sexta-feira, março 26, 2010

"FODA-SE A CONSTITUIÇÃO!"


Lula fez um discurso no dia 25 em que deixou claro para quem quiser saber qual a idéia que ele tem sobre o que deve ser a imprensa no califado lulista. Afirmou, pela enésima vez, que imprensa boa é a que fala bem dele, Lula. Certamente inspirado pelo exemplo de sua ilha do coração, onde manda e desmanda há mais de cinqüenta anos um par de tiranos decrépitos, e onde a única imprensa existente é a que diz a "coisa certa" (ou seja: a favor do governo), ele, Lula, deitou falação contra um de seus principais inimigos, a liberdade de imprensa.

O Estadão não perdoou. Reproduzo aqui o editorial de hoje, dia 26. Ele menciona um episódio que já citei aqui, envolvendo um jornalista estrangeiro, e que é bastante revelador do apreço que nosso presidente tem pelas leis do País. É mais um texto que deveria ser guardado para ser lido daqui a alguns anos, quando os historiadores se debruçarão sobre essa quadra tenebrosa que estamos atravessando.

Mais uma vez: parabéns ao Estadão!

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Luiz Inácio Lula da Silva não é o primeiro nem será o último chefe de governo, em qualquer instância e de qualquer país democrático, a se queixar da imprensa. Para não ir muito atrás, nem muito longe, o que se falava mal da mídia no Palácio do Planalto do presidente Fernando Henrique e o que se fala no Palácio dos Bandeirantes do ainda governador José Serra, por exemplo, ocupariam páginas inteiras de um periódico. Jornalistas - essa a reclamação recorrente nos palácios de todas as cores - ignoram na maior parte do tempo o que se faz de bom (e o esforço que isso demanda), só destacam o que vai mal (sem se aprofundar nas causas dos problemas) e preferem a fofoca aos fatos relevantes (porque estes dão mais trabalho para apurar).

Há, no entanto, uma diferença - não de grau, mas de natureza - entre os protestos dos que se julgam injustiçados pelos meios de comunicação e os sistemáticos ataques de Lula à imprensa a que acusa, indistintamente, de tratar o seu governo com “má-fé”. Governadores e prefeitos, ministros e secretários podem deplorar a suposta miopia do noticiário, mas reconhecem a carga inerente de tensão no seu relacionamento com o jornalismo que a eles não se subordina. Já o caso de Lula é obsessão. Desde o escândalo do mensalão, em 2005, ele está em campanha para demolir a credibilidade dos órgãos de informação. As suas diatribes, como a de anteontem, durante um evento, são uma mistura de vezo autoritário com ressentimento de classe, agravada pelo descontrole emocional diante da mera expectativa de receber críticas.

No passado, Lula dizia que não teria se tornado o que se tornou, a ponto de disputar a Presidência da República, não fosse a liberdade de imprensa no Brasil. Foi ela quem de fato propeliu o seu nome, cobrindo passo a passo a sua trajetória, fossem quais fossem os julgamentos que pudesse fazer a seu respeito. Isso não mudou, mas o que Lula hoje entende por liberdade de imprensa é uma caricatura grotesca. “É triste”, investiu, “quando as pessoas têm o direito de escrever as coisas certas e escrevem as coisas erradas.” Nas democracias, as pessoas têm o direito de escrever ? ponto. Nas ditaduras, quem diz o que é certo ou errado é o ditador. Para Lula, o certo seria a imprensa dizer que o PAC é uma maravilha. O errado, informar que apenas 11% de suas obras foram concluídas e 54% não saíram do papel.

Certo também seria a imprensa olhar para o outro lado enquanto ele promove, com assombroso despudor, a candidatura Dilma Rousseff. Na mesma ocasião em que vociferou contra a mídia, deu a deixa para a platéia gritar o nome da ministra, ao afirmar: “Eu não posso dizer quem vai ser (o sucessor), eu não posso dizer, porque, porque? vamos aguardar.” Errado é noticiar que Dilma inaugura obras que não estão concluídas. Lula afirma que a imprensa tem predileção pela desgraça “para dizer: “viu, o menino não era letrado, o menino nasceu para ser torneiro mecânico. A partir daí já é abuso”". Ele jamais se cansará de fazer praça de suas origens ? menos por justo orgulho do que para insuflar o eleitorado pobre. Mas nunca pôs a sua formidável popularidade a serviço da educação, dizendo algo como “se sou o que sou sem ter estudado, imaginem o que eu seria se tivesse”.

Os historiadores do futuro certamente terão muito a dizer sobre a contribuição do governo Lula para o prosseguimento das transformações pelas quais o País começou a passar nos anos 1990. Tampouco deixarão de registrar que a democracia lhe deve a decisão de não buscar um terceiro mandato mediante emenda constitucional. Mas haverão de lembrar que nunca antes neste país, em regime democrático, um presidente havia manifestado tanto ódio pela imprensa livre. Lula é o governante que, com pouco mais de um ano no poder, tentou expulsar do País o correspondente do New York Times por ter escrito uma reportagem (de duvidosa qualidade, por sinal) sobre o que seria o seu gosto pela bebida. Alertado pelo então ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, de que a expulsão seria inconstitucional (o jornalista era casado com uma brasileira), Lula explodiu: “F-se a Constituição.”

LULA, O PACIFISTA (OU: COMO CONSEGUIR A PAZ CONVERSANDO COM QUEM NÃO QUER... A PAZ!)


O cavalheiro à direita também não queria a paz...
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“As pessoas não percebem que o acordo no Oriente Médio não acontece exatamente porque não se conversa com quem não quer a paz”.

“Não se conversa com todos os interlocutores que estão envolvidos. Por exemplo, quem é que vai conversar com o Hamas? Com o Hezbollah? Quem é que vai conversar com a Síria? Quem é que vai conversar com Irã?”

As palavras acima, vocês já devem ter adivinhado, foram ditas por ele, vocês-sabem-quem. O presidente do mundo e candidato a Messias Universal as proferiu em um evento no dia 25, para comemorar o Dia da Cultura Árabe, em São Paulo. Houve quem aplaudisse. Ele disse outras barbaridades sobre outros assuntos também, como a crise econômica mundial (que não teria sido tão grave no Brasil por causa da "diversificação dos contatos comerciais com o mundo árabe" etc.). Mas fico com as duas afirmações lapidares acima. Elas resumem com exatidão quem é, o que é e o que "pensa" nosso Mestre e Guia Genial, o estadista global, o homem que mais entende de política externa na História do Universo, a ponto de agora querer ensinar a paz a israelenses, palestinos, árabes e iranianos.

Quer saber como destrinchar o nó e alcançar a paz no conflito do Oriente Médio, que já dura mais de sessenta anos? A ONU não sabe, os EUA não sabem, a União Européia não sabe. Mas Lula sabe. Lula tem a resposta. Basta conversar com todo mundo, diz o Demiurgo. Com todo mundo? Com todo mundo. Com quem quer a paz? Sim, claro. E com quem NÃO QUER a paz também? Também, segundo Lula. Aliás, principalmente com estes. É aí que está a grande sacada! De acordo com esse grande sábio, só não há paz na região exatamente porque não se conversa com os inimigos da... paz! Segundo esse raciocínio brilhante, os israelenses, ao invés de se defenderem quando atacados, deveriam baixar as armas e se deixar imolar. Outros já tentaram no passado, inclusive com idéias de uma "solução final" para o "problema judaico". Mas com o Hamas, o Hezbollah, a Síria e o Irã seria diferente, afirma Lula... Ele deve achar que os seis milhões de judeus mortos pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial não foram o bastante. Deve acreditar que morreram tantos porque alguns, uma minoria, resistiram, e que, se todos tivessem se deixado assassinar passivamente e conversado com seus carrascos, o Holocausto não teria existido.

Não é genial? Acho que, a essa altura, Barack Obama e Benjamin Netanyahu devem estar batendo a cabeça na parede e se perguntando: "Como é que eu não pensei nisso antes?" O Hamas, o Hezbollah, a Síria, o Irã - que patrocinam os dois primeiros -, enfim, todos os que não querem a paz, que fazem tudo para sabotá-la, os que não reconhecem o direito do outro existir são... interlocutores da paz! Ora vejam só! Que descoberta incrível! Basta chamá-los para conversar, segundo Lula, que eles irão parar de lançar homens-bomba contra alvos israelenses e vão desistir do seu plano juramentado de transformar Israel numa pilha de ossos e num mar de sangue. Onde está a Academia Sueca, que não deu ainda o Prêmio Nobel a esse grande pacifista, a esse eminente pensador e filósofo da paz?

Fico cá pensando: imagine que um louco fanático com idéias homicidas e armado atés os dentes jurou que vai lhe matar e a toda sua família. Ele não reconhece seu direito a continuar respirando, e já deixou claro, com palavras e atos, que não sossegará enquanto não lhe vir com a boca cheia de formiga ou debaixo de sete palmos de terra. Ele não quer a paz, quer a guerra. Você, claro, como bom pacifista e seguidor de Lula, não tomará nenhuma providência para se defender. Em vez disso, irá ignorar essa intenção de seu inimigo e, imitando Gandhi, vai chamá-lo para um jantar ou para um bate-papo no bar. O que irão debater? Tenho um palpite: a data de seu enterro...

Já citei várias vezes esse exemplo, mas não custa nada repetir: em 1938, gente pacifista e bem-intencionada acreditou que era possível garantir a paz conversando com quem não queria a paz. Resultado: em vez da paz, tiveram a guerra, a mais destrutiva de todos os tempos. E a vergonha eterna de ter ajudado a desencadeá-la. Mas Lula não sabe do que estou falando. Ele não conhece História. Ele não sabe nada.

Estou comparando Lula com o primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain, que passou para a História como o idiota enganado por Hitler com a promessa de "paz para o nosso tempo" e que foi, involuntariamente, um dos causadores da Segunda Guerra Mundial? Estou sendo injusto. Com Chamberlain, não com Lula. O inglês era pelo menos bem-intencionado, e acreditava que poderia apaziguar o ditador nazista, atendendo suas exigências territoriais em troca de paz. Lula é diferente. Ele não é um bobalhão equivocado, um estadista iludido pelas boas intenções. É, isso sim, um aliado incondicional da tirania iraniana. O que significa dizer: também do Hamas e do Hezbollah, que aquela patrocina e financia. Ao contrário de Chamberlain, Lula escolheu um lado - o lado dos que não querem a paz, dos que lutam contra ela.

Assim como tem lado e acredita ter descoberto a fórmula mágica para a paz no Oriente Médio, Lula já escolheu um culpado: Israel. Para ele, a culpa pelo conflito na região é dos israelenses, que não se deixam matar pelos "interlocutores" do Hamas e do Hezbollah. Assim como deve acreditar que foi deles, dos judeus, e não dos nazistas, a culpa pelo Holocausto. Para Lula, terroristas são interlocutores confiáveis numa negociação para a paz. Para Lula, a paz é feita por quem a despreza.

Em maio, Lula estará em visita ao Irã. Vai retribuir a visita espalhafatosa que seu amigo e interlocutor Mahmoud Ahmadinejad fez a Brasília, em novembro. O iraniano já disse que não quer a paz com Israel. Pelo contrário: quer destruir Israel, varrê-lo do mapa, exterminar sua população. E trabalha intensamente nesse sentido, dando armas aos terroristas do Hamas e do Hezbollah. Mas isso, para Lula, não tem importância. Sob ahmadinejad, o Irã está afrontando o mundo com um programa nuclear secreto, que até cegos de nascença já perceberam que visa a obter armas nucleares e que tem endereço certo: Israel. Mas isso, para Lula, não importa. O importante é que é preciso conversar com todo mundo, principalmente com quem não quer a paz. Com isso, Lula e Celso Amorim esperam dar um grande passo à frente, e elevar o Brasil à condição de importante mediador do conflito mais antigo do mundo. Só não sabem que o salto, no caso, será para um abismo. E que o Brasil irá, sim, converter-se em medidador internacional, mas de uma negociação para trocar cadáveres. Ou cinzas.

Lula acha que a questão do Oriente Médio é igual a uma negociação entre a CUT e a FIESP. Acredita, sinceramente ou não, que tem algo a dizer sobre o assunto, e que todos devem ouvi-lo. E ainda há quem ache que eu pego demais no pé de Lula e de sua política externa aloprada e megalonanica.

segunda-feira, março 22, 2010

RESPONDO A UM LEITOR. E APROVEITO PARA LEMBRAR CERTAS REGRAS GRAMATICAIS


Leitor anônimo me escreve. Eu respondo. E aproveito para prestar uma homenagem à Inculta e Bela - cada vez mais Inculta e cada vez menos Bela, por culpa de comentários como o que transcrevo a seguir.
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Acho interessante o fato de que você preza pelo Nobel de Arias e zomba do Nobel de Obama, isso mostra o quão equilibrado você é em suas reflexões.
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Você acredita mesmo então que os Americanos não tem nenhuma responsabilidade com o que acontece na America Latina, eles são vitima de um pensamento esquerdista que não encherga a imconpetencia do proprio umbigo?
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Citando somente o comercio internacional, os EUA e a UE possuem centenas de salvaguardas com os produtos brasileiros, são sobretaxas que tornam nosso produto praticametne inconsumiveis no exterior, isso sem tocar no assunto do algodão no qual os produtores locais são subsidiados pelo governo ou até nosso Etanol. Em contrapartida este ano as medidas governamentais causaram estranheza ao sobretaxar as importações americanas.
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Me deti apenas na área comercial veja o porque os americanos enriqueceram tanto, você conhece a historia a partir da 2 guerra mundial e assim como todos sabe porque os americanos prosperaram tanto, as custa de que, de quem e quantos povos explorados, e no mais Costa Rica é quintal americano e todos sabemos disso.
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Seu leitor anonimo.
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Contei quatorze erros de português (regência, concordância, conjugação, acentuação e ortografia, sem contar os de pontuação, como a falta de vírgulas) no comentário acima. Tratarei disso mais adiante. Por enquanto, vamos aos "argumentos" expostos.
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Primeiro: quem lhe disse que eu sou "equilibrado" em minhas reflexões? Não sou "equilibrado" coisa nenhuma. Para mim, entre Oscar Arias e Barack Obama, assim como entre Bush e Saddam, ou entre Israel e o Irã, fico com os primeiros contra os últimos. "Equilibrado" é um eufemismo para designar os isentistas, os nenhumladistas que acham que todos se equivalem moralmente - o que significa, em 100% dos casos, atacar a democracia e justificar o crime e a opressão. Basta ler qualquer texto meu para perceber que não tenho qualquer pretensão em ser "equilibrado" entre o bem e o mal. Deixo isso para Lula e seus bajuladores.
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Além disso, Oscar Arias ganhou o Nobel da Paz por ter intermediado o processo de paz na América Central nos anos 80. E Obama, o que fez para merecer o prêmio? - concedido 12 (doze) dias depois de sua posse, ainda por cima.
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Não, não digo que os americanos "não têm nenhuma responsabilidade" pelo que ocorre abaixo do Rio Grande. Jamais disse isso. Acredito que os americanos não têm responsabilidade pelo que de pior acontece na América Latina. Diga-me que responsabilidade têm os americanos pela prisão e tortura de opositores políticos em Cuba, ou pela supressão das liberdades na Venezuela, ou pelo narcoterrorismo das FARC, ou pelo Foro de São Paulo, ou pela corrupção do PT. Acredito, sim, que o antiamericanismo é uma excelente forma de transferir responsabilidades e, portanto, perpetuar o atraso. É um discurso feito sob medida para esconder as verdadeiras causas dos problemas e para garantir que eles se perpetuem.
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Sobre comércio internacional: salvaguardas e taxações existem também da parte do governo brasileiro em relação a produtos americanos, assim como europeus ou japoneses, e não vi ninguém até agora, muito menos os americanos, dizendo que o Brasil é responsável pelos problemas nesses países.
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Aliás, é curioso: lembro que, durante a campanha presidencial nos EUA, muita gente no setor empresarial torcia secretamente pelo McCain, porque os republicanos sempre foram mais inclinados ao livre-comércio e ao fim de salvaguardas do que os democratas. Agora vêm os antiamericanos, os mesmos que torceram pelo Obama, e se queixam dele por seu protecionismo... Que irônico, não? (Ou melhor: que esquizofrênico, não?)
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Deixe-me ver se entendi... Então, os americanos enriqueceram às custas de nós, pobres latino-americanos, devido à exploração das multinacionais etc.? Por que será que eu senti um cheiro de mofo aí? Mas tudo bem, vou levar a sério, por um momento, essa discurseira terceiromundista e nacionalisteira (sou uma pessoa caridosa). Digamos, por um instante, que os EUA são mesmo o lobo feroz imperialista de que falam os esquerdistas. Nesse caso, o "quintal" Costa Rica é uma prova de que esse tal imperialismo é uma coisa muito boa. Sim, porque, ao contrário de outros países que bravamente resistem ao imperialismo ianque, como Cuba e Venezuela, o país exibe alguns dos melhores índices econômicos e sociais da América Latina. Se não acredita em mim, faça uma pesquisa e compare. Bendito imperialismo!
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Analisemos agora a qualidade do idioma em que foi escrito o comentário, que imagino ser o Português:
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- O verbo "prezar" (sinônimos: respeitar, considerar) tem a mesma regência e mesma conjugação de verbos derivados, como "desprezar". Não se diz "você preza pelo", mas você preza "o/a" ou "os/as", ou "o quê", "quem". Por exemplo: "Prezo quem usa corretamente as regras gramaticas". E: "Desprezo quem violenta a Língua Portuguesa".
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- O verbo "ter", no sentido de "possuir", deve concordar com o sujeito, como qualquer verbo, aliás. Isso significa que, na terceira pessoa do plural do presente do indicativo, ele leva acento circunflexo, justamente para distinguir-se da terceira pessoa do singular. Assim, o correto é "eles não têm".
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- Quem tem responsabilidade a tem por alguma coisa ou alguém, e não "com". O certo é "eles têm responsabilidade pelo que acontece", e não "com o que".
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- Assim como os verbos concordam com o sujeito, os substantivos também concordam com os artigos e pronomes. O correto não é "as vitima", e sim "as vítimas" - e com acento agudo, pois do contrário o substantivo se transforma em verbo.
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- O que significa "encherga"? Conheço o verbo enxergar, com "x". E "imconpetencia"? Só conheço a palavra "incompetência", que designa quem é incapaz de escrever corretamente no próprio idioma.
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- O que é "enchergar a imconpetencia do próprio umbigo" (sic)?
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- Imagino que o caro leitor quis dizer "comércio", não "comercio". A primeira palavra é substantivo; a segunda, verbo.
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- Até onde sei, a palavra salvaguarda não leva "com" como complemento. O certo é "salvaguardas aos produtos brasileiros", ou "contra os produtos brasileiros".
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- "Praticametne" eu até deixo passar, deve ter sido erro de digitação. Mas, "inconsumiveis"? Onde foi parar o acento agudo no segundo "i"? E cadê a concordância do adjetivo com o substantivo ao qual aquele se refere, "produto", que vem no singular (logo, deveria ser "inconsumível", e não "inconsumíveis")?
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- Desconheço essa construção verbal, "me deti". Além de a posição do pronome estar incorreta - em começo de frase, ou após pausa, usa-se ênclise, não próclise -, confesso que ignoro totalmente o que significa a palavra "deti". Presumo, por pura especulação minha, que o que o autor quis dizer foi detive-me - o verbo pronominal "deter-se" conjugado na primeira pessoa do singular do pretérito perfeito do modo indicativo, da mesma forma que o verbo "ter" ("eu tive, tu tiveste, ele teve..."). É assim que se escreve.
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- Do mesmo modo, a palavra "porque", junta e sem acento, denota resposta, para se diferenciar de "por que", usada como pergunta. Quando é precedida do artigo definido "o" ou "os", deve levar, necessariamente, acento circunflexo, transformando-se em "o porquê". Por exemplo: "Não entendo o porquê de alguém se sujeitar a tanta humilhação".
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- Novamente, o uso errado do "porque" na frase "(...) você (...) sabe porque os americanos prosperaram". O "porque", junto e sem acento, é usado como resposta, como disse acima. Quando é usado como explicação, podendo ser acrescido da palavra "razão" ou "motivo", ou quando pode ser substituído por "pelo qual" e derivados ("pela qual", "pelos quais", "pelas quais") vem separado e sem acento. Exemplos: "Eu sei por que é importante estudar a Gramática". "Esse é o motivo por que você deve ler o que escreve".
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- A expressão "as custa de" carece de qualquer sentido. Se o leitor quis dizer "às custas de", com crase e no plural, aí sim, temos um exemplo de uma expressão da Língua Portuguesa, e não de um barbarismo.
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- Finalmente, o correto é "anônimo" (ou "anónimo", se for em Portugal), com acento circunflexo no primeiro "o", e não "anonimo".
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Por que corrijo o português dos outros? Não por pedantismo, mas porque o bom uso do idioma significa também o bom uso da Lógica. Onde falta um, geralmente - quase sempre - falta o outro. E é esse precisamente o caso. Mais uma vez.

quinta-feira, março 18, 2010

A "COISA MÁGICA QUE FALTAVA" NA TERRA MÉDIA DE LUIZ INÁCIO - E MAIS UM VEXAME DA DIPLOMACIA MEGALONANICA


Novamente, Augusto Nunes abrilhanta este blog com sua inteligência e perspicácia. Mais uma denúncia certeira da chanchada em que se transformou a política externa brasileira sob a batuta dos petralhas e esquerdiotas de plantão. Estes transferiram para Israel o ódio recalcado que sentem pelos EUA, esquecendo-se, como ocorre com mentes paralisadas pelo fanatismo antiamericano, que o primeiro está muito longe de ser um mero títere do último. Ao contrário deles, esquerdopatas, que alegremente se prestam ao papel de tocadores de tuba e chefes de torcida dos chávez e castro da vida.

Esses são dias tristes para o Itamaraty, outrora um lugar de excelência. Felizmente, porém, há quem esteja atento.

P.S.: Outro dia falei aqui da "Síndrome de Brüno", que tomou conta da diplomacia lulista, numa referência ao personagem impagável de Sacha Baron Cohen, que vai à "Terra Média" (o Oriente Médio) para "fazer a paz" entre palestinos e israelenses e ficar famoso. Na "Terra Média" de Lula e Marco Aurélio Garcia, o obstáculo à paz são os israelenses, não o Hamas e o Irã. E ainda se apresentam como "mediadores" no conflito em que têm lado. Em matéria de coisas ridículas, Brüno é um amador. Os petistas o deixam no chinelo.
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OS CULPADOS SÃO SEMPRE OS OUTROS
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“Quem sabe a divergência entre Estados Unidos e Israel seja a coisa mágica que faltava para se chegar a um acordo”, entusiasmou-se o presidente Lula nesta quarta-feira, declamando o que lhe sopraram Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia. ”Em fala tão breve, boçalidade tão longa, que reafirma o que o pior do antiamericanismo pode produzir”, resumiu meu amigo e vizinho Reinaldo Azevedo, sempre em ótima forma.
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A frase contém mais cretinices do que sugere uma leitura ligeira. Não se limita a informar que, para Lula, o eventual esgarçamento dos laços históricos entre os dois parceiros encerraria a crise no Oriente Médio. Também confirma que a atual política externa brasileira é um conjunto de ações internacionais contrárias aos ianques e seus aliados, ou favoráveis a quem hostiliza os Estados Unidos e seus amigos.
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Deformado por esse antiamericanismo de grotão, o olhar de Lula é tão imparcial quanto opinião de mãe de candidata a miss. O Oriente Médio visto pelo monoglota militante é uma região pertencente a nações companheiras cercadas por uma província palestina rebatizada de Israel por invasores judeus. Para chegar-se à paz, o mais forte deve render-se ao vizinho sem chances no confronto militar. E qualquer acordo começa pelo enquadramento do Grande Satã do planeta, porque da crise no Oriente Médio ao primitivismo da América Latina, fora o resto, é tudo culpa dos americanos.
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“Eu disse ao Bush e tenho dito a todo o governo americano que está na hora deles apresentarem uma política sadia e objetiva para a América Latina, os Estados Unidos nunca fazem nada para ajudar os pobres”, lamuriou-se Lula no ano passado, na reunião do clube dos cucarachas em Trinidad-Tobago. De novo, a comparação com um trecho do discurso lido no mesmo encontro pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, é perturbadora para o Brasil que pensa.
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“Quase sempre culpamos os Estados Unidos por nossos males passados, presentes e futuros”, constatou o ganhador do prêmio Nobel da Paz. ”Não creio que isso seja de todo justo. Em 1950, cada cidadão norte-americano era 4 vezes mais rico que um cidadão latino-americano. Hoje em dia, é 10, 15 ou 20 vezes mais rico. Não por culpa dos Estados Unidos. A culpa é nossa. Não podemos esquecer que pelo menos até 1750 todos os americanos eram praticamente iguais: todos eram pobres”.
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“Alguma coisa fizemos de errado”, ensinou Arias já no título do discurso. Lula continua achando que foi tudo culpa dos americanos ─ isso quando está longe do Brasil. Nos palanques domésticos, não para de cumprimentar-se por ter reconstruído um país devastado por todos os antecessores, principalmente FHC. São todos brasileiros.
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Os culpados, afinal, são nativos ou estrangeiros? Qual dos discursos é o verdadeiro? Nenhum, sabe quem tem mais de dez neurônios.

quarta-feira, março 17, 2010

LULA EM ISRAEL: UM FESTIVAL GROTESCO DE CINISMO


Lula, como vocês sabem, esteve em visita a Israel, como parte de um périplo maior pelo Oriente Médio, que incluiu também a Jordânia e os Territórios Palestinos. O criador de Dilma Rousseff quer aparecer como o "pacificador" da região. É isso mesmo: o Brasil ficou pequeno para os delírios de grandeza do maior dos megalonanicos. E, como não há ninguém por perto que tenha o mau gosto de lhe trazer de volta à realidade, ele segue em frente com mais essa patacoada.

Mesmo assim, a visita do "Estadista Global" a Israel veio a propósito. Mesmo tendo esperado o último ano de seu mandato para fazer uma visita ao país, única democracia do Oriente Médio, e (coincidência?) o único da região que ele não tinha ainda visitado. Lula deixou para o final de seu governo a visita a Israel, pois antes quis conhecer países mais importantes e certamente mais democráticos, como a Síria e a Líbia... Visitas como a que acabou de ocorrer servem, portanto, para baixar um pouco o véu da diplomacia lulista, revelando que, por trás de toda uma retórica adiposa sobre neutralidade, esconde-se o compromisso com um dos lados, precisamente o lado mau da humanidade. E foi exatamente isso o que aconteceu, como esperado.

Logo no primeiro dia da visita a Israel, o "profeta do diálogo" - como o chamou o diário esquerdista israelense Haaretz, certamente embalado pelo mesmo espírito que elegeu Lula o "homem do ano" do Le Monde em 2009, e o campeão da ética e da decência no Brasil por três décadas - mostrou a que veio, deixando de visitar o túmulo de ninguém mais, ninguém menos do que o fundador do Sionismo, o movimento que deu origem a Israel, Theodor Herzl. Algo assim como um chefe de Estado estrangeiro que visita o Brasil e deixa, por exemplo, de comparecer a uma cerimônia em homenagem a Tiradentes. O Chanceler de Israel, Avigdor Lieberman, que deveria, pelo protocolo, ciceronear o visitante, não perdeu a chance de dar um recado, e não compareceu ao discurso de Lula no Knesset, o Parlamento israelense, sendo seguido por cerca de metade dos parlamentares do país. Um gesto "descortês", segundo o professor de boas maneiras e movimentos manuais heterodoxos Marco Aurélio Top, Top Garcia - como se equiparar Israel a seus inimigos, como veremos, fosse o supra-sumo da cortesia diplomática.

Perante um Parlamento esvaziado, ao lado do presidente Shimon Peres (que deveria estar sem nada melhor para fazer na hora) e da líder da oposição, Lula se dedicou durante uma hora a atacar o país anfitrião, enquanto não deu um pio sobre o terrorismo palestino e as intenções nucleares de países como o Irã. Falou sobre sua fórmula mágica para alcançar a "paz" na região: basta Israel deixar de fazer novos assentamentos e derrubar o muro que o separa dos Territórios Palestinos, afirmou o Demiurgo, que todos se darão as mãos e viverão fraternalmente. Sobre o terrorismo de grupos como o Hamas e o Hezbollah, que independe de assentamentos israelenses para existir - na Faixa de Gaza, por exemplo, o Hamas intensificou seus ataques a Israel depois da saída de TODOS os colonos israelenses da região, em 2005 -, nenhuma palavra. O mesmo em relação aos motivos que levaram Israel à construção do muro, bem como sobre o fato de que, desde que ele começou a ser erguido, nenhum atentado terrorista de vulto tenha ocorrido em Israel. Silêncio total.

Em seguida, o auto-proclamado reformador da geografia comercial e política do mundo fez uma visita ao Museu do Holocausto em Jerusalém, lugar dedicado à memória dos 6 milhões de judeus assassinados pelos nazistas na Segunda Guerra. Dessa vez não deu pra evitar, deve ter pensado o sábio para quem os iranianos são árabes, não persas. Lula plantou uma árvore e fez um discurso de praxe contra a barbárie do Holocausto, afirmando que crimes como aquele "nunca mais, nunca mais" deveriam se repetir etc. Até parecia que o presidente que estava ali proferindo essas palavras não era o mesmo que fez festa para receber em Brasília o negador do Holocausto Mahmoud Ahmadinejad, em novembro passado, e que irá reencontrá-lo, dessa vez em Teerã, dentro de algumas semanas. Como se o chefe de Estado ali presente fosse mesmo um humanista e um democrata, alguém sinceramente interessado na defesa dos direitos humanos, e não o aliado incondicional de ditaduras como a de Cuba, que comparou os dissidentes da tirania mais antiga do Ocidente a bandidos, enquanto posava sorridente para fotos ao lado de Fidel e Raúl Castro.

Terminada a programação em Israel, foi a vez de Lula visitar os Territórios Palestinos. Lá chegando, o Guia Genial demonstrou mais uma vez toda sua eqüidistância na questão israelo-palestina, que o credencia a se colocar como mediador no conflito, ao colocar uma coroa de flores no túmulo de Yasser Arafat. O fato de ele não ter feito o mesmo no túmulo de Theodor Herzl, claro, foi só um detalhe, nada que deponha contra a "neutralidade" do governo Lula na questão, ou um simples problema de cerimonial, apressaram-se a explicar os puxa-sacos de plantão. O fato de Arafat, uma figura de proa do terrorismo internacional nas décadas de 60 e 70, que só renunciou à luta armada e aceitou a existência de Israel em 1988, ter as mãos sujas de sangue, muito do qual de gente inocente, ao contrário de Herzl, que jamais matou alguém, é também, claro, só um detalhe insignificante.

E assim prosseguiu mais essa visita "exitosa" (segundo o Itamaraty, para o qual toda visita é "exitosa") de Lula ao estrangeiro. Tão exitosa que, acredito, Lula provavelmente não irá mais se contentar com o modesto papel de "negociador" e "peace-builder" entre Israel e seus inimigos: após equiparar moralmente Israel (uma democracia) e o Irã (uma teocracia), o Gandhi de Garanhuns e futuro secretário-geral da Organização das Galáxias Unidas vai tentar impor a paz na região com o apoio de seu notável charme e carisma e de seu aliado incondicional Ahmadinejad. Como numa reunião entre a CUT e a Força Sindical, ele vai convencer israelenses, a Fatah, o Hamas e os iranianos a se darem as mãos. E, como são todos iguais do ponto de vista moral, vai convencer os israelenses e o restante do mundo que o Irã - e, por extensão, o Hamas e o Hezbollah - tem o direito a ter armas nucleares ("afinal, Israel também não tem?", afirmam os defensores do "desarmamentismo global"). Novamente, o fato de Israel não ameaçar varrer ninguém do mapa, ao contrário do Irã, não faz a menor diferença para essa estratégia tão sábia do maior estadista e maior pacifista da história do sistema solar.

Lula não é capaz de dizer uma palavra sobre direitos humanos em Cuba ou sobre democracia na Venezuela, nem de distinguir entre um golpista destituído e um governo constitucional em Honduras, mas acha que tem alguma coisa a dizer na questão do Oriente Médio. Acredita, ou finge acreditar, que pode acabar com décadas de conflito entre israelenses e iranianos, entre israelenses e palestinos, e entre os próprios palestinos, com base unicamente na vontade, no gogó. Será apenas cinismo? Ou é loucura mesmo?

Honduras, Cuba, Israel, Irã... é o Brasil caminhando, célere, para se tornar um "global player". Nesse caso, um "global loser".

A GRANDEZA QUE LULA JAMAIS TERÁ


Em 1979, o senador alagoano Teotônio Vilela surpreendeu o Brasil. Naquele ano, o parlamentar da ARENA, percebendo a maré contra a ditadura e a favor da democracia que tomava conta de todos - foi o ano da Anistia e da volta dos exilados políticos -, bandeou-se para o lado do MDB, o partido da oposição ao regime militar. Até morrer, de câncer, em 1983, o velho político conservador, rico usineiro ligado às oligarquias em Alagoas, ex-udenista e apoiador entusiasmado do golpe de 64, tornou-se um símbolo da redemocratização, um dos lutadores mais aguerridos pelo fim do arbítrio e pela volta das liberdades civis. Milton Nascimento dedicou-lhe uma bela canção, O Menestrel das Alagoas, parte da trilha sonora política dos anos 80.(Quem é esse viajante/Quem é esse menestrel/Que espalha esperança/E transforma sal em mel?)

Um dia, em visita a presos políticos brasileiros, que faziam greve de fome contra as condições carcerárias a que eram submetidos pelo regime dos generais, reivindicando, entre outras coisas, não ser misturados aos criminosos comuns, Teotônio Vilela aproximou-se deles e, ajoelhando-se, entre lágrimas, humildemente pediu-lhes perdão. "Perdão por não ter visto antes essa barbárie", foram as palavras emocionadas e emocionantes do Menestrel das Alagoas.

Não está claro se a guinada de Teotônio Vilela, de apoiador a opositor do regime militar, ocorreu por convicção democrática ou por cálculo político. Provavelmente, jamais saberemos. Mas uma coisa é certa: seu gesto de contrição foi genuíno. Seu arrependimento, até prova em contrário, foi sincero. Seu pedido de perdão foi um momento da consciência nacional. Por sua atitude de grandeza, Teotônio Vilela é até hoje lembrado como um gigante da luta pela democracia no Brasil. Uma voz da razão.

Bem diferente foi a atitude de Luiz Inácio Lula da Silva quando, em visita a seus amigos Raúl e Fidel Castro em Cuba, ignorou solenemente o pedido de socorro de dissidentes cubanos. Mais que isso: chamou de "pretexto" a greve de fome como forma de luta pelos direitos humanos na ilha-cárcere. Mais que isso: comparou a bandidos comuns os opositores dos Castro. Mais que isso: legitimou a repressão de que são vítimas. Mais que isso: acusou um deles, Orlando Zapata Tamayo, morto após 85 dias de greve de fome, pela própria morte. Seus auxiliares diretos não ficaram atrás em ignomínia. Celso Amorim tentou pôr panos quentes, e aproveitou para dar mais corda no culto da personalidade do chefe, ao comparar a greve de fome até a morte de Zapata com o jejum de quatro dias que Lula fez em 1980, à base de guloseimas escondidas. Marco Aurélio Garcia banalizou a repressão na ilha-presídio, dizendo que violações aos direitos humanos ocorrem no mundo todo.

Entre os prisioneiros políticos a quem Teotônio Vilela suplicou pelo perdão por seus anos de apoio a um regime que torturava e matava estavam terroristas condenados por crimes de sangue, como assassinato, seqüestro, assaltos a banco e atentados à bomba. Dificilmente algum deles, se estivesse no lugar de Vilela, faria o mesmo em relação a seus inimigos aprisionados. Não eram prisioneiros de consciência, detidos pelo "crime" de discordarem do governo. Orlando Zapata Tamayo era. Assim como Guillermo Fariñas, outro opositor do totalitarismo castrista, também em greve de fome contra o regime arbitrário idolatrado por Lula e pela esquerda brasileira. Em entrevista à Folha de S. Paulo, Fariñas deixou claro o abismo moral que separa Lula de Teotônio Vilela: "Considero Lula da Silva um assassino, um cúmplice da tirania dos Castro".

Teotônio Vilela era um político de direita que não se furtou em pedir perdão às vítimas do regime autoritário que apoiara e em abraçar a causa da democracia e dos direitos humanos. Até então, ele era visto apenas como um conservador, um velho oligarca nordestino, até mesmo um reacionário. Teve a hombridade de reconhecer que estava do lado errado e se arrependeu disso, passando à História como o Menestrel das Alagoas, um monumento de decência, um arauto do Bem e do Justo. Lula não teve essa grandeza, nem a terá.
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Teotônio Vilela era de direita. Lula, embora diga que não, é de esquerda. Qual dos dois, Vilela ou Lula, é um progressista, um humanista, um defensor da liberdade e da humanidade?

terça-feira, março 16, 2010

PERNA CURTA



Lembram de um certo presidente da República que disse "não sei nada, não vi nada"?
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Pois é.
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Ele mentiu.
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Dedicado a todos aqueles que caíram no maior conto-do-vigário da História destepaiz.

A MEGALOMANIA LULISTA ALÉM-FRONTEIRAS


Para registro. Editorial do Estadão desta terça-feira, 16/03.

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“O ‘vírus’ da paz de Lula”

Desta vez, a proverbial sorte do presidente Lula parece tê-lo deserdado. Ele desembarcou domingo em Tel-Aviv em meio a uma rara crise entre Israel e os Estados Unidos e a mais um bloqueio da Cisjordânia em represália a um novo surto de manifestações palestinas contra a política israelense de anexações em Jerusalém Oriental. Nesse ambiente, a pretensão de Lula de ser o “profeta do diálogo”, como foi chamado dias antes pelo jornal israelense Haaretz, se revelou, no mínimo, fútil. Enquanto o brasileiro fazia as malas para a viagem de 5 dias que o levará também aos territórios ocupados sob o controle nominal da Autoridade Palestina (AP) e, por fim, à Jordânia, um ministro israelense ainda mais à direita do que o premiê Benjamin Netanyahu fez o que em outras circunstâncias seria impensável.

Em plena visita do vice-presidente americano, Joe Biden, ele anunciou a construção de 1.600 moradias em Jerusalém Oriental, onde os palestinos querem instalar a capital do seu futuro país. Foi um golpe deliberado nos esforços do governo Obama para ressuscitar as negociações de paz na região, congeladas desde dezembro de 2008. Biden saiu humilhado de Israel. Em Washington, a secretária de Estado Hillary Clinton se disse “insultada” e o principal assessor do presidente, David Axelrod, falou em “afronta”. Se Israel se permite ofender a tal ponto o seu maior e mais poderoso protetor, para não dar aos palestinos o Estado contínuo e viável reclamado pela comunidade internacional, incluídos os EUA, que diferença Lula imagina que poderá fazer?

Ontem, ele disse ser portador, “desde que estava no útero da minha mãe”, do “vírus da paz”. O metafórico micróbio não contaminou os israelenses. O presidente Shimon Peres foi absolutamente protocolar quando disse em discurso saber que o brasileiro trazia uma mensagem de paz, e que “sua contribuição será bem-vinda”. Do lado israelense é que não será. Primeiro, porque a ideia lulista de “ouvir mais gente”, como já não bastassem a ONU, a União Europeia, os Estados Unidos e a Rússia, é anátema para um governo que acha que a maioria dos países tende a ser pró-palestinos e quer forçar Israel a concessões “inaceitáveis” (como coibir os assentamentos na Cisjordânia e dividir Jerusalém em duas). Segundo, porque a “gente” em que Lula pensa inclui ninguém menos do que o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, que prega a erradicação de Israel (perto disso, a negação do Holocausto é detalhe).

Segundo o assessor Marco Aurélio Garcia, o Irã não pode ser ignorado porque tem “influência de peso” na questão. É o contrário. A República Islâmica é que não poderá ignorar o eventual acordo de paz a que se opõe porque legitimaria o Estado judeu. Influência de peso na questão, isso sim, tem a Liga Árabe, a começar da Arábia Saudita. Em 2002, os sauditas conseguiram que a entidade aprovasse um plano de paz pelo qual, em troca da devolução dos territórios tomados na Guerra dos Seis Dias as relações entre Israel e o mundo árabe seriam “normalizadas”. Deu em nada. Há pouco, a Liga defendeu a retomada de negociações, indiretas, entre Israel e a Autoridade Palestina. (Dezessete anos depois do aperto de mãos de Yitzhak Rabin e Yasser Arafat na Casa Branca, fala-se em conversações indiretas como se fosse um progresso.)

Lula e o Itamaraty parecem ignorar ainda que a aproximação do Brasil com o Irã, valha o que valer, não é malvista só em Israel, na região. A Arábia Saudita e o Egito, os dois principais países árabes, tampouco se rejubilam com isso. Enfim, a soberba da diplomacia lulista chega ao disparate de supor que a atual posição “cética e dura” dos EUA em relação a Israel, nas palavras de Garcia, facilitará o ingresso de outros atores, um deles o Brasil, no processo de paz no Oriente Médio. É, de novo, o mundo de ponta-cabeça. Se Netanyahu não ceder a Obama, cederá a quem? A Lula? O sonho faraônico de se transformar no estadista global que entrará para a história por ter tido êxito ali onde todos fracassaram nos últimos 60 anos conduz Lula da futilidade à ridicularia. E isso porque a diplomacia lulista, partidária e eleitoreira, só visa a promover a imagem de seu guia perante o público interno.

Propondo-se a mediar não apenas o conflito histórico entre judeus e palestinos, mas também o conflito interno entre palestinos do Hamas e do Fatah, Lula exibe o grau de exacerbação da sua megalomania.

O SILÊNCIO DOS INTELECTUAIS


Com algum atraso, reproduzo a seguir o excelente artigo de Fernando de Barros e Silva que saiu na semana passada, na Folha de S. Paulo. Simples, direto ao ponto, incisivo. A começar pelo título.

E a pergunta que fica é: onde estão eles, os "intelequituais" esquerdistas, numa hora dessas?

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???

Fernando de Barros e Silva

SÃO PAULO - Os intelectuais de esquerda adoram um abaixo-assinado. Na luta pela redemocratização, ele foi um instrumento importante de mobilização da sociedade civil.

Hoje, não se sabe ao certo o que seja (nem se existe) "a sociedade civil". E os intelectuais, sobretudo de esquerda, perderam em boa medida o protagonismo público.

Ainda assim, vira e mexe há abaixo-assinados por aí. Alguns em torno de causas abrangentes e justas, outros que parecem só um cacoete de antigamente. Diante de tudo isso, devemos nos perguntar agora: onde está o abaixo-assinado?

Sim. Ou os intelectuais de esquerda não estão incomodados com a fala bestial de Lula sobre Cuba? O assunto não comove a ponto de solicitar um repúdio coletivo?
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Seria demais exigir a retratação pública do presidente por igualar as vítimas de uma ditadura que liquidou seus opositores aos presos comuns de um país democrático?

Seria demais pressionar o governo brasileiro para que interceda em favor de dissidentes presos arbitrariamente e/ou a caminho da morte?

Seria demais reafirmar (ou assumir, no caso de alguns) a defesa da democracia e dos direitos humanos como valores universais?

O silêncio de certa intelligentsia, que insiste em tratar Cuba como um caso à parte, uma ilha da fantasia rodeada de piratas, é tão cúmplice das atrocidades de Fidel e seu asseclas quanto a fala boçal de Lula.

Até quando a esquerda nativa (com exceções honrosas) vai encarar a crítica à tirania cubana como uma pauta da direita? Até quando irá confundir o justo apelo dos dissidentes com a "máfia de Miami"?

Até quando irão invocar avanços sociais hoje mais do que duvidosos como pretexto -aí, sim- para justificar os horrores do regime? O dissidente Guillermo Fariñas precisará morrer -ou nem isso bastará para romper a omissão criminosa?

A Paquetá vermelha que incendiou bons corações nos anos 60 não existe, não passa de uma quimera mumificada. Então, apesar do atraso: cadê, cadê o abaixo-assinado?

segunda-feira, março 15, 2010

É ASSIM QUE FALA UM DEMOCRATA


Deu no blog de Augusto Nunes. Leiam e vejam como se comportam, de um lado, um populista babão amigo de ditadores e, de outro, um democrata de verdade diante do mesmo fato. Uma aula de liberdade contra os que compactuam com a barbárie.
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Porque a democracia precisa de líderes que estejam à altura.

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A COLISÃO ENTRE UM POLÍTICO SEM GRANDEZA E UM ESTADISTA

Traídos pela indiferença ultrajante do Itamaraty, afrontados pela infame hostilidade do presidente da República, presos políticos cubanos e dissidentes em liberdade vigiada endereçaram ao presidente da Costa Rica o mesmo pedido de socorro que Lula rechaçou. Fiel à biografia admirável, Oscar Arias nem esperara pela chegada do apelo (que o colega brasileiro ainda não leu) para colocar-se ao lado das vítimas do arbítrio. Já estava em ação ─ e em ação continua.

Neste sábado, Arias escreveu sobre o tema no jornal espanhol El País. O confronto entre o falatório de Lula e trechos do artigo permite uma pedagógica comparação entre os dois chefes de governo:

LULA: “Lamento profundamente que uma pessoa se deixe morrer por fazer uma greve de fome. Vocês sabem que sou contra greve de fome porque já fiz greve de fome”.
ARIAS: “Uma greve de fome de 85 dias não foi suficiente para convencer o governo cubano de que era necessário preservar a vida de uma pessoa, acima de qualquer diferença ideológica. Não foi suficiente para induzir à compaixão um regime que se vangloria da solidariedade que, na prática, só aplica a seus simpatizantes. Nada podemos fazer agora para salvar Orlando Zapata, mas podemos erguer a voz em nome de Guillermo Fariñas Hernández, que há 17 dias está em greve de fome em Santa Clara, reivindicando a libertação de outros presos políticos, especialmente aqueles em precário estado de saúde”.

LULA: “Eu acho que a greve de fome não pode ser utilizada como pretexto para libertar pessoas em nome dos direitos humanos. Imagine se todos os bandidos presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade”.
ARIAS: “Seria perigoso se um Estado de Direito se visse obrigado a libertar todos os presos que decidirem deixar de alimentar-se. Mas esses presos cubanos não são como os outros, nem há em Cuba um Estado de Direiro. São presos políticos ou de consciência, que não cometeram nenhum delito além de opor-se a um regime”.

LULA: “Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo cubanos”.
ARIAS: “Não existem presos políticos nas democracias. Em nenhum país verdadeiramente livre alguém vai para a prisão por pensar de modo diferente. Cuba pode fazer todos os esforços retóricos para vender a ideia de que é uma “democracia especial”. Cada preso político nega essa afirmação. Cada preso político é uma prova irrefutável de autoritarismo. Todos foram julgados por um sistema de independência questionável e sofreram punições excessivas sem terem causado danos a qualquer pessoa”.

LULA: “Cada país tem o direito de decidir o que é melhor para ele”.
ARIAS: “Sempre lutei para que Cuba faça a transição para a democracia. (…) O governo de Raúl Castro tem outra oportunidade para mostrar que pode aprender a respeitar os direitos humanos, sobretudo os direitos dos opositores. Se o governo cubano libertasse os presos políticos, teria mais autoridade para reclamar respeito a seu sistema político e à sua forma de fazer as coisas”.

LULA: “Não vou dar palpites nos assuntos de outros países, principalmente um país amigo”.
ARIAS: “Estou consciente de que, ao fazer estas afirmações, eu me exponho a todo tipo de acusação. O regime cubano me acusará de imiscuir-me em assuntos internos, de violar sua soberania e, quase com certeza, de ser um lacaio do império. Sem dúvida, sou um lacaio do império: do império da razão, da compaixão e da liberdade. Não me calo quando os direitos humanos são desrespeitados. Não posso calar-me se a simples existência de um regime como o de Cuba é uma afronta à democracia. Não me calo quando seres humanos estão com a vida em jogo só por terem contestado uma causa ideológica que prescreveu há anos. Vivi o suficiente para saber que não há nada pior que ter medo de dizer a verdade”.

Oscar Arias é um chefe de Estado. Lula é chefe de uma seita com cara de bando. Arias é um pensador, conhece a História e tenta moldar um futuro mais luminoso. Lula nunca leu um livro, não sabe o que aconteceu e só pensa na próxima eleição. Arias é justo e generoso. Lula é mesquinho e oportunista. Arias se guia por princípios e valores. Lula menospreza irrelevâncias como direitos humanos, liberdade ou democracia.

O artigo do presidente da Costa Rica, um homem digno, honra o Nobel da Paz que recebeu. A discurseira do presidente brasileiro, um falastrão sem compromisso com valores morais, tornou-o tão candidato ao prêmio quanto Fidel, Chávez ou Ahmadinejad. A colisão frontal entre o que Lula disse e o que Arias escreveu escancarou a distância abissal que separa um político sem grandeza de um estadista.

sexta-feira, março 12, 2010

POLÍTICA EXTERNA DEPENDENTE... E INDECENTE


Sempre que olho para a atual política externa brasileira, a pergunta que me vem à mente é: como podem inverter tão cinicamente a realidade?

Os porta-vozes do governo Lula se gabam da "independência" da diplomacia lulista. Orgulham-se das "demonstrações de soberania" do Itamaraty diante das "grandes potências". Batem ufanisticamente no peito e dizem que agora - e somente agora - o Brasil é um país respeitado (antes, devia ser um Burundi ou um Haiti). E isso graças a Lula, o maior líder da História do Universo, que refundou um país destroçado e sem rumo e que, nos momentos de folga entre uma obra e outra do PAC, fez a Grande Muralha da China e as Pirâmides do Egito. Ao mesmo tempo, acusam os governos anteriores de "ajoelhar-se" e de "subverviência" a outros países - em especial, aos EUA. Como se a data da Independência do Brasil fosse 2003, e não 1822.

É mais uma mentira da era Lula. Nunca o Brasil teve uma diplomacia tão dependente, tão pouco soberana. Nem mesmo na época do governo Dutra ou durante o regime militar - que os esquerdistas adoram citar como paradigmas de submissão diplomática aos EUA, o que está, aliás, longe da verdade -, a política externa brasileira esteve tão subordinada a Washington. Nunca antes na história destepaiz o Brasil dependeu tanto de outros para dizer o que pensa.

Desde 2003, o antiamericanismo é a única pauta da política externa brasileira. Pegue qualquer tema da agenda internacional - meio ambiente, comércio exterior, desamarmento, sem falar em temas como Cuba, Irã, Venezuela ou Honduras -, e o que se verá é o seguinte raciocínio do governo brasileiro: os EUA são a favor ou são contra? Se são contra, somos a favor; se são a favor, somos contra.

É um processo curioso de inversão psicológica. Os estrategistas do governo Lula acreditam que, ao apoiar incondicionalmente tiranias como a cubana ou a iraniana, estão mostrando independência. É exatamente o contrário. Ao atrelar suas decisões a uma lógica de confronto com os EUA, o governo Lula, em sua ânsia de mostrar "soberania", mostra-se na verdade dependente do que pensa e faz a Casa Branca. As decisões que moldam a ação internacional do Brasil passam a ser tomadas em Washington, não em Brasília. É como aquele aluno chato que, por birra, faz tudo ao contrário do que o professor diz: ele acredita estar agindo de forma independente, mas, em sua rebeldia juvenil, não percebe que está sendo pautado. Não age conforme a própria consciência, mas em função de outra pessoa. Está ainda em fase de formação de sua personalidade, então sente necessidade de se definir em relação ao "outro" - sendo o outro, nesse caso, uma figura de autoridade. Enfim, precisa aparentar independência e rebelar-se, pois não "se garante".

Qualquer psicólogo diria que isso revela apenas insegurança, além de imaturidade. Nesse caso, uma imaturidade incompatível com quem pretende ser um dia uma "potência mundial". Por um estranho paradoxo, ao embarcar na retórica antimericana, o País recusa-se a ter voz própria sobre temas candentes das relações internacionais. Isso ocorre em casos como o do Irã, em que o Itamaraty, para afrontar os EUA, não hesita mesmo em se isolar internacionalmente, dando um tiro no próprio pé. Lula e seus aduladores abraçaram a defesa incondicional - faço questao de repetir - de regimes ditatoriais e genocidas em nome do antiamericanismo, e não dos interesses nacionais brasileiros - e a defesa da democracia e dos direitos humanos, queiram ou não os lulistas, é do interesse da sociedade brasileira. O resultado é duplamente contraproducente: além de se associar ao que de pior existe na humanidade, o País demonstra falta de um pensamento próprio a propósito desses temas, em nome de um geiselianismo de quinta categoria. Afinal, o Brasil não tem nada a dizer ao mundo sobre democracia e direitos humanos? Esses temas não estão na pauta de sua agenda internacional?
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Façam o seguinte exercício: imaginem que um dia os EUA resolvam dar uma guinada e mudem radicalmente sua política em relação ao Irã ou a Cuba. Que passem a defender as ditaduras desses países, com os quais estão em guerra há décadas. O que fará o Itamaraty lulista? Persistirá em sua política atual ou irá ajustá-la às novas condições, mudando o discurso anterior para adequá-lo à nova posição norte-americana? Em qualquer caso, onde está uma posição firme e definida do governo brasileiro na questão, baseada na defesa dos interesses nacionais, e não nos movimentos da Casa Branca?

Vez ou outra, os defensores da diplomacia lulista se referem às "mentes colonizadas" que gostariam que o Brasil regredisse à condição de colônia e ao "alinhamento automático" com os EUA. Curiosamente, são os mesmos que advogam o alinhamento automático - aí sim - com as piores ditaduras do planeta, por nenhum motivo aparente senão mostrar "soberania". Apóiam a parte podre da humanidade porque os EUA estão do outro lado. Dificilmente alguém achará exemplo melhor de como funciona uma mente colonizada, incapaz de pensamento e ação próprios.

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Está mais do que na hora de o Brasil se livrar de sua subordinação mental aos EUA. O caminho para isso é mostrar que defende a democracia e a liberdade como princípios válidos universalmente, e que não hesita em fazê-lo por causa de quem quer que seja. Nunca antes na história a diplomacia brasileira foi tão subserviente. E indecente.

quinta-feira, março 11, 2010

A PROPÓSITO DE REAÇÕES EXAGERADAS

Alguém escreveu que minhas reações a alguns leitores são "exageradas". Não são, não. Basta comparar minhas respostas ao que dizem alguns comentários para verificar que não há exagero nenhum de minha parte, nem nos argumentos, nem na linguagem. Não há como exagerar a repulsa ao totalitarismo e à barbárie. Por mais veemente que eu seja ao rechaçá-los, ainda será pouco diante da enormidade que é o culto à servidão. Na verdade, acho até que sou bastante suave com quem defende essa tara, essa aberração.
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Além do mais, polidez excessiva é sinal de hipocrisia ou de auto-censura politicamente correta. E, como eu já disse, se a linguagem não foi inventada para se dizer o que é preciso dizer, para que serve então?
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LULA E EICHMAN (OU: A BANALIDADE DO MAL REVISITADA)


Adolf Eichman foi um criminoso de guerra nazista responsável por milhares de mortes de judeus e outras minorias na Segunda Guerra Mundial. Durantes anos ele viveu escondido na Argentina, até que, numa operação ousada, um comando israelense o capturou em Buenos Aires, em 1960. Julgado em Israel por crimes contra a humanidade, foi condenado à morte na forca e executado.

Em seu julgamento, Eichman surpreendeu a muitos, pois não aparentava ser o monstro de sadismo que seus crimes faziam crer que ele era, mas, antes, um sujeito comum, um cinzento e inexpressivo burocrata. Sua linha de defesa tornou-se famosa: ele, Eichman, estava apenas cumprindo ordens. Tal argumentação daria origem a um conceito que a filósofa judia alemã Hannah Arendt, presente ao julgamento, imortalizaria num livro famoso: a "banalidade do mal"

Para Eichman, as ações que cumpriu, como a deportação de milhares de pessoas para a morte em campos de concentração, eram decisões morais porque, afinal de contas, ele estava cumprindo determinações superiores, amparadas na legislação alemã da época. Para ele, era preciso respeitar a legislação. O fato de essa mesma legislação decorrer de um Estado totalitário, e respaldar massivas violações dos direitos humanos, não fazia diferença. Era irrelevante. O importante era que os trens cheios de gente para o matadouro fossem despachados na hora, e que a "Solução Final" do "problema judaico" fosse alcançada, conforme estabelecera o Führer Adolf Hitler.
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Luiz Inácio Lula da Silva é o atual presidente do Brasil. Diante da greve de fome de opositores à ditadura comunista dos irmãos Castro em Cuba, ele saiu em defesa desta última. Comparou os dissidentes a bandidos e pediu respeito à legislação cubana que os colocou atrás das grades. Para Lula, é preciso respeitar a legislação cubana. O fato de essa mesma legislação decorrer de um Estado totalitário, e respaldar massivas violações dos direitos humanos, não faz diferença para ele, é irrelevante. O importante é que se respeite a decisão do Estado cubano de prender, torturar e matar presos de consciência. Para ele, Lula, isso é perfeitamente moral.

Num exercício de pura especulação histórica, imaginem Lula como o presidente do Brasil na década de 30, quando Adolf Hitler, o patrão de Eichman, era o Führer da Alemanha. Alguém lembra a Lula que os nazistas estão prendendo e torturando pessoas. Aí Lula responde, entre um "ou seja" e um "sabe":

“Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo alemães de prender as pessoas em função da legislação da Alemanha, como quero que respeitem a do Brasil”.

(Só lembrando: o presidente do Brasil na época, Getúlio Vargas, pensava de forma parecida - a deportação de Olga Benario para a Alemanha está aí para provar. Não por acaso, Getúlio é um dos ídolos de muita gente na esquerda.)

Agora pensem em Lula como o presidente do Brasil na década de 40. Em uma entrevista, ele assim se expressa sobre a greve de fome que o Mahatma Gandhi está fazendo contra a dominação colonial britânica na Índia:

“Eu acho que greve de fome não pode ser utilizada como um pretexto dos [da luta por] Direitos Humanos para libertar pessoas. Imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade”.

Gandhi equiparado aos bandidos do PCC. Conseguem imaginar?

Voltando à década de 30 e à Alemanha. Lula responde à mesma pessoa que lembrou das prisões de opositores políticos pelo regime nazista:

“Eu gostaria que não ocorresse [prisão de presos políticos], mas não posso questionar as razões pelas quais a Alemanha os prendeu, como não quero que a Alemanha questione as razões pelas quais há pessoas presas no Brasil”.

Então? Captaram a profunda sabedoria das palavras de Nosso Líder?

Adolf Eichman passou à História como paradigma de frieza burocrática diante da morte, de justificação do terror totalitário e de insensibilidade perante a dor dos outros. Um tipo monstruoso de criminalidade e desumanidade, sem sombra de dúvida. A perfeita expressão de uma mente psicopata, diriam muitos.

Já Lula é considerado, por muita gente dita inteligente, um líder respeitável e um amante da democracia.

A questão é: por quê?
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quarta-feira, março 10, 2010

A HORA DOS RUMINANTES


Alguém aí falou em respeitar a legislação?
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Um energúmeno tentou fazer uma graça. Eis o que zurrou o zé-mané sobre as barbaridades ditas pelo Apedeuta sobre Cuba, sua ditadura do coração:

Isso não deveria causar-lhe revolta, você apoia um homem como George Bush, que faz o mesmo, mudou a legislação para poder prender deliberadamente qualquer que fosse tido como suspeito de terrorismo sem prévio aviso, sem julgamento, me diga o porque do estranhamento, em tres anos teremos Sarah Pallin e tudo voltará como a era Bush.

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RESPONDO:
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Caro quadrúpede,

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Vou escrever de um jeito que, acredito, até você poderá entender. Pare um pouco de comer capim, tente equilibrar-se sobre os dois membros inferiores e preste atenção.
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Não apóio "o homem" George Bush. Quem apóia homens são parentes, esposas ou amantes. Ou seguidores de figuras messiânicas, como um tal Luiz Inácio defensor de tiranias. Apoiei e apóio, isso sim, a luta contra os terroristas islamitas, a derrubada de uma ditadura teocrática medieval no Afeganistão e de um tirano sanguinário no Iraque (onde, aliás, ocorreram ontem eleições livres e democráticas - quando isso vai ocorrer em Cuba?). Sei que isso parece incompreensível para você. Afinal, tiranias, assim como terroristas, devem ser, em sua opinião, não combatidas nem derrubadas, mas respeitadas, como disse o Apedeuta lambe-botas de assassinos.
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Deixe-me ver se entendi... Então Bush "faz o mesmo" que os irmãos Castro em Cuba, foi isso mesmo que você disse? Nesse caso, segundo esse seu raciocínio herbivoro, você terá de me responder as seguintes perguntas. Vamos ver se você é capaz.
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- Onde é que existem presos políticos, prisioneiros de consciência, presos por discordarem do regime: em Cuba ou nos EUA? Cite o nome de um jornalista preso por falar mal do Bush ou da Sarah Palin (ou mesmo do Obama).
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- Onde é que PRESOS DE CONSCIÊNCIA são torturados, a ponto de morrerem após lhes ter sido negada água em uma greve de fome: em Cuba ou nos EUA? A propósito: cite um caso de algum detido em Guantánamo que perdeu a vida.
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- Por falar em Guantánamo, diga que país tem umas duzentas guantánamos, cheias de gente presa por discordar do regime (crime de opinião). (Dica: fica perto dos EUA, e é governada há mais de cinqüenta anos por uma dupla que já despachou uns 100 mil para o além.)
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- Onde, em que país, uma ditadura se estende há 51 anos: em Cuba ou nos EUA? (Essa é facinho, vai...)
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Finalmente, tente responder esta:
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- Qual crime, qual delito, qual atentado terrorista cometeu ORLANDO ZAPATA TAMAYO para ter sido preso e fazer greve de fome até morrer? Assim como todos os outros opositores cubanos atualmente em greve de fome contra a castradura cubana: que crime eles cometeram? Mataram alguém? Assaltaram bancos? Explodiram bombas? Seqüestraram?
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Aí está. Responda a qualquer uma dessas perguntas e eu passo a fazer como Luiz Inácio: digo que os Castro têm o direito de prender, arrebentar e fuzilar quem quiserem, e que todos os que se opõem a isso são bandidos.
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Outra coisa: não sei o que você, caro leitor ruminante, entende por "estranhamento". Da minha parte, não estranhei em nada as declarações do Apedeuta sobre as vítimas de sua ditadura preferida. Fico com ânsia de vômito, claro, mas o que esperar de alguém que acha que Honduras é uma ditadura, que dá abrigo a terroristas condenados, que apóia incondicionalmente Hugo Chávez e defende as ambições nucleares de um maluco genocida como Mahmoud Ahmadinejad? Por que eu estranharia mais essa declaração de amor do Aiatolula ao totalitarismo?
..
"Mas Gustavo, por que você perde seu tempo respondendo os comentários de um imbecil como esse? Não percebe que é mais um desocupado idiota que quer apenas lhe provocar?" Mesmo assim respondo. Primeiro: porque esse tipo de imbecilidade, infelizmente, está nas altas esferas do governo atual. Segundo: porque a estupidez humana precisa ser exposta. Esta é a melhor maneira de combatê-la. Terceiro: porque a vergonha é dele, não minha.
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P.S1:Em suas declarações sobre os dissidentes cubanos, Lula afirmou que é preciso respeitar a legislação cubana. Nesse caso, está obrigado a reconhecer que sua prisão, em 1980, foi perfeitamente justificada. Afinal, era a legislação da época, não era?
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P.S2: O ministro das Relações Extravagantes, digo Exteriores, do governo Lula, Celso Amorim, tentou justificar em entrevista o que seu chefe disse sobre Cuba, dizendo que, ao criticar a greve de fome dos opositores da ditadura castrista, ele estava, na verdade, fazendo uma "autocrítica" por já ter participado de uma greve de fome quando esteve preso. A "greve de fome" de Lula foi uma palhaçada, à base de comida contrabandeada e balas Paulistinha, e hoje é lembrada por seus hagiógrafos como parte da lenda do "filho do Brasil". Orlando Zapata Tamayo morreu após definhar de fome e sede, sem direito sequer a um copo d'água. De que "autocrítica", portanto, Amorim estava falando?
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P.S3: Na mesma entrevista, Amorim deu a entender que, se os EUA retirarem o embargo a Cuba, a ilha se tornaria uma democracia. Além de não explicar que relação existiria entre o embargo norte-americano - que não impede outros países de comerciarem livremente com a ilha - e a ditadura cubana, o chanceler de Lula praticamente repetiu o irmão-ditador Raúl Castro, que culpou - adivinhem quem - os EUA pela morte de Zapata Tamayo. Para Amorim, assim como para Lula, só existem presos políticos em Cuba porque os EUA querem.
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É esse tipo de gente que governa o Brasil. E há quem os considere pessoas decentes e democratas.
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LUIZ INÁCIO, CÚMPLICE DE TIRANOS


Augusto Nunes matou a cobra e mostrou o pau em seu blog, ao descascar as declarações inacreditáveis do Apedeuta sobre os dissidentes cubanos, que ele comparou - talvez elogiando estes últimos, sei lá - a ladrões, traficantes, estupradores e assassinos. É mais uma ignomínia do mestre das ignomínias, o político mais cafajeste que já botou os cascos no Palácio do Planalto.
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Depois de mais essa barbaridade de Luiz Inácio, só posso ficar como Marlon Brando no final de Apocalipse Now: "O horror, o horror"...
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A HISTÓRIA NÃO ABSOLVERÁ OS PASTORES DA BRUTALIDADE

Os privilégios, mesuras e gentilezas dispensados ao assassino italiano Cesare Battisti ou ao narcoterrorista colombiano “Padre” Medina atestam que, em homenagem à companheirada, Lula promove a perseguido político qualquer bandido comum. O tratamento cruel reservado aos oposicionistas encarcerados em Cuba, sobretudo aos que ousam protestar no interior das cadeias, comprova que, para atender a ditadores companheiros, o presidente brasileiro rebaixa a bandido comum qualquer perseguido político.

“Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo cubanos”, acaba de decretar o rábula estagiário que, preso durante uns poucos dias ─ por determinação da Justiça e do governo brasileiros, segundo o raciocínio cafajeste do próprio Lula ─ entrou na farra da anistia, embolsa uma pensão mensal injustificável e segue distribuindo dinheiro aos sócios do assalto legalizado.

“Eu acho que greve de fome não pode ser utilizada como um pretexto dos direitos humanos para libertar pessoas”, continuou o monumento à ignorância jeca que nunca leu uma linha sobre as lutas pela independência da Índia, que nem faz ideia de quem foi Mahatma Gandhi, que não sabe o que é resistência pacífica.

“Imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade”, completou o chefe de governo que, por viver cercado de delinquentes, age como se a atividade política fosse uma atividade ilícita como outra qualquer. Nem os carcereiros fizeram comentários tão repulsivos sobre o grupo de cubanos castigados por crimes de consciência. Condenado em 2003 a três anos de cadeia, o pedreiro Orlando Zapata Tamayo morreu no 85° dia da greve de fome a que recorreu para protestar contra torpezas jurídicas que multiplicaram por dez o tempo de prisão. Foi acusado por Lula, entre um sorriso e outro ao lado do carrasco, de se deixar morrer.

Outros prisioneiros decidiram há dias repetir a saga de Zapata. Para justificar antecipadamente a aplicação da pena de morte oficiosa, o presidente que transforma ladrões vulgares em homens incomuns, e absolve liminarmente até homicidas, acaba de compará-los a militantes do PCC. A História não absolverá os pastores da brutalidade. “Lula é cúmplice da tirania dos Castro”, constatou em entrevista à Folha o jornalista e psicólogo Guillermo Fariñas, em greve de fome há 15 dias.

Em Cuba, gente presa sem motivo entra em greve de fome para tentar sobreviver com dignidade. No Brasil, gente inexplicavelmente em liberdade festeja a boa vida em almoços e jantares patrocinados pela Presidência da República. Os bandidos soltos em Brasília só se recusarão a comer se houver uma queda insuportável na qualidade das refeições servidas nos palácios do poder.

terça-feira, março 09, 2010

LULA, O INSUPERÁVEL


Vou me adiantar ao Reinaldo Azevedo e comentar aqui sobre o que li há pouco em seu blog. Trata-se simplesmente de um dos maiores absurdos ditos pelo mestre dos absurdos nos últimos oito anos. Na verdade, é uma das coisas mais calhordas que já li - talvez a mais estúpida e a mais repulsiva já dita por um chefe de Estado, em todos os tempos.

Dessa vez, Lula se superou em barbaridade. Até para os padrões dele e de sua política externa aloprada, a desfaçatez, o cinismo, a cara-de-pau, a safadeza - dêem o nome que quiserem, ainda será pouco para definir -, foi demais. Simplesmente inacreditável.

Lula perdeu completamente a decência, o pouco que ainda lhe restava de vergonha. Não esconde mais de ninguém que está do lado das piores tiranias do planeta, as quais defende de forma incondicional, e tenta mesmo transformar isso numa virtude. Não há sequer a hipócrita "neutralidade", a falsa neutralidade proclamada por Marco Aurélio Garcia em relação aos narcoterroristas das FARC: é apoio explícito mesmo. Vejam o que disse hoje o Líder Global, em entrevista à Associated Press, sobre a questão dos dissidentes da ditadura cubana. Preparem o Engov.

“Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo cubanos de prender as pessoas em função da legislação de Cuba, como quero que respeitem a do Brasil”.

"Temos de respeitar..." Temos mesmo, Lula? Uma legislação totalitária, como a que existe em Cuba, é igual a uma legislação democrática? Deve-se aceitar - mais que isso: deve-se "respeitar" (ou seja: reverenciar, aplaudir) - uma legislação de outro país que dá licença ao Estado para prender e torturar dissidentes, porque afinal é "a lei deles" e ponto final? É isso mesmo?

Sim, segundo Lula.

Se você faz parte da imensa legião de brasileiros que está entorpecida por décadas de propaganda esquerdista, e que ainda acha que Lula é um político respeitável e uma figura civilizada, vou tentar simplificar o que ele disse:

- Lula está defendendo que uma ditadura pode fazer o que quiser com os opositores.

- Lula está dizendo que a tirania cubana tem o direito de prender, torturar e matar, e que ninguém tem nada a ver com isso.

Onde foi parar mesmo aquele documento, a Declaração Universal dos Direitos do Homem?

(Um detalhe curioso: a legislação cubana, que deve, segundo Lula, ser respeitada, prevê um troço chamado "periculosidade pré-delitiva". O que é isso? O seguinte: uma pessoa pode ser presa mesmo sem ter feito nada, por ser considerada "potencialmente perigosa" para o regime. Ou seja: qualquer um pode ser preso na ilha-cárcere não pelo que fez, mas pelo que a ditadura acredita que ele possa fazer um dia... É esse tipo de aberração que Lula exige que todos respeitem!)

“Eu acho que greve de fome não pode ser utilizada como um pretexto dos [da luta por] Direitos Humanos para libertar pessoas. Imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade”.

Vocês leram certo. Sim, Lula comparou presos políticos, prisioneiros de consciência, opositores de uma ditadura, a... bandidos! Orlando Zapata Tamayo, o mártir pela democracia, imolado após 85 dias de greve de fome, no mesmo nível de um Fernandinho Beira-Mar!

Por falar em greve de fome, não custa nada lembrar: durante a ditadura militar no Brasil, militantes de esquerda presos também fizeram greve de fome. Vários deles - o que não era o caso de Tamayo, nem de mais quatro que estão agora fazendo greve de fome em Cuba - estavam condenados por crimes como terrorismo. Eles reivindicavam, entre outras coisas, serem reconhecidos como presos políticos, diferenciando-se dos presos comuns. Nenhum deles morreu.

O que diriam os defensores dos direitos humanos no Brasil na época, a OAB, a ABI, a Igreja dita "progressista" etc., se alguém viesse a público comparar os esquerdistas que faziam greve de fome contra a ditadura militar nos anos 70 a bandidos comuns? O que diriam se alguém, ainda mais um presidente de outro país, viesse a público dizer que eles não se diferenciam em nada de reles criminosos como assaltantes, estupradores e batedores de carteira? E que o regime que os mantém encarcerados tem todo direito de fazê-lo, de acordo com sua legislação autoritária? Teriam ou não o direito de chamar quem fez esse tipo de declaração de ENERGÚMENO e de CANALHA - mais que isso: de CÚMPLICE da tirania?

Diante do que está acima, seria lícito pensar que Lula atingiu o ápice da boçalidade. Que chegou ao limite da cafajestagem. Não faltaria mais nada a se dizer, certo?
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Mas falta. Leiam o que vem em seguida.

“Eu gostaria que não corresse [prisão de presos políticos], mas não posso questionar as razões pelas quais Cuba os prendeu, como não quero que Cuba questione as razões pelas quais há pessoas presas no Brasil”.

Lula não pode questionar as razões pelas quais a tirania cubana mantém mais de 200 pessoas presas por pedirem liberdade e respeito aos direitos humanos na ilha (No Brasil, não há ninguém preso por esse motivo - ainda não.) Mas questiona, e como, as razões que levaram a democracia hondurenha a aplicar o que está na Constituição e destituir um presidente golpista.

Lula não pode questionar os motivos que levam a teocracia iraniana de Ahmadinejad a desenvolver um programa nuclear para varrer Israel do mapa. Mas questiona - pior: ridiculariza - os motivos que levam manifestantes a denunciar a fraude nas eleições e a ser reprimidos com violência pela polícia do regime teocrático.

Lula não pode questionar a decisão de Tarso Genro de conceder refúgio político a um terrorista homicida. Mas questiona as razões pelas quais a Justiça da Itália o condenou por assassinato. É que a Itália, assim como Honduras, não é Cuba ou o Irã.

Saibam, portanto, todos os que acreditam na democracia e nos direitos humanos:

Para Lula, qualquer um que se oponha à ditadura dos Castro, ou a qualquer outra tirania de seu agrado, é um bandido.

Para Lula, qualquer um que defenda a liberdade na ilha ou no Irã merece ser preso, torturado e morto - ou "se deixar morrer", como ele disse de Orlando Zapata Tamayo.

Para Lula, terroristas de esquerda não são bandidos - apenas os dissidentes de regimes como o dos irmãos Castro é que o são.

Para Lula, ditaduras amigas podem fazer o que quiserem com seus opositores. Segundo ele, isso não é um problema da humanidade.

Esse é Lula, o democrata.

Esse é Lula, o humanista.

Esse é Lula, o líder global.

Há apenas uma pessoa capaz de superar Lula: o próprio Lula.