, velhos chavões do regime. Estamos diante de uma situação em que, tal como na famosa frase do Dr. Goebbels, uma mentira, de tão repetida, acaba passando por verdade. Aqui, uma mentira acaba gerando outra, que gera outra, que gera outra, e assim indefinidamente. Fidel deixou Goebbels no chinelo. Perto dele, o Ministro da Propaganda nazista era um aprendiz.

Acham que é exagero? Que é tudo intriga da CIA e do Pentágono? Propaganda imperialista? Então façamos um exercício simples. Comparemos a versão divulgada pelo regime castrista e seus defensores com os fatos:
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O MITOAntes de 1959, Cuba era um país pobre e atrasado, uma colônia dos EUA e um verdadeiro bordel dos ianques, governado por um ditador apoiado incondicionalmente pela Casa Branca. Sua população era composta, na maioria, de camponeses miseráveis, desnutridos e analfabetos. Foi a insatisfação com a situação social do país que levou à revolução.
OS FATOS – Antes da subida de Fidel Castro ao poder, a desigualdade social em Cuba era grande, mas a situação da economia cubana, em comparação com a de outros países latino-americanos, estava longe de ser má. Embora estatísticas possam ser enganosas – e aí está o regime cubano para demonstrar isso –, creio ser importante citar alguns números. Segundo Carlos Alberto Montaner, que cita estatísticas da ONU, Cuba vivia, nos anos 50, um período de bonança econômica, com níveis de prosperidade semelhantes, à época, aos da Itália. A ilha estava classificada como a terceira nação mais desenvolvida da América Latina, atrás apenas da Argentina e do Uruguai. No plano mundial, o país estava em 25o lugar, tanto nos aspectos puramente econômicos, como nos sociais (níveis de alfabetização, escolaridade, alimentação, consumo de eletricidade, cimento, periódicos etc.), possuía uma imprensa ágil e dinâmica e tinha o maior número de aparelhos de TV per capita de todo o continente latino-americano (Viaje al Corazón de Cuba, Barcelona: Plaza & Janés, 1999, pp. 59-60). Até mesmo autores simpáticos ao regime de Fidel Castro, como Hugh Thomas, observam que Cuba tinha a terceira renda per capita da América Latina, abaixo apenas da Argentina e da Venezuela (Cuba: La Lucha por la Libertad, Madrid: Debate, 2004, pp. 880-883).

Cuba não era, definitivamente, um país pobre. Era, aliás, mais rica do que a Espanha, sua antiga metrópole. Embora seus números destoem um pouco dos apresentados por Hugh Thomas, Richard Gott apresenta dados que põem uma pá de cal na tese da ilha pobre e atrasada: segundo ele, o país detinha a segunda renda per capita da América Latina, inferior apenas à da Venezuela; era, também, um dos cinco países mais desenvolvidos da região em uma série de indicadores sociais (urbanização, alfabetização, mortalidade infantil, expectativa de vida). Os índices de saúde – uma conquista da revolução, segundo o discurso oficial castrista – estavam entre os mais positivos das Américas, pouco abaixo dos EUA e Canadá, e o país ocupava o 11o lugar no mundo todo na relação médico-pessoa (terceiro na América Latina, atrás apenas de Uruguai e Argentina) (Cuba: Uma Nova História, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006, p. 191). Cuba era mais urbana que rural, com níveis de alfabetização e saúde bem superiores aos de seus vizinhos latino-americanos, como atestam vários outros autores, como Theodore Draper (A Revolução de Fidel Castro: Mitos e Verdades, Rio de Janeiro: GRD, 1962) e Antônio Rangel Bandeira (Sombras do Paraíso: A Crise da Revolução Cubana, Rio de Janeiro: Record, 1994) – este último, um esquerdista desiludido com a monumental farsa castrista. Não era o paraíso, mas estava longe de ser o inferno de penúria e opressão que é hoje.
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O tamanho da fraude perpetrada em Cuba pode ser medido pelo seguinte fato: longe de ser motivado pela pobreza do país ou pela miséria dos camponeses, o movimento liderado por Fidel Castro tinha por objetivos básicos a queda da ditadura de Batista, a realização de eleições livres e a restauração da Constituição democrática de 1940 (foi o cancelamento das eleições, aliás, que motivou o ataque ao quartel de Moncada, em 1953, a primeira ação revolucionária castrista). Batista caiu, apenas para ser substituído por uma ditadura mil vezes pior, de caráter totalitário. Quanto às eleições livres e à democracia, até hoje os cubanos as desconhecem por completo. Sem falar que, nos quesitos pobreza e desenvolvimento, estão hoje em situação muitíssimo pior do que há cinqüenta anos.
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Com relação à influência dos EUA na ilha, a importância das empresas norte-americanas na economia de Cuba estava em franco declínio. Segundo dados compilados por Jorge I. Domínguez, 36,7% da produção de açúcar em Cuba saía de usinas pertencentes a norte-americanos em 1958, contra 62,5% em 1927. Quanto ao total dos investimentos privados diretos dos EUA em Cuba, quase não houvera crescimento: de US$ 919 milhões em 1929, passara para US$ 533 milhões em 1946 e US$ 1,001 bilhão em 1958. (Jorge I. Domínguez, To Make a World Safe for Revolution: Cuba’s Foreign Policy, Cambridge: Harvard University Press, 1985, pp. 9-10). Como qualquer outra metrópole turística e cosmopolita, Havana tinha um número elevado de prostitutas, situação que de forma alguma se estendia a toda a ilha, que não poderia ser classificada de modo algum como um "bordel" dos EUA. Mas se é de prostituição que se fala, a Cuba de hoje, com seus milhares de jineteras se vendendo ao primeiro turista estrangeiro por uma lata de leite em pó ou uma calça jeans, não deixa nada a desejar ao mito criado em torno da realidade da ilha antes de Fidel.

Sobre o tão alardeado apoio dos EUA a Batista, lembremos apenas dois fatos: a) praticamente toda a opinião pública norte-americana, e o próprio governo Eisenhower, eram favoráveis a Fidel Castro antes da queda de Batista. Aliás, foi o New York Times, com a famosa entrevista de Fidel a Herbert Mathews, em fevereiro de 1957, a principal tribuna dos revolucionários nos EUA (ver, a propósito, o livro de Anthony DePalma, O Homem que Inventou Fidel: Cuba, Fidel e Herbert L. Mathews do New York Times, São Paulo: Companhia das Letras, 2006); b) em pleno auge da luta contra Batista, em abril de 1958, os EUA cancelaram o envio de armamento ao governo cubano, retirando, assim, o apoio militar à ditadura. Os norte-americanos não viam a hora de se livrarem de Batista, e enxergavam em Fidel e em seu Movimento 26 de Julho (M-26-7) uma alternativa "democrática" e "anticomunista" (como o barbudo fazia questão de se apresentar então). Que belo "apoio incondicional" este, heim?
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O MITOInsurgindo-se contra a situação do país, um punhado de jovens idealistas, dispostos a pôr fim à tirania e às gritantes injustiças sociais, desembarcou na costa oriental da ilha e depois se embrenhou na mata. Este pequeno grupo logo conquistou o apoio do povo e botou o ditador para correr, tendo conseguido derrotar, com seus parcos recursos, um Exército fortemente armado e treinado, provando ser possível fazer uma revolução mediante a guerra de guerrilhas.
OS FATOS – Aqui não é preciso dizer muito. A idéia da revolução "surgida do nada, do zero", graças à ação heróica de um punhado de guerrilheiros - sintetizada em livros como o de Che Guevara, Guerra de Guerrilhas (1960) e de Régis Debray, Revolução na Revolução? (1967) -, conhecida como teoria do "foco" ou foquismo, que fez a cabeça de muita gente na esquerda radical nos anos 60, já foi totalmente desmentida pelos fatos e, hoje em dia, só meia dúzia de malucos a defendem. Mesmo assim, a influência dessa teoria continua a se fazer sentir, na forma da versão oficial da Revolução Cubana brandida por Fidel Castro e seus asseclas para justificar o regime. À parte as falsificações factuais óbvias (por exemplo, a lenda divulgada por Fidel de que a guerra civil teria custado 20 mil vidas em Cuba, quando não chegou nem perto disso), o mito foquista teve por objetivo desviar a atenção da existência de uma importante rede revolucionária nas cidades, representada por grupos como o Diretório Revolucionário e outros, de modo a atribuir todas as glórias pela vitória da revolução aos guerrilheiros de Sierra Maestra e a seu líder, Fidel Castro (ver Julia Sweig, Inside the Revolution: Fidel Castro and the Urban Underground, Cambridge: Harvard University Press, 2002). Não é difícil perceber como essa estória da carochinha caiu como uma luva para Fidel e seus companheiros, servindo para afastar os representantes das outras tendências e concentrar todo o poder em suas mãos.
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Para que não paire qualquer dúvida sobre esse ponto, vou transcrever aqui as palavras de um ex-militante da luta armada brasileiro, que viveu vários anos em Cuba. A citação é longa, mas vale a pena:

"Fidel não tomou o poder com um punhado de combatentes, havia um descontentamento geral de todos os setores da população cubana contra o corrupto e opressor Fulgencio Batista, militar de baixa patente e origem humilde. Grupos de estudantes lutavam nas cidades; nas montanhas proliferavam pequenos destacamentos de combatentes rebelados que, espontaneamente e sem linha política ou estratégia, já lutavam de armas na mão. Os desmandos de Batista eram tais que até os Estados Unidos apoiavam as lutas contra a ditadura. Não por grandes interesses econômicos ou humanitários, mas porque os milionários americanos queriam um mínimo de tranqüilidade para gastar seus dólares e jogar em paz.
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Quando os barbudos desembarcaram e instalaram-se na Sierra Maestra, adicionaram o tempero que faltava ao caldeirão político que era a Cuba dos anos 50: um foco de convergência e aglutinação de forças. Excelente político, Fidel soube escolher as alianças e o momento de esconder-se e de atacar. A descida das montanhas e invasão do llano, encontrou um poder em decomposição, os combates acabavam com a rendição em massa dos desmoralizados soldados do tirano. Houve escaramuças em vários pontos da ilha, mas quando nos deparamos com as baixas e destruição causadas, verificamos que não houve uma guerra civil em Cuba, a guerrilha desempenhou um papel evidentemente político, dentro de um cenário pré-insurrecional. Com a fuga de Batista, num avião cheio de dinheiro roubado, o exército guerrilheiro finalmente desempenhou função militar preponderante, pois era a única força armada e organizada em Cuba, o contingente oficial desertara ou aderira. [...].
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Muitas ilusões foram estimuladas em nossa juventude pelo mito do punhado de barbudos que, graças ao domínio das táticas guerrilheiras e à vontade inquebrantável de seus líderes, tomou o poder numa ilha localizada a noventa milhas náuticas de Miami.
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Balelas, falsificações... não por má-fé pura e simples, mas por aplicação do princípio maquiavélico de que os fins justificam os meios, o poder socialista instituiu a censura, impediu a livre circulação de idéias e impôs a versão oficial. Os textos encontrados sobre a Revolução Cubana são meros panfletos de propaganda ou relatos fatuais, carentes de honestidade e aprofundamento teórico; temos de completá-los com informações orais coletadas aqui e ali por nossos companheiros que, estabelecidos há mais tempo em Havana, travaram relações com pessoas que não pertencem à S2 [o serviço secreto militar cubano]". (Carlos Eugênio Paz, Nas Trilhas da ALN, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997, pp. 178-9).
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O MITOUma vez conquistado o poder, o líder dos revolucionários, motivado pelo desejo de realizar o Bem Comum e alcançar a verdadeira independência do país, começou a implementar algumas reformas sociais (agrária, habitacional, educacional etc.) que atraíram o ódio e a desconfiança dos setores reacionários da sociedade e, em especial, dos EUA, que logo passaram a boicotar seu governo, impondo sanções que visaram a sufocar a economia da ilha. Como resultado da política de pressões e de agressão imperialista dos EUA contra a pequena e indefesa Cuba, não restou outra saída a Fidel Castro senão aliar-se à URSS, aceitando a oferta de ajuda econômica e militar que esta lhe ofereceu, e declarando-se, por fim, um marxista-leninista "até a morte".
OS FATOS – Esta é, certamente, a mãe de todas as mentiras castristas. Muito antes que os EUA começassem a pensar em derrubar Fidel Castro do poder e que a CIA planejasse qualquer atentado contra ele, o dirigente cubano dava mostras de sua intenção de romper com Washington. Hugh Thomas lembra que, durante visita à Venezuela, em 22 de janeiro de 1959, ele teria tido uma conversa "algo estranha" com o Presidente venezuelano Rómulo Betancourt (mais tarde, um de seus mais ferrenhos adversários na América Latina), na qual Fidel disse que estava pensando em "desafiar os gringos" e pediu a ajuda do governo venezuelano para tanto, na forma de 300 milhões de dólares e petróleo. (2004, p. 871). Nas palavras de Richard Gott: "Logo no primeiro dia, o líder revolucionário desafiou os Estados Unidos" (2006, p. 190). Embora a política posterior dos EUA reforçasse as posições de Fidel Castro - e dificilmente seria diferente, visto que ele enganou a todos, inclusive a Casa Branca - a iniciativa da aliança Cuba-URSS partiu de Havana, não de Washington ou de Moscou.
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O próprio ditador cubano, em entrevista ao jornalista brasileiro Roberto D´Ávila, em 1985, reconheceu que não foi a política norte-americana que levou Cuba para o lado do bloco soviético: "Não vou jogar a culpa nos norte-americanos pelo socialismo em Cuba. O socialismo em Cuba é produto de nosso povo, da nossa revolução, das nossas idéias. Os Estados Unidos criaram obstáculos, dificultaram a construção da nossa sociedade. Mas eles não são culpados de que haja socialismo em Cuba, do contrário, deveríamos agradecer-lhes" (Roberto D’Ávila, Fidel em Pessoa, Porto Alegre: L&PM, 1986, p. 62). Sem querer, ele põs por terra um dos mitos mais fortes sobre a Revolução Cubana. O peixe morre pela boca.
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Outra prova contundente de que a ruptura com a Casa Branca não deveu nada à política dos EUA data de antes da tomada do poder. Em carta à sua secretária pessoal, Celia Sánchez, em 5 de junho de 1958, quando ainda estava em Sierra Maestra, Fidel Castro escreveu: "Quando esta guerra acabar, vou começar uma guerra muito mais longa e maior [contra os EUA]. Acredito que este será meu verdadeiro destino" (Citado em Ignacio Ramonet, Fidel Castro: Biografia a Duas Vozes, São Paulo: Boitempo Editorial, 2006, p. 528).
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Ainda hoje, há quem acredite que Cuba se voltou para o marxismo-leninismo e para a URSS porque os EUA teriam se recusado a auxiliar o país economicamente, ou porque essa ajuda teria sido oferecida em termos inaceitáveis. Esta versão é enterrada por Jorge I. Domínguez, que lembra que, durante sua visita a Washington, em abril de 1959, Fidel Castro rejeitou uma oferta de ajuda econômica do Governo Eisenhower. Na verdade, os EUA desejavam ajudar Cuba; os termos da ajuda econômica nunca foram discutidos porque o Governo cubano impediu que isso acontecesse. (1985, p. 18)
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O que pretendia Fidel ao se aliar à URSS? Apenas uma coisa: poder. Na verdade, é somente por esse prisma que se pode compreender sua "conversão" ao comunismo. Ele sabia que, para garantir sua posição incerta após a queda de Batista, precisava de um aliado poderoso, tanto interna quanto externamente. Esse aliado era, do ponto de vista interno, o Partido Comunista Cubano – que até então desconfiava dele, Fidel Castro, considerando-o um aventureiro, e que já fizera parte, inclusive, do primeiro governo Batista, nos anos 40 – e, externamente, a URSS. Desse modo, ele conseguiu alijar os demais setores da revolução, inclusive muitos companheiros de armas, como Huber Matos, que protestaram contra essa guinada comunista, tendo pago por essa ousadia com longas penas de prisão ou no paredón. Em outras palavras, Fidel Castro prometeu uma revolução e fez outra. Um enorme conto-do-vigário.
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O MITOCuba tornou-se um exemplo de resistência ao imperialismo e de dignidade, conseguindo edificar um eficiente sistema de saúde e de educação, de fazer inveja mesmo a muitos países do Primeiro Mundo. Desde então, o país tem buscado sobreviver, tendo seu desenvolvimento impedido pelo criminoso e genocida bloqueio imposto pelos EUA há mais de quarenta anos.
OS FATOS – Finalmente, a mentira derradeira: tendo transformado Cuba numa ditadura totalitária comunista e num porta-aviões soviético nas Américas, Fidel Castro implementou um gigantesco projeto de reengenharia social, bancado com gordos subsídios do Kremlin. Este projeto incluiu uma tentativa desastrosa de industrialização forçada no começo dos anos 60, a total subordinação da economia cubana à URSS e milhares de presos políticos, inclusive homossexuais, enviados aos magotes para campos de trabalhos forçados para "reeducação". Em alguns setores, como a saúde e a educação, os milhões investidos pelo defunto bloco socialista geraram uma ilusão de progresso (como se pode falar de educação de qualidade, por exemplo, se não se pode ler o que se quer?). Com o colapso da URSS em 1991, o sistema ruiu, e não sobrou ninguém para culpar pelo desastre. A solução? Blame America, culpe os EUA, claro. Mais especificamente: culpe o "bloqueio" econômico a Cuba, que já dura mais de quarenta anos, pelo descalabro gerado pela falência do modelo comunista. Mesmo que o tal "bloqueio" (na verdade, um embargo) não exista, pois a ilha tem relações comerciais normais com 173 países, e mesmo que o comunismo tenha ruído no Leste Europeu sem a necessidade de nenhum bloqueio, real ou imaginário.

Na realidade, é irônico que Fidel Castro culpe o "bloqueio" dos EUA pela situação de penúria da ilha, gerada única e simplesmente pela incapacidade do regime, desejando, com isso, restabelecer as relações comerciais normais com Tio Sam. Afinal, não foi justamente para romper esses laços de "dependência" com os EUA que o ditador cubano se voltou para a URSS? Pelo visto, Fidel virou um adepto do livre comércio e da economia de mercado, descobrindo, enfim, as vantagens do imperialismo ianque.
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Em suma, esta é a realidade que o regime de Havana se esforça em esconder: antes de 1959, Cuba era um país próspero com ricos e pobres, dominado por uma ditadura. Hoje, é um país depauperado, onde todos – com exceção de Fidel e seus sequazes – são muito pobres, e dominado por uma ditadura totalitária. Um grande avanço, sem dúvida...
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Claro que sempre haverá quem negue credibilidade aos fatos acima citados, ao mesmo tempo em que se recusa a refutá-los, afirmando que é tudo propaganda, meras análises subjetivas, estertores de exilados ressentidos contra o glorioso regime socialista de Fidel e companhia etc. Nesse caso, os advogados do totalitarismo castrista deverão concordar que todos os escritos de exilados políticos, como foi um dia o próprio José Martí, não devem ser levados a sério. Deverão concordar, ainda, que nenhum dos inumeráveis panegíricos escritos em louvor à ditadura castrista deve ser também levado a sério, pois estes trazem, também, a marca da subjetividade. Enquanto não o fizerem, não terão o direito de proclamarem-se os donos da verdade sobre este ou qualquer assunto.

Certa vez, George Orwell disse que escrevia porque havia uma mentira a ser denunciada. É por isso que perco tanto tempo escrevendo sobre Cuba e Fidel Castro.

segunda-feira, junho 11, 2007

O GANDHI DE GARANHUNS


Em viagem à Índia, país que certamente acreditava ser habitado por índios, o Presidente Luiz Inácio, ao deixar flores no mausoléu do principal líder da independência do país, o Mahatma Gandhi, novamente surpreendeu a todos. Perante os jornalistas, fez a seguinte declaração assombrosa: depois de ter lido um livro sobre Gandhi, adotou-o como a grande inspiração de sua vida política.

Imediatamente uma questão veio à mente deste que escreve estas linhas: que livro - sim, Lula confessou ter lido um livro! - nosso Grande Molusco leu sobre o Mahatma? Teria sido a biografia escrita por Arthur Koestler, na qual ele desnuda por completo o mito criado em torno do asceta indiano, que tinha por hábito, entre outras coisas, maltratar a esposa e dormir com suas sobrinhas adolescentes para "resistir à tentação" (na qual ele sempre caía)? Nesse caso, em que aspecto exatamente da vida do Mahatma nosso líder se inspirou mais: nas greves de fome - coisa de que Lula está muito distante de ser um adepto, haja vista sua silhueta -, ou na mania de exigir que todos usassem roupas de linho, mais caras do que os ternos bem cortados que costuma usar?

"Nada disso, seu elitista preconceituoso", certamente diria algum defensor ferrenho de nosso Presidente, que sempre os haverá em grande número, assim como as baratas. O que fez com que Lula dissesse ter em Gandhi uma fonte de inspiração política e intelectual é algo muito mais etéreo e imaterial, algo muito mais, digamos, simbólico do que real.
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Gandhi é quase universalmente louvado como um símbolo da paz, causa a que todos dizem aspirar e da qual Lula, com seus fomes zero e bolsas família, considera-se um paladino. Aliás, ele já teve seu nome indicado pelos companheiros petistas, há alguns anos, para disputar o Prêmio Nobel da Paz. Além disso, a inspiração gandhiana serviria para contrabalançar a admiração - esta sim, muito mais concreta e palpável - de Lula e seus companheiros por figuras não muito pacifistas, como Fidel Castro e Hugo Chávez, aquele que insultou o Congresso brasileiro, que Lula com tanto carinho comprou.
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É preciso reconhecer: Gandhi e Lula formariam um par perfeito. O líder indiano, cuja imagem é tão famosa quanto desconhecidas são suas idéias, seria um parceiro ideal para nosso santo homem, o Gandhi de Garanhuns, com seu discurso messiânico e abilolado. Como a imagem vale mais do que mil palavras - e, no caso de Lula e dos lulistas, palavras não valem muito mesmo -, a associação entre os dois tem fortes raízes na mentalidade popular, o que significa mentalidade mágica, pré-racional, com um toque de religiosidade mística. Lula e Gandhi são, para milhões de pessoas no Brasil e no mundo, o Gordo e o Magro das utopias.
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A imagem de Gandhi - ascética, as canelas finas de anacoreta -, tal qual um Antônio Conselheiro subnutrido, é um dos ícones mais fortes do Século XX. Com sua barba e linguajar de peão, suas metáforas futebolísiticas e culto da ignorância, Lula simboliza, para as elites instruídas, o Brasil real, o outro Brasil, do qual sempre mantiveram distância e com o qual, em suas consciências pesadas de filhos e netos da burguesia, gostariam de se redimir. Em nome desse mito cuidadosamente construído em décadas, estão dispostos mesmo a esquecer ou a fazer vista grossa para alguns deslizes, como o Mensalão e o Valerioduto, nos quais Lula, certamente, estava também sob inspiração divina - nesse caso, de S. Francisco de Assis, aquele do "é dando que se recebe".
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Para quem já se comparou a Tiradentes e a Jesus Cristo, dizer que se inspira em Gandhi é café pequeno. O poder realmente faz coisas incríveis na cabeça dos homens. Não duvidem: logo, logo, nosso Apedeuta vai aparecer com a mão no bolso do paletó, o olho vidrado e um chapeuzinho engraçado, imitando Napoleão. Aquele, que invadiu a China.

quarta-feira, junho 06, 2007

O PT E A CENSURA CHAVISTA


É inacreditável. Quando parecia que todo tipo de sandice já tinha sido dito pelos cães de guarda do populismo latino-americano, em sua defesa da decisão tresloucada de Hugo Chávez de fechar a RCTV - inclusive por parte do Apedeuta, que insiste em chamá-lo de "parceiro" e "aliado" -, vem o PT e consegue superar-se, demonstrando ser mesmo ilimitada a capacidade humana para o engano e o auto-engano.

Esses petistas são incríveis. Não contentes com as declarações do Grande Molusco, que só faltou pedir desculpas em nome do Brasil pelas ofensas grosseiras do coronel venezuelano ao Legislativo brasileiro, agora os dirigentes do partido do Presidente da República Federativa do Brasil - sim, não nos esqueçamos disso - publicam uma nota oficial em que justificam esse atentado à liberdade de expressão na Venezuela. Para não me alongar muito, vou direto aos "argumentos" da referida nota petista:

"a) a Venezuela é um país democrático, com um Presidente escolhido pelo voto popular, em eleições livres, disputadas por uma oposição ativa, que recebe apoio de importantes meios de comunicação;

b) a não-renovação da concessão da RCTV seguiu todos os trâmites previstos pela legislação venezuelana;

c) é público e notório que a RCTV envolveu-se abertamente com o golpe fracassado contra o governo Chávez, atitude que em qualquer país do mundo justificaria o questionamento da concessão pública a uma rede de televisão.

Portanto, reiteramos a posição do PT, em defesa da liberdade de expressão em geral, particularmente da liberdade de imprensa, motivo pelo qual nos opomos ao monopólio da comunicação por grandes empresas, que se utilizam de concessões públicas para a defesa dos interesses privados de uma minoria.

Brasília, 4 de junho de 2007.
Secretaria de Relações Internacionais do PT (SRI)"

Analisemos cada ponto exposto acima. Trata-se, cada um deles, de verdadeiras pérolas de vigarice política e indigência mental. Pior: são a demonstração cabal da incapacidade de seus autores de conviverem com o pluralismo político e a liberdade de pensamento.

a) em primeiro lugar, caros senhores, a Venezuela de hoje está muito longe de ser um país democrático. Nesse ponto, os companheiros adotaram como critério de democracia o fato de Chávez ter sido eleito ("escolhido pelo voto popular, em eleições livres, disputadas por uma oposição ativa etc"). Aqui, parece que se esquecem de dois dados fundamentais: 1) o fato de ser eleito não significa que um governo agirá democraticamente, pois o que importa não é tanto como chegou lá, mas como se comporta, uma vez no poder. Basta ver o exemplo de regimes ditatoriais que foram estabelecidos mediante o voto, inclusive por meio de referendos e consultas populares (um certo Adolf conseguiu tomar o poder na Alemanha assim, há uns setenta anos), e 2) as eleições na Venezuela, desde que Chávez chegou ao poder, têm-se transformado numa verdadeira farsa, um jogo de cartas marcadas, com intimidações aos opositores do chavismo e pesadas acusações de fraude, reforçadas pelo controle na prática do governo sobre o órgão encarregado de organizar as eleições. Assim, a afirmação da nota só pode ser o resultado de má-fé ou ignorância do que ocorre naquele país vizinho - no caso dos petistas, é bem provável que seja as duas coisas.

b) dizer que o fim da concessão é um ato legal não retira dele seu caráter autoritário. Novamente, basta lembrar aqui que a legislação venezuelana está inteiramente a serviço do chavismo. Teoricamente, as concessões de rádio e TV pertencem ao Estado, que pode, sob determinadas circunstâncias, cancelá-las a qualquer momento. Isso não significa que um governo - um governo, não o Estado - possa fechar canais a seu bel-prazer, apenas por não gostar das críticas que estes lhe dirigem. No caso da Venezuela, há muito se apagou a linha que separa o governo, um ente necessariamente provisório num regime democrático, do Estado, uma instituição permanente, acima e além de partidos ou lideranças carismáticas. Mais uma prova de que o país está descambando para a ditadura.

c) é público e notório que o que houve em abril de 2002 - golpe, renúncia, contra-golpe, não se sabe - ainda está para ser explicado. Ainda assim, mesmo que se considere que a RCTV foi uma das promotoras do "golpe" mal-sucedido, é preciso prestar atenção a dois pontos: 1) se a emissora foi fechada porque, como Chávez diz, era "golpista", então por que outra emissora que igualmente se envolveu nos acontecimentos, a Venevisión do empresário Gustavo Cisneros, não se tornou até agora alvo da fúria chavista? Será que é porque a Venevisión, ao contrário da RCTV, fez um acordo com Chávez para garantir que o governo não tomará sua concessão, em troca de um abrandamento das críticas à tal "revolução bolivariana"?, e 2) se ter apoiado um golpe - se for este mesmo o caso da RCTV - é razão suficiente para fechar retroativamente uma emissora de TV, então a primeira tarefa de Tancredo Neves, ao ser eleito para a presidência da República em 1985, deveria ter sido fechar todos os canais de TV e jornais que haviam apoiado o golpe de 64 no Brasil, já que 99,9% da imprensa brasileira da época apoiou ativamente a derrubada do governo João Goulart. Em qualquer país do mundo, isso seria uma ação revanchista e autoritária, típica de quem está se lixando para a democracia.

A nota do PT revela claramente a vocação antidemocrática do partido do Presidente da República. Mais que isso, desnuda toda sua desfaçatez, quando afirma defender "a liberdade de expressão em geral, particularmente a liberdade de imprensa", e falar em nome de uma pretensa maioria - maioria que, no caso da Venezuela, nada menos que 80% da população, tomou as ruas de Caracas em protesto contra essa ação descabida de um candidato a ditador -, contra o "monopólio da comunicação das grandes empresas, que se utilizam de concessões públicas para defender o interesse privado de minorias". Quem diz isso é o mesmo partido do mesmo governo que já tentou ressuscitar a censura, na forma de uma agência reguladora para calar a imprensa, e que agora se dedica a cooptar jornalistas para sua rede estatal de TV. É o mesmo partido do mesmo governo que, após ter-se arvorado para si o monopólio da ética e da virtude, tentou aparelhar o Estado, sonhando instituir seu monopólio do poder.
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Os petistas já deram provas de seu compromisso com a honestidade e a democracia, ao meter os pés pelas mãos em Valeriodutos e Mensalões. Agora se prestam ao lamentável papel de porta-vozes de um governo que deseja instituir o monopólio estatal dos meios de comunicação, ao mesmo tempo em que proclamam sua devoção à liberdade de imprensa. É muita cara-de-pau.

segunda-feira, junho 04, 2007

O PAPAGAIO DE CHÁVEZ


Se havia alguma dúvida de que o atual governo brasileiro anda a reboque de Hugo Chávez, agindo como o advogado e porta-voz de suas investidas antidemocráticas, os acontecimentos dos últimos dias a enterraram para sempre. Nunca ficou tão claro o perigo que o aprendiz de tirano de Caracas representa para a estabilidade e a democracia na América Latina. Também nunca ficou tão evidente que o governo Lula insiste em negar a realidade, fechando-se numa concha de omissão e cumplicidade.

Recapitulemos. A última crise deflagrada pelo bufão caraquenho começou quando este, ao reagir a uma moção do Congresso brasileiro contrária ao fechamento da RCTV, chamou os parlamentares brasileiros de "papagaios" do Congresso norte-americano. Atingidos em seus brios nacionalistas, os deputados e senadores reagiram com discursos inflamados e indignados a essa insinuação de que seriam interlocutores do Tio Sam (curiosa indignação: se os senhores parlamentares fossem acusados de servirem de papagaios de Chávez e de Fidel Castro, como de fato agem alguns deputados e senadores de esquerda, será que reagiriam da mesma forma? Mas deixemos isso de lado, por enquanto). Foi um deus-nos-acuda. Aparentemente, o Congresso brasileiro, em geral mergulhado numa rotina de CPIs, mensalões e renans calheiros, acordou, com nove anos de atraso, para o que ocorre na vizinha Venezuela.

Como sempre indiferente, nosso mandatário supremo, em visita à Inglaterra, limitou-se a declarar que chamaria o Embaixador venezuelano para bater um papo quando voltasse ao Brasil (quando, espera, todos tenham-se esquecido do episódio). Fiel a seu estilo, porém, o Grande Molusco não deixou passar batida sua opinião pessoal sobre o caudilho bolivariano. Eis o que ele disse, em entrevista à BBC:

"Chávez tem sido um parceiro do Brasil (...) Eu não acredito que Chávez represente um perigo para a América Latina."

A fala de Lula é exemplar em sua tentativa de tapar o sol com a peneira. Chávez não é parceiro do Brasil. É parceiro de Lula. Ambos têm atuado de forma conjunta, por afinidade pessoal e ideológica, inclusive contra os interesses nacionais brasileiros. O companheiro Chávez, por exemplo, já disse que os soldados brasileiros no Haiti fazem o serviço sujo dos "imperialistas ianques" e se opõe à presença do Brasil naquele país - um dos trampolins, acredita o Itamaraty, para uma vaga no Conselho de Segurança das Nações Unidas, verdadeira obsessão da diplomacia brasileira. Chávez também foi, como somente Lula parece não saber, o grande mentor da nacionalização das refinarias brasileiras na Bolívia. Inclusive, planeja estabelecer uma série de bases militares na fronteira da Bolívia com o Brasil. Sem falar na sua oposição ao programa do etanol, a menina dos olhos do governo brasileiro, pois, segundo ele, este vai "aumentar a fome no mundo". Como se vê, um grande "parceiro" do Brasil, um "muy amigo", sem dúvida...

Prossegue o Grande Molusco:

"Chávez tem suas razões para brigar com os Estados Unidos. E os Estados Unidos têm suas razões para brigar com a Venezuela. O Brasil não tem nenhuma razão para brigar com os Estados Unidos ou a Venezuela."

O Brasil não tem razão para brigar com ninguém. E Chávez não tem razão alguma de chamar quem quer que seja de "papagaio" - ainda mais porque o Congresso venezuelano, como se sabe, é um verdadeiro poleiro de louros que dão o pé sempre que seu dono, Chávez, ordena. Lula não tem razão de querer justificar as insanidades chavistas. O Brasil não tem razão para engolir mais essa patacoada.

"Nós temos que aprender a respeitar a lógica legal de cada país. Eu não dou palpite nas políticas internas de nenhum país".

Lula está-se referindo ao cancelamento da concessão da RCTV por Chávez, um ato autoritário, condenado por dez em cada dez defensores da democracia no continente. Um gesto que não tem nada a ver com qualquer "lógica legal", mas com autoritarismo puro e simples. Para Lula, protestar contra essa medida, que abre o caminho à instauração da ditadura na Venezuela, é "dar palpite" nos assuntos internos de outro país. Não é de surpreender, visto que, para Lula, pedir democracia em países como Cuba é se imiscuir na política interna cubana. Alguém precisa avisá-lo que liberdade de expressão não é assunto interno de nenhum país. É um direito humano fundamental, portanto universal.
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Outra coisa: se Lula está mesmo tão interessado em não "dar palpite" sobre a política de outros países, o que ele estava fazendo pedindo votos para Chávez, em plena campanha eleitoral venezuelana, num comício chavista durante a inauguração de uma ponte (sobre o rio Orinoco, em território venezuelano), no ano passado? Esses lulistas têm uma noção muita estranha do que seja não interferir ("não dar palpite") nos assuntos de outros países. Vai ver o único palpite aceitável, para eles, seja o a favor.

"No Brasil nós fazemos um esforço incomensurável para que a liberdade de imprensa seja exercida em sua plenitude."

Deixando de lado, por ora, as tentativas dos lulistas de calar ("regularizar" é a palavra que usam) os meios de comunicação, inclusive na forma de uma "classificação indicativa" que cheira ao que o chavismo vem fazendo, bem como a expulsão, alguns anos atrás, de um jornalista do The New York Times que escreveu que nosso Presidente é chegado nuns gorós, a afirmação do apedeuta parece querer brincar com a inteligência alheia. Não é o próprio Lula que minimiza o silenciamento da imprensa livre na Venezuela, por não querer "dar palpite" num "assunto interno" de outro país? Então qual a razão dessa sua declaração de amor à liberdade de imprensa? O motivo só pode ser um: para Lula, a liberdade de imprensa no Brasil só existe porque ele quer, porque ele assim determinou. É ele, e não a sociedade, o grande responsável por termos uma imprensa livre. Na cabeça de Lula, a própria democracia é uma invenção lulista. Já que ele não considera que liberdade de expressão é um direito universal, esta é a única explicação possível.
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Tem mais. Na mesma entrevista, Lula negou que a decisão recente do governo de Evo Morales, um discípulo de Chávez, de nacionalizar a indústria de exploração de gás e petróleo, tenha sido tomada por influência de Hugo Chávez. Disse ainda que o Brasil tem "a responsabilidade de ajudar os países mais pobres da América do Sul a se desenvolver." Nisso é preciso concordar com nosso Presidente. Sob sua batuta, o governo brasileiro vem ajudando imensamente alguns governos vizinhos. A começar pelo do falso índio Evo Morales, a quem entregou de presente duas refinarias de petróleo. Sem falar, claro, no Chávez, a quem o Brasil deu um presentão dando-lhe o MERCOSUL como palco de suas papagaiadas antiamericanas.

A frase final de Lula na entrevista é um primor de eloqüência. Ei-la:

"O sonho da América Latina é que todos os países cresçam economicamente, façam distribuição de renda e melhorem a vida do povo. É assim que pensa o presidente Kirchner, é assim que pensa o presidente Chávez, é assim que pensa o presidente Lula."
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Aqui nem é preciso comentário. Para Lula, Chávez quer melhorar a vida do povo venezuelano. Para ele, as misiones são projetos de "promoção e inclusão social", e não de reprodução da pobreza para garantir a clientela chavista. O aumento da inflação e da criminalidade devem ser, nesse sentido, ilusão de ótica ou propaganda imperialista. Creio que não é preciso dizer mais nada. Depois dessa afirmação do Grande Molusco, qualquer coisa que se disser será supérflua.
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É bom repetir: Chávez não é parceiro do Brasil. É parceiro de Lula. Este é, na verdade, um de seus maiores defensores. Um verdadeiro papagaio.