quarta-feira, junho 30, 2010

HONDURAS: UM ANO DE UMA FARSA GROTESCA


Ontem fez um ano do início de uma das maiores palhaçadas de que se tem notícia na história da América Latina. Em 29/06/2009, Manuel Zelaya, presidente de Honduras, foi destituído por ordem do Congresso e do Judiciário por ter tentado dar um golpe na Constituição do país. Ele foi deposto por tentar impor uma consulta ilegal e inconstitucional, que lhe permitiria eternizar-se no poder. Queria simplesmente governar o país como governa uma de suas fazendas.

O que fez o governo do Brasil, ao lado de Hugo Chávez da Venezuela e de Daniel Ortega da Nicarágua? Denunciaram o "golpe" - das instituições hondurenhas, não de Zelaya - e exigiram o retorno imediato e incondicional do golpista bolivariano ao poder.

O governo brasileiro, seguindo a orientação do Foro de São Paulo, foi mais além: patrocinou a volta clandestina de Zelaya a Honduras e o abrigou na embaixada em Tegucigalpa, a qual foi transformada, nos meses seguintes, em palanque político do candidato a ditador. Começou, assim, uma das maiores chanchadas de todos os tempos.
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Tenho muito orgulho do que escrevi sobre Honduras. Quem quiser, pode pesquisar no blog. Desde o dia mesmo do "golpe" - que só foi golpe na cabeça dos bolivarianos e de seus amigos -, mostrei aqui o que quase ninguém se dispôs a ver: que Zelaya foi deposto legalmente, de acordo com o que está na Constituição que ele tentou violar - em especial seu artigo 239. Mostrei - provei, para usar a palavra certa - que a atitude do governo Lula, ao permitir que Zelaya se instalasse na embaixada do Brasil em Tegucigalpa e a usasse como um quartel-general para instigar a insurreição e a guerra civil no país, era uma clara violação do direito internacional e da soberania de Honduras. Enquanto isso, o país, tal qual aldeia gaulesa, resistia à hostilidade internacional, puxada pelos bolivarianos frustrados e ressentidos, sofrendo um bloqueio diplomático que Cuba, por exemplo, não sofre atualmente. Durante dias, semanas e meses, fiquei em minoria, eu e mais uma meia dúzia de blogueiros, apontando esses fatos. Cada xingamento que recebi, cada ofensa que me lançaram, deixam-me ainda mais orgulhoso.

Em Honduras, o povo, a sociedade civil, as instituições democráticas, botaram um freio nas ambições caudilhescas de um demagogo bolivariano. Em nome da lei, com a lei, pela lei, enxotaram quem não a respeita. O governo Lula, por sua vez, entregou-se a um dos papéis mais lamentáveis e vergonhosos a que um governo já se prestou no exterior. Tentou aparecer como uma potência imperialista e terminou como cúmplice de uma farsa dos bolivarianos.
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Em Honduras, a turma do Foro de São Paulo tentou empurrar goela abaixo de todos um golpista como se fosse um democrata, enquanto rotulava democratas de golpistas. Contaram, para tanto, com a ajuda, no começo, de um governo Obama desorientado e de uma imprensa embasbacada. Tentaram, enfim, inverter a realidade, conseguindo enganar muitos desavisados no caminho. Mas, no final, perderam miseravelmente. Hoje, Honduras segue em frente, com as liberdades garantidas e as instituições preservadas. O mesmo não pode ser dito de outros países do continente, com voz ativa na ONU e na OEA, e que avançam rumo ao abismo totalitário. Pelo menos na pequena república da América Central, a democracia venceu. O mundo venceu.

Resta agora aos povos de Venezuela, Equador, Bolívia e Nicarágua, sem falar numa certa república mais ao sul, fazer com que o exemplo de Honduras não se torne exceção. Mas, a se depender do que se chama opinião pública nesses países, em especial no Brasil, os golpistas bolivarianos continuarão ainda a enganar os incautos. Sempre haverá idiotas úteis que se deixarão levar pela conversa mole dos inimigos da democracia. Em Honduras, ao menos, a razão prevaleceu.

CARTAS MARCADAS


Sou de direita. Isso significa que, segundo nos foi ensinado desde as fraldas, sou um reacionário, um bandido, um criminoso, um ser desprezível, um cão raivoso. Significa támbém que, como afirmou Lula outro dia, sou um troglodita, a quem deve ser negado qualquer espaço na política, ou mesmo o direito de existir. Só me resta, para ter algum lugar ao sol, converter-me ao lulismo, como fizeram alguns notórios trogloditas, como Collor e Maluf, hoje fiéis companheiros.

Como direitista, sou também bastante influente. Mando em todos os jornais e canais de rádio e TV, sem falar na internet, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Sou um multibilionário, e minha voz se faz ouvir por meio de uma multidão de jornalistas a meu soldo, bem como de políticos que comem na minha mão. A mídia e as instituições me pertencem, são uma extensão de minhas propriedades e interesses pessoais. Enfim, mando e desmando, como dizem por aí.

Pois é. Faço parte da "zelite", sou um dos donos do mundo. Então, por que não tenho nenhum candidato a presidente da República? Por que não estou representado por nenhum deles?

Se sou assim tão influente, se a direita é mesmo tão poderosa quanto dizem, como explicar que as eleições presidenciais no Brasil sejam uma disputa entre esquerdistas, com agendas e discursos tão semelhantes? Se minhas idéias são as dominantes, por que nenhum candidato as defende?

A resposta é óbvia: porque essa estória de "direita brasileira", de políticos "de direita", de "poder econômico" etc., não passa de conversa mole para boi dormir. Não é mais do que uma invenção para esconder a vigarice da companheirada. Se as eleições no Brasil provam alguma coisa, é que não existe direita organizada no Brasil. Infelizmente.
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Se alguém domina a vida política, intelectual e cultural no Brasil, não é a direita. É a esquerda. As eleições são um momento em que isso fica claro como água. Como um autêntico troglodita de direita, ou seja, como alguém que não reza pela cartilha da esquerda ou da centro-esquerda, e que acha que as alternativas políticas não se limitam à polarização PT-PSDB, sinto-me terrivelmente órfão a cada eleição presidencial no Brasil. A cada quatro anos, vemos e ouvimos o mesmo discurso, os mesmos slogans, até os mesmos rostos, competindo entre si para ver quem é mais de esquerda, e acusando o outro de não ser esquerdista o suficiente. Tem sido assim desde, pelo menos, 1994 (em 1989, tivemos Collor, mas dizer que esse era de direita é como dizer que Pinochet era um democrata; hoje, Collor bate ponto na base alugada do governo Lula). Em todas as vezes em que fui obrigado a votar, anulei meu voto. Por pura falta de opção. Sinto que neste ano não será diferente.

Como já afirmei outras vezes, vigora, no Brasil, um duopólio esquerdista, com petistas e tucanos disputando quem é mais estatizante, mais socializante, mais antiliberal. Na televisão, Dilma Rousseff se apresenta como a fiadora da política econômica do governo, que por sua vez foi herdada dos tucanos (que, por sua vez, como demonsta a relutância destes em defender abertamente as privatizações da época de FHC, fizeram-no com vergonha, quase pedindo desculpas). Enquanto isso, Serra se esforça para mostrar-se como mais desenvolvimentista do que Dilma (o que de fato é) e convencer a todos que irá manter o Bolsa-Família. Até na propaganda os dois estão parecidos, com a campanha de Serra quase copiando a ladainha demagógica do outro lado ("lutou contra a ditadura", "vem de família pobre" etc.). Onde está uma segunda opção?
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Vivemos uma espécie de reedição da política do café-com-leite, desta vez ideológica. Houve um tempo, na República Velha, em que paulistas e mineiros se revezavam na Presidência da República. Depois, o rodízio passou a ser entre generais e generais. Hoje, é entre petistas e tucanos. Ou seja: entre mais e menos esquerda. Qualquer que seja o vitorioso nas urnas em 3 de outubro, já há uma certeza: o próximo ocupante do Palácio do Planalto será um esquerdista.

Neste ano, esse teatro terá um novo ator. Melhor dizendo: uma atriz, que, não por acaso, vem também das fileiras esquerdistas. Marina Silva é a queridinha dos moderninhos, representante da esquerda ecológica. Nela votarão muitos bem-nascidos, muitos antigos eleitores do PT, decepcionados com a "traição" de Lula e de seu partido (ser esquerdista, me convenço cada vez mais, é sempre se sentir traído por alguém). O diferencial de Marina, digamos assim, é a questão do meio-ambiente. Quanto ao resto, é mais do mesmo, com pouca variação, inclusive no quesito "filha de família pobre" etc. (pelo menos ela não repetiu a boçalidade de seu ex-chefe, pois, ao contrário deste, ela estudou). Ela até já está se anunciando como a "outra Silva". Parece que ser de origem humilde, ter cara de coitadinho e ser de esquerda são o requisito fundamental para ser candidato a presidente no Brasil. E a direita, onde está?

Ante essa situação, o eleitor que não se identifica com petistas ou tucanos (ou verdes) só tem duas alternativas: anular o voto ou tapar o nariz e eleger o menos ruim de todos, no caso, Serra. É o chamado "voto útil" ou "voto por exclusão". É isso ou desperdiçar o voto em algum Cacareco ou Macaco Tião, um desses malucos que pipocam de quatro em quatro anos, por um partido nanico e reivindicando ser o "voto de protesto", e que em geral entram nessa apenas porque estão doidos para fazer parte da farra, crescendo à margem do mainstream. Há espaço inclusive para a extrema esquerda, com suas propostas que seriam apenas ridículas, se não fossem totalitárias. Mas nenhum candidato declaradamente de direita. Isso mostra a pobreza ideológica das candidaturas.

A ausência de uma opção política que vá além dos velhos chavões esquerdistas é gritante no Brasil. A coisa mais parecida com um candidato de direita que vi até agora foi um tal Mário de Oliveira. A chance de Mário de Oliveira ser eleito presidente da República é zero. Seu partido, o nanico PTdoB, cujo símbolo é um coraçãozinho verde-amarelo, é uma piada. Ontem, Mário de Oliveira desistiu de sua candidatura. Fez bem.


Muita gente, já totalmente ganha pela propaganda esquerdista, está comemorando esse fenômeno, como fez o próprio Lula. Acham que é um sinal de "progresso". É o contrário! A falta de candidatos de direita, ou mesmo de centro-direita, na disputa presidencial é um sinal não de progresso, mas de indigência. De empobrecimento da política. Pior que isso: é algo péssimo para a democracia. Cria um vácuo perigoso, que pode ser preenchido com soluções - aí sim a palavra se aplica - reacionárias e fascistas. Todo país sério, todo lugar que se preze, tem pelo menos um partido forte de direita. É assim na Alemanha, na França, na Itália, na Inglaterra, nos EUA - e é assim também em países vizinhos da América Latina, como o Chile, que recentemente trocou uma presidente de esquerda por um politico de direita, e está seguindo em frente. Além de garantir a alternância no poder, base mesma da democracia, a existência de partidos sólidos de direita é algo essencial para o pluralismo político, para o debate de idéias. Estatismo ou liberalismo, por exemplo. Em outros países, esse debate está bem avançado. No Brasil, ele sequer existe.
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A ausência de partidos e candidatos de direita leva à ausência de debate, e esta, ao inverso da pluralidade, à uniformidade ideológica. É esse o cimento com o qual se construíram os regimes totalitários. Por aqui, falar em privatizações, como bem sabem os tucanos, é um tabu. Por aqui, quem se disser abertamente de direita arrisca-se a ser alijado do convívio social, como se fosse um leproso. Toda direita é golpista, ensina Lula a seus devotos, e todos assinam embaixo. O resultado é uma forma de ditadura mental, em que discordar - no caso, não ser de esquerda - torna-se um pecado ou um crime. Em poucos lugares a expressão "pensamento único" teve tanto sentido quanto no Brasil de hoje.

Uma propaganda do José Serra na TV pega carona na onda da Copa do Mundo e defende a troca do PT pelo PSDB no governo como se fosse a substituição de um jogador por outro numa partida de futebol. A mensagem é que o jogador que não está rendendo deve ser substituído etc. Quase ninguém percebeu, mas se trata de uma confissão de cumplicidade. Afinal, só se substitui quem joga no mesmo time.
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E, antes que me acusem, pela enésima vez, de ser um reaça odiento, um brucutu antidemocrático, militante da TFP e membro do PIG - "partido da imprensa golpista", ou o que valha -, é bom lembrar: Winston Churchill, Ronald Reagan e João Paulo II eram de direita. Já Josef Stálin, Mao Tsé-tung e Pol Pot eram de esquerda.
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Sem a direita, as eleições viram um jogo de cartas marcadas. Como é pobre e atrasada a política no Brasil!

segunda-feira, junho 28, 2010

ONDE ESTÁ IARA LEE?


Notícia de hoje, do site da Folha de S. Paulo:

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Militantes incendeiam acampamento de verão da ONU em Gaza

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Atiradores palestinos mascarados atearam fogo nesta segunda-feira a um acampamento de verão da ONU (Organização das Nações Unidas) na faixa de Gaza, disseram autoridades e testemunhas. Este foi o segundo ataque do tipo em pouco mais de um mês.

Cerca de 25 militantes invadiram a unidade de recreação e atacaram guardas de segurança antes de incendiar uma das construções, disse o porta-voz da ONU, Adnan Abu Hasna.

Em 23 de maio, atiradores incendiaram um prédio depois de acusar as Nações Unidas de promoverem a imoralidade no território que está sob domínio islâmico.

John Ging, diretor para operações na faixa de Gaza da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), disse que o ataque foi um "ato covarde e desprezível".

"A UNRWA irá reconstruir o acampamento imediatamente e continuará seu programa de jogos verão que é tão importante para o bem-estar físico e psicológico das crianças de Gaza, muitas das quais estão estressadas e traumatizadas por suas circunstâncias e experiências", disse ele em comunicado.

Em grave crise financeira, a agência presta serviços a 4,7 milhões de refugiados palestinos no mundo árabe e organiza a cada ano acampamentos de verão na praia mediterrânea de Gaza, território controlado pelo grupo islâmico palestino Hamas desde 2007. No acampamento, cerca de 250 mil crianças podem participar de oficinas de artes, esportes e outras atividades.

Ninguém reivindicou a autoria do ataque, assim como ocorreu no primeiro incêndio, mas é provável que tenha sido ataque de extremistas islâmicos que se opõem aos acampamentos da ONU como anti-islâmicos.

Dois dias antes do primeiro ataque, um grupo militante autointitulado "Os Livres da Pátria" divulgou um comunicado criticando a UNRWA por "ensinar ginástica, dança e imoralidade a meninas".

Muçulmanos fundamentalistas, ou Salafis -- cujo objetivo de uma guerra global ou santa contra o Ocidente entra em conflito com os objetivos nacionalistas do Hamas -- aumentaram os ataques contra a faixa de Gaza nos últimos meses, tendo como alvo guardas de seguranças e sedes do grupo.

O Hamas também aumentou a repressão contra comportamentos e eventos que considera imorais e em abril enviou suas forças de segurança para interromper o primeiro grande show de hip-hop em Gaza.

O Hamas tomou o poder da faixa de Gaza das mãos do movimento secular Fatah, do presidente palestino, Mahmoud Abbas, durante confrontos em 2007. Israel, junto com Egito, fortaleceu o bloqueio sobre o território tomado pelo Hamas.

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Comentário
E agora, cadê os protestos internacionais? Onde está a onda mundial de protesto e revolta? Cadê as notas de repúdio e os manifestantes queimando bandeiras do Islã radical?
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Quando alguma ONG turca humanista e pacifista irá organizar um comboio humanitário com facas e porretes contra esse ato covarde e desprezível? E a cineasta brasileira Iara Lee, será que vai fazer uma superprodução sobre a violência dos salafistas? (E olha que os ataques foram contra a ONU, que, como mostram os fatos, está ao lado do Hamas em Gaza contra Israel.)
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Ou será que - não, aí já seria demais, mesmo para esse pessoal - vão culpar Israel e o governo direitista de Benjamin Netanyahu por esse ato também? Sei lá, é bem possível. Afinal, os judeus são os culpados por tudo de ruim que existe, não é mesmo?
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A pergunta é: se fosse um míssil israelense que tivesse atingido alguma escola ou hospital da ONU em Gaza - como NÃO aconteceu em 2009 -, será que a repercussão teria sido a mesma?
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Cadê a onda de indignação mundial? Cadê? Cadê?

sexta-feira, junho 18, 2010

JOSÉ SARAMAGO: A MORTE DE UM CEGO


Dizem que dos mortos não se deve falar, muito menos se é para se falar mal. Dizem também que a morte melhora as pessoas. Tenho sérias dúvidas quanto à primeira afirmação, e discordo radicalmente da segunda. Há heróis que morrem uma morte miserável e canalhas que perecem heroicamente e/ou cobertos de glória, e isso não muda absolutamente nada do que foram ou do que fizeram em vida. De fato, a morte, salvo as exceções de praxe, não melhora nem redime ninguém. Ocorre, muitas vezes, o contrário: em alguns casos, à medida que se vai conhecendo melhor e mais profundamente os detalhes da vida do defunto, a admiração ou a simples reverência que geralmente é de praxe manter nesses casos dá lugar à decepção, até mesmo ao asco. É o caso de José Saramago, escritor português ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, falecido nesta sexta-feira, 18 de junho.

Sei, sei. Dirão alguns que não é de bom-tom dissecar o cadáver em pleno velório, se não por condolências à família, pelo menos por respeito e educação. Mas é preciso abrir uma exceção, haja visto o clima de unanimidade besta que se criou em torno do escritor lusitano após seu falecimento. Além do mais, estou certo de que Saramago não faria qualquer objeção a essa minha intenção necrófila. Certamente, como ateu e comunista, ele não teria esse escrúpulo pequeno-burguês.

Que fique claro. Não falo aqui do Saramago escritor, que pouco li (tentei encarar A História do Cerco de Lisboa, mas parei lá pelo meio do livro, desestimulado pelo estilo ilegível e pela ausência de vírgulas e de parágrafos). Por esse motivo não vou entrar em disputas ou picuinhas literárias. Falo, sim, do "crítico da sociedade". Ou, se preferirem, do "polemista" Saramago, tão ou mais celebrado do que o autor de A Jangada de Pedra e de Ensaio sobre a Cegueira. Este último, aliás, virou filme, o que mostra que mesmo um anticapitalista ferrenho como Saramago não conseguiu resistir às sereias de Hollywood. Mas divago.

Nos obituários que já estão circulando pela internet, assim como nas inevitáveis homenagens que virão daqui para a frente, algumas das palavras mais repetidas são/serão "lúcido", "humanista" etc. Haverá inclusive quem dirá, em tom de puro panegírico, que o morto era um defensor de causas justas e louváveis. Como é comum acontecer nesses casos, tentarão inventar um outro Saramago, feito somente de virtudes, e a hagiografia tomará o lugar da biografia. A nota do Itamaraty que li há pouco dá bem o tom do que se lerá nos próximos dias: logo após lamentar a morte do escritor, esta elogia sua "conduta pessoal" e o enaltece como "um exemplo de atuação engajada em favor de um mundo mais justo".

Esperem aí. Lúcido? Defensor de um mundo mais justo? Têm certeza de que estamos falando da mesma pessoa? Do mesmo Saramago?

Ora, nenhum desses adjetivos se ajusta ao biografado. Saramago podia ser tudo, até um escritor de talento. Mas daí a dizer-se que era um paradigma de lucidez e de justiça, convenham, vai uma distância intransponível. Para começo de conversa - e isso ele fazia questão de que não esquecessem -, ele era comunista. Assim como Oscar Niemeyer, era um admirador do Gulag e de Stálin. E, assim como o arquiteto brasileiro, recusava-se a mudar. Em uma entrevista em 2009, ele chegou a se definir como um "comunista hormonal", o que me dá mais um motivo para considerar o comunismo uma espécie de doença, talvez das glândulas. Em outra ocasião, ele disparou todo seu pessimismo, afirmando que "a humanidade não merece viver". Nesse sentido, é forçoso admitir, ele também estava falando mais como comunista do que como literato: afinal, os regimes que Saramago considerava paradigmas do humanismo, como o de Stálin na ex-URSS, o de Mao Tsé-tung na China e o de seu ícone Fidel Castro em Cuba, também pensavam do mesmo jeito que ele. Tanto que deixaram atrás de si um rastro de 100 milhões de cadáveres. Assim como era comunista, Saramago carecia totalmente de qualquer noção histórica. Em 2002, ele comparou a situação dos palestinos a Auschwitz (!). (Posso até vê-lo naquele navio turco do comboio dos amigos do Hamas, investindo contra os soldados israelenses com uma faca e um porrete, em nome da "paz"...)

Mesmo quando parecia ter alguns laivos de lucidez - o que era raro -, Saramago revelava seu apreço pelo dogmatismo. Assim ocorreu em março de 2003, quando a tirania de Fidel Castro, um de seus ídolos, fuzilou três pobres-diabos que tentaram fugir da ilha-prisão do Caribe. "Até aqui eu fui", declarou então Saramago, dando a entender que os milhares de fuzilados pelo regime castrista em mais de quarenta anos de ditadura não haviam causado qualquer peso em sua consciência. De qualquer modo, ele deu a muitos a esperança de que tinha se rendido, finalmente, aos fatos. De que havia, enfim, aberto os olhos para a realidade do totalitarismo cubano. Poucos meses depois, porém, lá estava ele, abjurando sua abjuração anterior. É que, uma vez comunista, sempre comunista, se se é estúpido. Ou, como se dizia na época do stalinismo: entre acertar fora do Partido e errar com o Partido, é melhor ficar com a segunda opção...
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Saramago morreu aos 87 anos. Teve tempo de sobra para rever suas posições e se arrepender de erros do passado. Mas não o fez. Pelo contrário, ele se esforçou para desmentir, com o correr dos anos, o velho ditado de que ficamos mais sábios e serenos com a idade. Nos últimos tempos, Saramago havia se reduzido a um porta-voz e um tocador de tuba para Hugo Chávez e outros "altermundistas", como um Noam Chomski ou um Ignácio Ramonet da vida. Um fim melancólico para um homem que sempre cultivou a melancolia, poder-se-ia dizer.

Poderão afirmar que essa é uma visão limitada sobre Saramago, e que ele não pode ser avaliado unicamente por suas opções políticas etc. Pois eu digo que não se pode separar o Saramago-escritor do Saramago-militante, do Saramago admirador de ditaduras. Digo mais: grande parte de seu fã-clube, que é enorme tanto no Brasil quanto em Portugal, é devido não a suas obras literárias, mas a suas opiniões políticas. Foram estas, atrevo-me a dizer, mais até do que seus livros, o que levou a Academia Sueca a lhe premiar com o Nobel em 1998 (a lista de ganhadores do Nobel nos últimos tempos, como Harold Pinter e Doris Lessing, parece reforçar essa impressão; nem falo do Nobel da Paz, o mais festejado, em que o critério puramente político está acima de qualquer mérito - aí está Barack Obama para comprovar). Se Saramago fosse unicamente o autor de Memoral do Convento, O Evangelho Segundo Jesus Cristo ou de A Viagem do Elefante, ouso afirmar, dificilmente seria reconhecido fora de Portugal. O que o tornou realmente famoso foi sua posição ideológica. Nesse sentido, ele não diferiu muito de outros laureados com o Nobel que colocaram sua pena a serviço do totalitarismo, como Jean-Paul Sartre e Pablo Neruda.

Estou sendo crítico demais? Ainda bem. Somos demasiadamente respeitosos, excessivamente reverentes em relação aos escritores. Talvez por haver tão poucos. É um traço de nosso subdesenvolvimento mental. Tendemos a enxergar intelectuais e artistas como seres iluminados, quase deuses, dotados de uma razão superior, acima do bem e do mal, e não como feitos do mesmo barro dos demais mortais. Aliás, como demonstra a inutilidade pomposa chamada Academia Brasileira de Letras, eles seriam mesmo imortais, só faltando voar e andar sobre as águas. Daí a resistência, eu diria psicológica, em lembrar fatos desagradáveis de suas biografias. Politicamente, Saramago era um cretino, uma verdadeira besta, um bobalhão de babar na gravata. Alguém precisa dizê-lo. A bem da verdade. Do contrário, para que existe a palavra escrita?

A morte de qualquer pessoa, ainda mais de um escritor consagrado, é uma lástima. Mas nem por isso se deve fazer concessões à hagiografia e sacrificar a verdade. Se eu tivesse que escrever o epitáfio de Saramago, seria com estas palavras: Aqui jaz um intelectual, mas não um sábio. Ou: Aqui jaz um escritor, não um humanista. Esta é a maior homenagem que posso fazer a ele.

quarta-feira, junho 16, 2010

RESPONDENDO À IRRACIONALIDADE

Um ditado que ouvi há não sei quanto tempo diz que quem está dominado pela irracionalidade é imune a fatos e argumentos. Mas vamos lá. Provavelmente, não vai adiantar nada para quem escreveu o comentário. Mas ainda deve ter sobrado algum ser pensante no mundo.
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Postei aqui algumas fotos mostrando todo o "humanismo" do Hamas e de seus amigos da "ONG" turca que aprontou aquela presepada em alto-mar contra Israel, a que muitos idiotas, por pura repetição mecânica, passaram a se referir como o "ataque" israelense a uma "flotilha humanitária". Como eu imaginava, alguém, que prefere o conforto do anonimato - como é corajoso esse pessoal! -, não gostou. E, como não podia deixar de ser, me deu mais motivos para defender Israel contra quem, como Ahmadinejad e seus paus-mandados do Hamas, querem vê-lo destruído. Aí vai o comentário. Volto em seguida.
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Agora me diga porque você não colocou algumas fotos das milhares de familias palestina vivendo em estado de calamidade sem água e sem comida como um imenso campo de refugiados?
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Ou talvez dos milhares de palestinos mortos injustamente ou presos injustamente... Quem sabe você conhecedor como é do lado " bom " da humanidade, consegue uma foto dos proprios Israelenses que mataram o único presidente disposto a resolver o conflito, os pobres e indefesos Israelenses o mataram como prova de civilidade não é mesmo?
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Fico no aguardo de uma destas fotos se você se interessar.
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GUSTAVO RESPONDE
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Meu caro eqüino,
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Certamente você não se deu ao trabalho de ler o PS que escrevi a meu texto "A verdadeira cara dos 'pacifistas'. Ou: os companheiros de viagem do terrorismo". Vou transcrever para você:
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P.S.: Tenho certeza de que os adoradores do ódio, ou simples almas ingênuas, sentindo-se talvez indignados com as imagens acima, descartarão o texto e bombardearão este escriba com links para sites mostrando fotos aterradoras de "atrocidades israelenses" contra "o povo palestino" etc. Nos links, deverá constar, sem dúvida, alguma foto de uma criança palestina morta e a frase "este era um terrorista?" etc. etc. Se estão planejando isso, sinto desapontá-los. Poupem seu tempo, e o meu também. Já conheço todos os truques desse pessoal. Para me desacreditar, não é preciso fazer uso de nenhum recurso gráfico: basta responder alguma das questões colocadas acima. Se conseguirem me convencer, com fatos e lógica, que estou errado, que Israel não tem o direito de se defender, então me disponho a embarcar no primeiro "comboio humanitário" a Gaza que aparecer. Organizado ou não por amigos do Hamas. Tentem fazê-lo.
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Que questões são essas de que falo acima? Vou resumir:
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- O que uma "ONG" de "pacifistas" estava fazendo armando uma provocação anti-Israel em conluio com os terroristas do Hamas?
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- Por que mesmo é que existe o embargo de Israel à Faixa de Gaza?
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Tente responder. Se você conseguir, repito o que já escrevi em outro post: eu viro um militante radical anti-Israel e embarco no próximo "comboio humanitário do Hamas" para furar o bloqueio em Gaza.
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Agora vamos ao seu, er, digamos, comentário. Vou tentar não ser mordaz.
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Por que não coloquei fotos de palestinos vivendo em condições subumanas em algum campo de refugiados etc.? Taí uma boa questão. Eu deveria ter mesmo colocado. Deveria ter aproveitado e colocado a pergunta: você sabe quem é o culpado pelos palestinos viverem assim? Antes que algum parvo viesse berrar mecanicamente "Israel, Israel", eu escreveria na legenda: o que os países árabes, como o Egito ou a Síria, fizeram até hoje pelo bem-estar dos palestinos refugiados? (Nem falo das causas do bloqueio a Gaza, porque aí já seria covardia...).
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Aliás, uma pergunta: será que a alimária que escreveu o comentário sabe que governo matou mais palestinos até hoje? Israel? Não: a Jordânia!!! Isso mesmo. Em apenas um mês - setembro de 1970 - o governo jordaniano matou mais palestinos do que todos os que morreram em confronto com Israel desde 1948. Mas - que estranho! - ninguém fala nisso hoje em dia. Ninguém organiza "comboios humanitários" contra Amã. Por que será?
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Nossa... Então há "milhares" (sic) de palestinos mortos e presos injustamente, é? Ah, esses judeus malditos... Ops, digo, esses sionistas malvados... Talvez fosse melhor eles pararem de se defender dos humanistas do Hamas e do Hezbollah, que só querem - vejam só - varrer Israel do mapa... Talvez fosse melhor a polícia deixar de prender assassinos e traficantes. Aí sim, teríamos "paz", não é verdade?
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Vou fazer a vontade ao distinto leitor anencéfalo e mostrar uma foto "dos próprios israelenses que mataram o único presidente disposto a resolver o conflito, os pobres e indefesos israelenses o mataram como prova de civilidade não é mesmo?" Aí está:

O cidadão acima chama-se Yigal Amir, extremista israelense que matou a tiros o primeiro-ministro (e não presidente) de Israel Yitzhak Rabin, em 1995, e que desde então se encontra preso em Israel, condenado à prisão perpétua. Por que Rabin foi assassinado? Porque assinou a paz com Yasser Arafat, em 1993, logo depois que este renunciou ao terrorismo contra Israel e reconheceu seu direito à existência. O assassino, já escrevi aqui, agiu sozinho. Muito diferente do Hamas. Na mesma época da morte de Rabin, aliás, o Hamas desencadeou uma onda de atentados terroristas com homens-bomba contra alvos israelenses. Por quê? Porque, assim como Yigal Amir, o Hamas se opunha ao processo de paz na região. Porque se opunha à solução de dois Estados, um israelense e outro palestino. E continua a se opor, com foguetes e homens-bomba. E muita propaganda.

Agora observem essa outra foto:


A imagem mostra o momento em que o presidente do Egito, Anuar Sadat, era assassinado por terroristas islâmicos, durante uma parada militar no Cairo, em 06/10/1981. Por que Sadat foi assassinado? Porque foi - atenção! - o primeiro presidente árabe que teve a coragem de reconhecer o direito de Israel existir e assinar um acordo de paz com Israel, em 1979. Quem o matou? Algum árabe ou palestino isolado? Algum louco solitário, como Yigal Amir? Não: uma organização terrorista islamita, que tinha entre seus membros o atual número dois da Al Qaeda. Nos moldes do que é o Hamas hoje.

A morte de Yitzhak Rabin foi pranteada pelos israelenses, que o consideraram um herói da paz. Seu assassinato foi deplorado por todas as pessoas de bem do mundo. Já o assassinato de Sadat foi festejado nos territórios palestinos e em vários países árabes, onde os assassinos, e não Sadat, foram homenageados como mártires. Precisa dizer mais?

Além do mais, de onde o leitor tirou a conclusão de que Rabin foi "o único presidente (sic) disposto a resolver o conflito"? Então todos os demais líderes israelenses, desde Davi Ben-Gurion, passando por Golda Meir e Menahem Begin - que assinou a paz com o Egito - não tinham nenhum interesse em resolver o conflito? É isso? Então eles, os israelenses, vivem em guerra porque querem, porque gostam da guerra, e não porque o inimigo - no caso, o Hamas, o Hezbollah, o Irã - jurou exterminá-los? Então a paz não tem nada a ver com os inimigos de Israel reconhecerem seu direito de existir e renunciarem ao terrorismo, como fizeram Sadat em 79 e Arafat em 93?

Ainda assim, como a estupidez, ao contrário da inteligência, é infinita, alguém repetirá, pela enésima vez, que a culpa de todos os problemas no Oriente Médio é de Israel. Que o terrorismo do Hamas só existe por causa do bloqueio a Gaza etc. Nesse caso, proponho o seguinte:

Imaginem que Israel acabe amanhã com o bloqueio a Gaza. O que o Hamas faria? Abandonaria o terrorismo e seus militantes soltariam pombas e passariam a cantar, de mãos dadas, hinos de paz? (A resposta já foi dada: em 2005, Israel se retirou totalmente de Gaza. O que aconteceu depois? Os ataques com foguetes do Hamas a Israel diminuíram? Pelo contrário: triplicaram!!!)

Não acharam o exemplo acima o suficiente? Então imaginem que Israel se retire, total e incondicionalmente, de TODOS os territórios palestinos ocupados - como de fato o fez em Gaza, em 2005, ou do Líbano, em 2000. O terrorismo islamita cessaria?

Não estão convencidos ainda? Então vou mais além: imaginem que Israel deixe de existir. Isso mesmo. Imaginem que, amanhã, o Estado de Israel simplesmente não exista mais, e todos seus habitantes, sei lá, voltem para a Europa. A pergunta é: o Hamas, o Hezbollah, o Irã deporiam as armas e desistiriam da "jihad" contra os "infiéis" (ou seja: todos os não-muçulmanos)? Sim ou não?

Pois é. Se você entendeu as perguntas acima, você matou a charada do que realmente está em jogo no Oriente Médio. Se não entendeu, infelizmente é porque seu cérebro já virou pudim e você não sabe.
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Mas é inútil repetir tudo isso aqui. Para quem tem bosta de vaca onde deveria haver massa cinzenta, não há razão que dê jeito. Para esse tipo de gente, pensar é ofensivo.
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E, finalmente:
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Cadê o video sensacional que a brasileira Iara Lee disse que vai desmentir os videos divulgados por Israel e que iria ser o maior sucesso de todos os tempos? A pipoca já esfriou.

sexta-feira, junho 11, 2010

O PERFEITO IDIOTA NORTE-AMERICANO ENTENDEU TUDO


E por falar em Goebbels...

Quem esteve por aqui dando o ar de sua (des)graça nestes dias foi o cineasta norte-americano e idiota útil profissional Oliver Stone. O diretor de JFK e de W (duas bombas que eu desrecomendo a qualquer um que queira manter a cabeça no lugar) veio para promover seu mais novo filme, Ao Sul da Fronteira, e, de quebra, puxar o saco de Lula e de Dilma Rousseff, com quem se encontrou (o que será que conversaram?). Tudo dentro do figurino "gringo-com-complexo-de-culpa-abraçando-os-inimigos-do-império".

Oliver Stone (ou "Stoned" - chapado, em inglês -, como é chamado por seus conterrâneos) é um dos maiores representantes da "esquerda holywoodiana", ao lado de outros notórios farsantes, como o balofo Michael Moore. Ao Sul da Fronteira é um lixo, não passa de uma peça de propaganda ideológica travestida de "documentário" sobre os governos neopopulistas de esquerda na América Latina, como os dos caudilhos Hugo Chávez e Evo Morales, que Stone, assim como outro perfeito idiota, o paquistanês Tariq Ali, acredita serem parte de um "eixo da esperança". No filme, ele aparece em animados bate-papos com Raúl Castro, Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa, os quais seriam os representantes do "novo" no continente - um ditador de plantão que substitui o irmão, ambos no poder há mais de 50 anos, entre outros seus replicantes, representantes do "novo", vejam só... Faz questão de servir de tapete e de palanque para que eles façam sua demagogia antiamericana e anticapitalista - ou seja: antidemocrática -, chegando ao ponto de mostrar o índio de butique Evo Morales, por exemplo, batendo uma bolinha, na linha "gente como a gente". Enfim, uma peça publicitária que poderia ter saído de algum panfleto do PT ou das oficinas do Departamento de Propaganda do Partido Comunista Cubano. Frei Betto e Emir Sader devem estar babando de inveja.

Stone também entrevista, no filme, Lula. Para ele, o Apedeuta também é da corriola bolivariana. O Filho do Barril aparece discursando, digo, conversando com seu admirador americano, com sua proverbial modéstia. "Pela primeira vez o povo está sendo tratado como seres humanos neztepaiz", trombeteia o Noço Guia. Como se antes, digamos no período em que FHC esteve na Presidência, o povo brasileiro vivesse em jaulas e fosse tratado à base de ração e chicotada.

Bravatas lulistas à parte, tenho de admitir que o filme de Oliver Stone tem, pelo menos, um mérito. Ao colocar Lula ao lado de Chávez e Morales, ele viu algo que muita gente, no Brasil e no exterior, ainda se recusa a ver, apesar de ser cada vez mais evidente: que Lula, ao contrário do que muitos pensam (ou melhor: afirmam porque não pensam), é amigo e companheiro desses tiranetes, está com eles e não abre. É, na verdade, um cúmplice dessa corja.

Este é um fato para o qual poucos dão a devida importância, e que muitos ignoram completamente. Há quem acredite sinceramente que Lula é um antídoto ou um anteparo às loucuras de Chávez e Morales, um representante da "esquerda vegetariana" contra a "esquerda carnivora". Outro dia li um artigo que dizia que Lula é o "anti-Chávez". Na superfície, no estilo, pode até ser - Chávez adota o estilo sargentão, posando de Bolívar redivivo e inimigo das oligarquias, enquanto Lula faz o gênero conciliador, amigo de infância de quem antes esculhambava, como Sarney e Collor. Mas, na essência, há pouca ou nenhuma diferença entre o coronel venezuelano e "o Cara".

Lula não é o "anti-Chávez". Pelo contrário: ele está fechado com Chávez - e com Morales, Correa, Ortega, os Castro etc. - há muito tempo. Basta dar uma rápida olhada na política externa lulista - o apoio aos atentados à liberdade de expressão na Venezuela, a "neutralidade" em relação às FARC, os paparicos à ditadura totalitária de Cuba, o apoio a um golpista bolivariano em Honduras etc. - para constatar esse fato. O que isso tudo prova, senão o fato inegável de que a diplomacia brasileira, hoje, não passa de uma extensão dos delírios bolivarianos? Sem falar, claro, no maior tabu da imprensa brasileira nos últimos vinte anos, o Foro de São Paulo. Mas ainda assim há quem resista a considerar Lula parte da turma, e o veja como uma exceção, um democrata, um estadista e um líder respeitável. Por quê?

A resposta é óbvia, mas, como tudo que é óbvio, é difícil de ser assimilada pelos bem-pensantes. Chávez, Morales e Correa assumiram o poder em países em profunda crise, com a economia e as instituições em frangalhos, em alguns casos, como na Bolívia, à beira da convulsão social. Eles são, na realidade, o produto da degeneração econômica e política de seus países. Lula, ao contrário, herdou um país com instituições democráticas sólidas e a economia saneada (a tal "herança maldita" de que os petistas falavam até há pouco). Sua popularidade se deve unicamente ao que outros fizeram antes dele, e ao que ele se opôs anteriormente com fúria bravateira. Malandramente, cinicamente, ele agora reivindica essas conquistas como suas, colhendo o que outros plantaram. A ponto de hoje querer vender uma candidata à sua sucessão sob o slogan de que "não podemos voltar ao passado". E isso depois de ter tentado destruir todas essas conquistas no nascedouro! Em português claro, isso se chama estelionato. Mas pouca gente está prestando atenção.

O fato de ter tido a sorte de herdar um país economicamente estabilizado - com uma ajudinha de seus adversários tucanos - não faz de Lula o político sério e responsável que muitos na "zelite" acham que ele é. Muito pelo contrário. A economia, para Lula e os lulistas, é um meio, não um fim, para atingirem seus objetivos. Do mesmo modo que a democracia, para essa patota, não passa de um instrumento. O Lula verdadeiro, o Lula sem máscara, deve ser buscado nos escândalos de corrupção, no desprezo pelas regras democráticas, nas tentativas de calar a imprensa. Ou, então, na política externa, nas alianças com figuras como Chávez e Ahmadinejad. É a estabilidade econômica, da qual ele foi o principal inimigo no passado, que lhe garante o poder e permite suas aventuras no exterior a favor dos inimigos da democracia. É essa a essência do governo Lula, sua razão de ser, e não a manutenção do superávit primário e das metas de inflação. Sua relação com a economia, assim como com a democracia e a ética, é puramente instrumental, não filosófica.

É por não entenderem o que está acima que muitos analistas ditos sérios, em especial muitos economistas liberais, consideram Lula o máximo e seu governo um primor de lucidez e responsabilidade. Só podem fazer isso, claro, ignorando voluntariamente os laços dos lulistas com quem representa o oposto da liberdade e da democracia. Quando olham para Lula, vêem sinceridade e conversão genuína onde só há oportunismo e picaretagem política. Até um bocó como Oliver Stone percebeu isso.

A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR

Cadê o "vídeo bombástico" que a brasileira Iara Lee ameaçou divulgar, o qual desmentiria as imagens divulgadas por Israel e mostraria o que "realmente aconteceu" a bordo do navio Mavi Marmara em 31/05?
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Já se passou mais de uma semana e, até agora, nada. Estou esperando com impaciência. A pipoca já está esfriando.

Enquanto Iara Lee não mostra o video, fiquem com algumas imagens interessantes:




Membro do Hamas demonstrando todo seu humanismo contra Israel em meio à população palestina de Gaza. Reparem na criança ao fundo.

Alguns instrumentos da paz e do amor com os quais os pacifistas da ONG turca IHH receberam os soldados israelenses no navio Mavi Marmara.

Tem muito mais de onde eu tirei essas fotos. Mas não adiantaria muito colocá-las todas aqui. Na guerra de propaganda, Israel sempre sai perdendo. Afinal, ele já foi escolhido, há muito tempo, o lado criminoso e agressor, não é mesmo?

Contra a força da propaganda, a razão é impotente. Joseph Goebbels já sabia disso. Não por acaso, é dele a frase: "Uma mentira dita cem vezes torna-se verdade". Estamos vendo isso se repetir, hoje.

quinta-feira, junho 10, 2010

A VERDADEIRA CARA DOS "PACIFISTAS". OU: OS COMPANHEIROS DE VIAGEM DO TERRORISMO


Insisto na imagem acima. Faço questão de mostrá-la aqui, mais uma vez. Ela vale por mais de mil palavras. Mais até do que o video, que todos viram, que mostra claramente os "humanistas" do navio turco atacando e tentando linchar os soldados israelenses em 31/05. Observem a imagem com atenção.

A foto mostra, da esquerda para a direita, o cidadão turco Bület Yildirim e o palestino Ismail Haniah. Eles estão confraternizando, ao que parece Yildirim está recebendo uma placa ou algo assim das mãos de Haniah (ou entregando, não importa). Yildirim, embora não seja palestino, está usando um kafieh, o tradicional echarpe usado pelos palestinos, com a inscrição "Free Gaza Palestine", em inglês.

Quem são os dois cavalheiros na foto acima? Comecemos por Bület Yildirim. Ele é o fundador e presidente da "ONG" turca IHH, responsável pela organização da "flotilha humanitária" que tentou furar o bloqueio naval a Gaza e que foi interceptada, com os resultados que todos conhecemos, pela Marinha israelense. Um humanista, como se vê. .

E Ismail Haniah? É o presidente do Hamas. O Hamas é uma organização terrorista palestina apoiada pelo Irã de Mahmoud Ahmadinejad e que, assim como seu patrocinador iraniano, jurou varrer Israel do mapa. Foi criada no final dos anos 80, em oposição aos acenos da OLP de Yasser Arafat em direção à paz com Israel. Quando Arafat e Israel assinaram um acordo de paz, em 1993, o Hamas se opõs com violência, literalmente, desencadeando uma campanha de atentados terroristas com homens-bomba contra a população israelense, o que contribuiu para o naufrágio do processo de paz na região. Em 2006, um ano depois de os israelenses terem se retirado da região, o Hamas chegou ao poder na Faixa de Gaza, primeiro por meio de eleições, depois por um golpe de Estado. No golpe, os rivais do Hamas no movimento palestino, os militantes do Fatah, foram caçados pelas ruas e assassinados. Algumas fotos:

Atentado do Hamas a um ônibus lotado de passageiros israelenses, Jerusalém, 25/02/1996: 25 mortos e 80 feridos.




Bomba do Hamas em restaurante em Tel-Aviv, 17/04/2006: 11 mortos.


Desde que chegou ao poder em Gaza, o Hamas de Ismail Haniah tem intensificado os ataques com foguetes a alvos civis israelenses, que provocaram, inclusive, a guerra com Israel, em fins de 2008. Também tratou de impor, no território por ele dominado, a sharia, a lei islâmica, submetendo a população palestina de Gaza a um regime de terror religioso - uma antevisão do que pretende estender a todo o território de Israel e da Palestina caso um dia sejam vitoriosos. Nas escolas de Gaza, administradas pelo Hamas, crianças de seis anos de idade são ensinadas por uma versão local do Mickey Mouse a odiar os isralenses e a jurar matar os judeus. Foi para impedir os extremistas do Hamas de receber armas que Israel estabeleceu, em 2007, o bloqueio a Gaza, que a "ONG" IHH de Bület Yildirim tentou furar.

O Hamas não quer a paz. Quer a guerra, a eliminação do Estado de Israel. Não quer saber da solução de dois Estados - um israelense, um palestino - convivendo lado a lado. Quer, isto sim, aniquilar Israel e estabelecer uma teocracia islâmica em seu lugar, semelhante a do Irã. Essas verdades são tão evidentes que me dá até uma certa vergonha repeti-las. O que explica, então, a foto em que seu chefe máximo, Ismail Haniah, aparece ao lado do "humanista" Bület Yildirim? O que explica as ligações entre a IHH e o Hamas? E por que raios quase ninguém se lembrou disso nos últimos dias?

A resposta para as duas primeiras perguntas, mesmo correndo o risco de parecer repetitivo, está na cara, só não vê quem não quer (ou quem já está totalmente cego, surdo e idiotizado pelo ódio antissionista): a tal "flotilha da liberdade" organizada pela "ONG" turca com laços com o Hamas não tinha nada de "humanista" ou "pacifista". Pelo contrario: era tão-somente uma provocação; seu objetivo não era entregar comida e remédios aos palestinos, mas sim armar uma armadilha para criar um incidente internacional passível de exploração propagandística contra Israel. A oportunidade surgiu quando os soldados israelenses interceptaram um dos barcos, com o objetivo de inspecionar a "carga humanitária". Foi aí que os "pacifistas" entraram em ação, caindo de pau em cima dos israelenses. Com que finalidade? Provocar uma reação dos militares, que, pegos de surpresa, ameaçados de linchamento, não tiveram outra saída senão se defender da maneira como soldados são treinados para fazê-lo. Tendo alcançado o que queriam - nove mortos, mais dezenas de feridos, inclusive do lado israelense -, a tropa de choque anti-Israel pôde, então, posar de vítima e colher os frutos de mais essa vitória no terreno da propaganda e da guerra psicológica - imediatamente, antes que o episódio fosse esclarecido, a "opinião pública mundial" se insurgiu contra a "brutalidade" e a "truculência" de Israel, exigindo o fim imediato do bloqueio à Faixa de Gaza.

E o Hamas nisso tudo?, poderiam perguntar. O Hamas pratica essa tática há anos, apenas com menos sutileza: em todos os seus atentados, como nos mísseis lançados contra Israel, seus assassinos fazem questão de envolver a população civil, infiltrando-se entre ela, com o objetivo de levar Israel a uma reação sangrenta. Foi assim que agiram na última guerra na região, em 2008/2009, quando usaram até não poderem mais a população civil de Gaza - de preferência velhos, mulheres e crianças - como escudos humanos e chamarizes da represália israelense. Os terroristas só têm a ganhar com isso, assim como os "pacifistas" do Mavi Marmara só tinham a ganhar ao atacar os soldados com facas, canos de ferro e tiros. Por quê? Porque a "causa" dessa gente É IRRIGADA COM SANGUE INOCENTE. Só isso.

Mulher-bomba do Hamas antes de entrar em ação. Note o olhar da criança, ansiosa para chegar ao "paraíso" e levar alguns "infiéis" consigo.

Manifestação do Hamas. Note como eles cuidam bem das crianças...

É impressionante como quase ninguém percebeu o tamanho da farsa. É impressionante como quase ninguém se deu conta de que, por trás das manifestações de "indignação" contra o "ataque" israelense, estavam as mesmas forças, e os mesmos interesses, que alimentam o terrorismo islamita. Caíram, quase todos, em um imenso golpe de propaganda anti-Israel, sem se dar ao trabalho de ligar os pontos ou de sequer ver o que os videos mostram em detalhes. Formou-se uma imensa frente única anti-isralense, que foi do Hamas (que quase ninguém lembrou que existe) ao Conselho de Direitos Humanos da ONU. Nem a VEJA escapou.

O tamanho da farsa fica mais evidente a cada dia. Pouco depois da desastrada interceptação isralense - que, por ter sido desastrada, nem por isso deixou de ser necessária -, a mesma Marinha de Israel interceptou outro navio do "comboio humanitário", que havia ficado para trás, tripulado por ativistas irlandeses. Dessa vez, não houve nenhum morto, nenhum ferido. Pelo simples motivo de que os soldados não foram recebidos, como sucedeu no Mavi Marmara, com facas e porretes. Em vez disso, os 20 ativistas a bordo do Rachel Corrie aceitaram a inspeção e o barco foi escoltado até o porto de Ashdod, de onde a carga, devidamente inspecionada, seguiu para Gaza. Mas isso, claro, não rendeu manchetes. Em outro incidente, quatro militantes do braço armado do Fatah, as Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, foram mortos pelas Forças de Defesa de Israel quando se aproximavam, em um bote, da área de Gaza sob bloqueio. Segundo o Fatah, eles estavam em "treinamento". O que "treinam" exatamente os membros do braço armado de um movimento político, ainda mais dentro de uma área militarmente bloqueada? Certamente, não é como lançar flores ao mar.

Um detalhe importante: a bordo do navio irlandês interceptado pela Marinha israelense estava Mairead Corrigan Maguire, Prêmio Nobel da Paz de 1976 por seus esforços pela paz entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte. O próprio nome do navio - Rachel Corrie - faz homenagem a uma militante pacifista que morreu esmagada por um trator ao tentar impedir a demolição de casas palestinas. Isso seria uma "prova", na visão de muitos, de que o comboio era "humanitário". Pois eu pergunto: o que fazia uma ganhadora do Nobel da Paz num comboio de amigos do Hamas? E ainda mais num navio com nome de heroína pacifista? Responda quem puder.
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Aqui é que entro na questão principal deste texto. Acredito que Mairead Maguire seja uma pacifista legítima, que realmente crê no diálogo entre os homens de boa-vontade para resolver os problemas do mundo. Como acredito, também, que havia pacifistas genuínos a bordo dos demais navios. Quero acreditar, aliás, que haja membros da "ONG" turca IHH que sejam verdadeiros amantes da paz e que Iara Lee, a brasileira que fez parte da presepada, também seja, vá lá, uma seguidora de Gandhi e de Martin Luther King. Mas isso só torna mais surreal o fato de terem embarcado, literalmente, na nau dos insensatos. Como o video da Marinha israelense revelou, a recepção aos soldados israelenses não foi nada pacífica. Tampouco Ismail Haniah é um manso cordeiro e uma pomba da paz. Repito: o que pacifistas, sinceros ou não, faziam num comboio de amigos do Hamas? .

Do mesmo modo como os fanáticos do Hamas se infiltram entre os civis palestinos com a intenção de provocar Israel e causar um banho de sangue, os "pacifistas" da IHH usaram os demais ativistas a bordo para criar mártires. Entre os militantes e tripulantes dos navios, havia um bebê de colo. O que leva alguém a levar um bebê a uma zona de guerra? Amor pela humanidade?

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Militante do Hamas em ação contra forças de Israel. Notar a "carne barata" atrás do bravo combatente. Comparem com o que aconteceu a bordo do Marvi Marmara.



"Forças de segurança" do Hamas prendem militante do rival Fatah, em 2007. É assim que agem os "humanistas" do Hamas.
Tentei chamar a atenção de algumas pessoas com quem procurei debater nesses últimos dias para esses fatos, assim como para a ligação da IHH com o Hamas. Em vão. Nessa questão do Oriente Médio, a racionalidade parece ter tirado férias. O "mundo" já decidiu, há tempos, que Israel está sempre errado, não importa o que faça. Uma das respostas que recebi foi que a ação israelense, como o próprio bloqueio, se dirige contra a totalidade dos palestinos, e não contra o Hamas. Inútil lembrar que é exatamente isso o que os genocidas do Hamas desejam que todos pensem, usando sua própria população como escudos humanos. Para os adoradores da morte, a carne dos civis palestinos é barata. Assim eles conseguem mobilizar o "mundo" contra o inimigo e ainda por cima fazer pose de vítimas. Pelo visto, com a ajuda, consciente ou não, de quem cultiva um ódio irracional antissionista, quando não abertamente antissemita, estão conseguindo. Não ficaria surpreso se eles conseguirem convencer a todos que são Madre Teresa de Calcutá.
E agora volto aos pacifistas a bordo do "comboio humanitário". Das duas uma: ou eles não sabiam o que estavam fazendo, logo são idiotas úteis, ou sabiam, e nesse caso são mais do que simplesmente ingênuos a serviço de uma causa que desconhecem: são cúmplices do terror. Quem souber uma terceira opção, por favor a apresente.
Na época da Guerra Fria, uma expressão que ficou famosa para designar idiotas úteis, incautos que, por excesso de idealismo ou ingenuidade - ou as duas coisas juntas -, colocavam-se, sem o saber, ao lado do totalitarismo comunista contra a democracia, era "companheiros de viagem". Poucas vezes essa expressão ajustou-se tão bem aos pacifistas que, por qualquer motivo que seja, aceitaram fazer parte de mais essa gigantesca farsa contra Israel.
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E só para terminar: quantas vezes você viu a foto acima mostrada na imprensa, na última semana?

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O chefe do Hamas, Ismail Haniah (o mesmo da foto lá de cima), em um momento de pura ternura e humanismo: mais um futuro mártir para Alá...
P.S.: Tenho certeza de que os adoradores do ódio, ou simples almas ingênuas, sentindo-se talvez indignados com as imagens acima, descartarão o texto e bombardearão este escriba com links para sites mostrando fotos aterradoras de "atrocidades israelenses" contra "o povo palestino" etc. Nos links, deverá constar, sem dúvida, alguma foto de uma criança palestina morta e a frase "este era um terrorista?" etc. etc. Se estão planejando isso, sinto desapontá-los. Poupem seu tempo, e o meu também. Já conheço todos os truques desse pessoal. Para me desacreditar, não é preciso fazer uso de nenhum recurso gráfico: basta responder alguma das questões colocadas acima. Se conseguirem me convencer, com fatos e lógica, que estou errado, que Israel não tem o direito de se defender, então me disponho a embarcar no primeiro "comboio humanitário" a Gaza que aparecer. Organizado ou não por amigos do Hamas. Tentem fazê-lo.

LULA, O BIRRENTO


"- Me larga! Eu não quero ser salvo!"
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"Por pura birra", urrou o maior pacifista a andar sobre a Terra desde Gandhi, ao mencionar por que, em sua "opinião pessoal", a ONU decidiu manter as sanções a seu amigo Mahmoud Ahmadinejad do Irã. Deve ser mesmo. Afinal, só pode ser birra impor sanções a um regime que, entre outras maravilhas:

- desenvolve há anos um programa nuclear secreto, e se recusa a permitir inspeções da AIEA;

- patrocina o terrorismo islamita em pelo menos três países;

- é comandado por um sujeito que nega que o Holocausto existiu e que trabalha para torná-lo uma realidade;

- é uma teocracia islamita baseada na "sharia", a lei islâmica, onde a oposição é tratada com chicote;

- e etc., etc., etc.

Um regime, como se vê, tão humanista, tão democrata e amante da paz, comandado por gente tão cordata e sensível, que só quer ter armas atômicas para fins medicinais. Ou a "bomba atômica para fins pacíficos", como disse outro dia o José Alencar. E aí vem o Conselho de Segurança da ONU com mais sanções... É. Só pode ser birra mesmo.

Ou, então, Lula está se referindo a outra birra. Dessa vez a birra seria "deles", os estaduznidu. Barack Obama e Hillary Clinton devem ter implodido o "acordo" Brasil-Turquia-Irã e arquitetado as sanções a Teerã apenas por birra de Lula. Por pura ciumeira, para que ele não levasse as glórias de passar à História como o homem que "trouxe o Irã para a mesa de negociação" e que "levou a paz" ao Oriente Médio. Mais: para que ele não se impusesse como o líder do mundo. Malditos gringos despeitados, que não se conformam que um amarelinho lá de Garanhuns venha meter o bedelho onde não foi chamado e roubar a cena... Mas aí o caso não é mais de birra: é de internação psiquiátrica mesmo.

quarta-feira, junho 09, 2010

LULA, O SÁBIO


"Nós conseguimos em 18 horas o que os EUA não conseguiram em 31 anos", vangloriou-se o reformador do planeta e maior especialista em geopolítica desde Haushoffer. Ele está se referindo, claro, ao "acordo histórico" assinado em 17 de maio entre Brasil, Turquia e Irã, e que foi implodido logo em seguida pelas sanções da ONU ao regime de Mahmoud Ahmadinejad, confirmadas nesta quarta-feira por 12 votos contra dois e uma abstenção no Conselho de Segurança. "Trouxemos o Irã para a mesa de negociação", é a toada triunfalista que não pára de ressoar. Afinal, não era o que o mundo queria?, indaga candidamente o comandante do mundo, para emendar, logo em seguida, com a cara mais lavada do universo, quase aos berros: pois eu fui lá e fiz!

Fez nada. Ou melhor: fez sim, mas papel de palhaço. De bobo da corte. De idiota útil da arena internacional. Um verdadeiro trapalhão, para dizer o mínimo. Ou cúmplice mesmo de um regime terrorista e potencialmente genocida, para ser menos caridoso.

Não, Lula e seus capachos não conseguiram "em 18 horas o que os EUA não fizeram em 31 anos". Não, ele e Celso Amorim não "trouxeram o Irã para a mesa de negociação". O que conseguiram, o que fizeram, foi apenas dar mais tempo a Ahmadinejad para que ele continue a fazer o que vem fazendo, e que motivou as sanções da ONU: enganar o mundo, negando-se a se submeter às inspeções da AIEA e continuando a enriquecer urânio para seu programa nuclear secreto. Mas não contavam com a pronta reação do mundo civilizado.

Com ou sem o tal "acordo", que Lula e sua equipe de propaganda festejaram, para usar uma expressão da moda, como a conquista de uma Copa do Mundo, o Irã continuará a enriquecer urânio para obter a bomba atômica. Com ou sem o "clima de confiança" cuja criação o Itamaraty insiste em dizer ter sido o objetivo do "acordo", o regime dos aiatolás continuará desdenhando a ONU e a AIEA. Isso não é assim porque eu quero que seja. Foi o próprio porta-voz da Chancelaria iraniana, no dia seguinte à assinatura do "acordo" em Teerã, que deixou isso bem claro. Ahmadinejad e sua Guarda Revolucionária, que é quem de fato controla o programa nuclear iraniano, não foram trazidos para a mesa de negociação coisa nenhuma. Até porque renunciar à bomba atômica está fora de cogitação por parte de Ahmadinejad, para ele é algo inegociável. Com as sanções, isso fica mais difícil.

Lula está mentindo, como sempre, e sabe que está mentindo. Mas, como das outras vezes, tanto no plano externo como internamente (lembram do mensalão?), ele acha que vai se dar bem e convencer a muitos idiotas, que não faltam, repetindo essas mentiras. Foi assim no caso de Honduras, onde até hoje há quem jure que o Brasil apoiou um democrata contra golpistas, e não o inverso. E está sendo assim agora, inclusive com o vazamento malandro de uma carta de Barack Obama, que supostamente instruiria o governo brasileiro a assinar o tal "acordo" com Teerã nos moldes do que foi firmado em 17 de maio, o que é mais uma grossa mentira (a carta não faz qualquer referência a aceitar que o Irã continue a enriquecer urânio, muito pelo contrário). Com os lulistas é assim: se "eles" (os EUA) não nos deixam posar de independentes, nós os criticamos por não terem nos deixado seguir à risca o que dizemos que eles nos mandaram fazer... É a "independência" antiamericana da diplomacia petista em ação.

Lula se comporta como se o mundo fosse um sindicato, e como se o Irã fosse uma democracia. Sua visão do que seria um acordo de paz no Oriente Médio não vai além de uma negociação salarial entre empresários e uma assembléia sindical no ABC paulista. Ou, então, de uma troca de cargos com os partidos da base alugada de seu governo. Seu conhecimento sobre política internacional e, em particular, sobre os problemas do Oriente Médio, é zero. Daí suas platitudes sobre conseguir, com seu charme e suas piadas de porta de fábrica, o que outros mais poderosos do que ele não conseguiram. Daí sua conversa mole sobre trazer o Irã para a "mesa de negociação". Daí sua comparação, feita no ano passado, entre os manifestantes torturados e assassinados pela polícia religiosa após a fraude nas eleições presidenciais iranianas e uma torcida de futebol cujo time perde um jogo. É esse "O Cara"? É esse o "político mais influente do mundo", segundo a Time? (na verdade, um dos, mas vá explicar isso para os lulistas...).

Nunca na história do mundo houve uma diplomacia tão patética quanto a do governo Lula. Nunca o Brasil colecionou tantos fracassos memoráveis, transformados em vitórias por uma imprensa chapa-branca e complacente. Nunca houve um presidente tão fanfarrão e tão absurdamente mentiroso e megalomaníaco. Nunca um completo ignorante se pavoneou tanto de ser um sábio e professor de relações internacionais. E nunca tantos caíram nesse conto-do-vigário. Nunca tanta gente endossou a loucura, tomando-a por sabedoria. E assim será, por muito tempo ainda. Pelo menos enquanto houver quem diga amém a essas fanfarronadas.

E A POLÍTICA EXTERNA LULISTA, FINALMENTE, ATINGE SEU MOMENTO DE GLÓRIA...


Mais uma vitória acachapante da diplomacia brasileira!

Mais uma vez, o mundo se rende ao talento, charme e simpatia brazucas!

Mais uma vez, o planeta reconhece nossa superioridade política e moral!

É o Brasil no caminho para se tornar uma superpotência!

Viva Lula, futuro presidente da Confederação dos Planetas!

Por 12 votos a favor e dois contra, e uma abstenção, o Conselho de Segurança da ONU aprovou hoje, 9 de junho, uma nova rodada de sanções ao Irã. Os dois votos contra foram do Brasil e da Turquia. A abstenção foi do Líbano.

Nem o Líbano, dominado em parte pelo Hezbollah e pela Síria, quis dar seu voto a favor do regime iraniano. Mas o Brasil votou contra as sanções.

É a diplomacia lulista mostrando toda sua competência!

É o mundo se rendendo, outra vez, a nosso charme, talento e simpatia!

É o planeta reconhecendo, por 12 votos a 2, nossa superioridade política e moral!

É o Brasil no caminho para se tornar um país respeitado por todos, com voz e lugar garantidos no seleto clube dos grandes potências!

Como um triunfo desses não pode vir desacompanhado, os tocadores de tuba de Lula e de sua diplomacia aloprada já têm pronto o discurso que leremos e ouviremos nos próximos dias:

- as sanções são um erro, não resolvem a questão; irão apenas levar ao endurecimento da posição iraniana etc.;

- o melhor seria cumprir o "acordo" de 17 de maio entre Brasil, Turquia e Irã, que teve por objetivo "criar um ambiente de confiança" com Teerã etc. etc.
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E já têm pronto também o que NÃO falarão:
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- Ahmadinejad não tem mostrado qualquer interesse em dialogar para deter seu programa nuclear e permitir inspeções da AIEA;

- o "acordo" com o Brasil e a Turquia foi apenas uma tentativa de Ahmadinejad ganhar tempo e continuar engabelando a todos, não tendo nada a ver com o que foi proposto pelas grandes potências em outubro de 2009;
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- o Irã, com ou sem os 1200 quilos de urânio levemente enriquecido a serem enviados à Turquia, continuará enriquecendo urânio em casa, com fins nada civis, e teve descoberta no começo do ano uma usina nuclear secreta;

- Ahmadinejad não esconde seu objetivo de aniquilar Israel;

- a alternativa às sanções, nesse contexto, é a guerra. Ou deixar Ahmadinejad livre, leve e solto para fazer o que quiser.

E por aí vai.

Nada disso será dito por aqui, é claro. Por estas bandas, continuará a farsa do Lula "estadista", que ousou "desafiar os poderosos do mundo". É um discurso muito popular.

No final, algum porta-voz do governo virá com a conversa de que somos os "campeões morais". E haverá quem assine embaixo, podem acreditar!

E assim, estará aberto o caminho para outro triunfo avassalador do Itamaraty petista. Talvez em Honduras.

O Brasil, ao lado da Turquia, isolado na defesa de Mahmoud Ahmadinejad e de seu programa nuclear.
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O Brasil, mais até do que o Hezbollah, defendendo o "direito" de o Irã produzir armas atômicas para fins medicinais...

É ou não é a glória?

terça-feira, junho 08, 2010

LULA, A PIADA INTERNACIONAL


Finalmente, o mundo se rende ao Brasil!
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Finalmente, somos um país importante!
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Graças a nosso presidente e à sua política externa, o Brasil é um sucesso!
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Viramos assunto dos programas de TV estrangeiros...
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...mas dos programas de humor!
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Está circulando na internet um video hilário. Ele mostra um sketch do programa humorístico israelense Latma, em que dois repórteres entrevistam um comediante que se faz passar por Lula da Silva. O assunto é o recente "acordo" celebrado com pompa e circunstância entre Brasil, Turquia e Irã. As respostas de Lula, enquanto bebe o que parece ser uma caipirinha, cercado por duas assessoras que não param de dizer como ele é importante, são o ponto alto da brincadeira.

O sarro que os israelenses tiram da cara do Nosso Líder é genial. Não vou dizer mais nada, para não estragar a surpresa. Quem quiser dar boas risadas e constatar como "O Cara" é visto em Israel pode conferir no Youtube. Digite "Lula paga mico em Israel" e divirta-se. Menos, claro, se você for petista.

A produção é meio mambembe e a caracterização de Lula, assim como a música que segue, são algo toscas (a música, por exemplo, está mais para mambo do que para samba, o que mostra como somos conhecidos por aqueles lados). Mas o video é muito bom, é uma das coisas mais engraçadas que vi nos últimos tempos. E inteligente também. Poucas vezes vi um personagem - e Lula, acima de tudo, é um personagem - ser desconstruído da maneira como os comediantes da Latma fazem com o Apedeuta. Lá está toda sua ignorância ("Israel não fica na Europa"?), sua boçalidade, sua vaidade sem limites, sua megalomania ("agora somos uma superpotência"). Outro video que está fazendo sucesso, e do mesmo programa, é uma paródia de We Are The World, em que os ativistas da tal "ONG" turca que armaram a provocação anti-israelense no navio Mavi Marmara aparecem cantando como conseguiram enganar o mundo posando de humanistas. "Ainda vamos fazer todos acreditarem que o Hamas é Madre Teresa", diz uma das estrofes. O riso é mesmo o maior inimigo da babaquice.

Os brasileiros gostam de se gabar de seu bom humor. É porque não conhecem os programas humorísticos de Israel. Comparados a estes, estamos há anos-luz de sermos realmente engraçados. Isso porque todo humor que se preza é sempre do contra, não admite contemporizações com quem quer que seja. Nesse sentido, nada mais idiota, nada menos inteligente, do que o tal humor brasileiro. Brasileiro não é bem-humorado. É bobalhão. Bombardeie-o com propaganda ufanista e megalomaníaca, mostre o atual governante como o homem mais importante da História desde os Faraós do Egito, e, em vez de cair na gargalhada, ele vai acreditar. Basta ouvirmos Lula repetir que agora, sim, somos um país respeitado no mundo, e cairemos feito otários, passaremos a repetir slogans oficiais como papagaios, agitando bandeirinhas, com o peito estufado de orgulho e felizes da vida. Viraremos todos propagandistas do governo, anestesiados, incapazes de enxergar o grotesco e o ridículo disso tudo. Em Israel, Lula já virou piada. Aqui, somos incapazes de entendê-la.

Com a Era Lula, a qualidade do humor brasileiro, que já não era das melhores, sofreu um declínio. Se, alguns anos atrás, ainda havia algumas boas sacadas e críticas criativas ao presidente orgulhosamente semi-analfabeto e que fingia não saber de nada que acontecia à sua volta, hoje, o peso do politicamente correto e da propaganda ufanista se impôs, sufocando quaisquer criatividade e ousadia. O resultado é que a reverência e a institucionalização tomaram o lugar da piada, da molecagem que caracteriza os verdadeiros humoristas. Humor hoje, no Brasil, é o Casseta & Planeta, é o Pânico na TV! Este último, aliás, começou com uma proposta ousada e anárquica, do tipo "nonsense sem limites", que remetia aos melhores tempos do TV Pirata nos anos 80. Depois, abobalhou-se, autocensurando-se para livrar políticos amigos de aparecerem em situações vexaminosas. Hoje, limita-se a um escracho do tipo pastelão, tirando onda com celebridades de quinta e posando de bons-moços e assistencialistas, como um Luciano Huck ou um Gugu Liberato. No quesito humor mesmo, está cada vez mais parecido com os humorísticos popularescos, como Zorra Total e A Praça é Nossa. Ou seja: um festival de asnices e de baboseiras, feitas por e para débeis mentais, dignas de quem tem um QI de ameba ou de quem não passou do jardim-de-infância. Se o humorismo verdadeiro tem uma função didática, ou melhor, se passa, necessariamente, pelo crivo da inteligência, então somos um dos povos menos bem-humorados do mundo. Babacas, seria a palavra mais adequada. Por estas bandas, os programas de humor já deixaram de fazer piada: viraram parte da piada.

Dizem que o brasileiro é um povo irreverente e galhofeiro, sempre pronto a rir de si mesmo e dos poderosos. Balela. Aí estão os programas humorísticos de Israel para mostrar quem é irreverente de verdade, e quem bate palma para políticos farofeiros e megalonanicos. A farsa, aqui, institucionalizou-se. Taí o lulismo que não me deixa mentir.

segunda-feira, junho 07, 2010

UM POUCO DE LUZ EM MEIO À ESCURIDÃO


Segue abaixo artigo de Christopher Caldwell, do Financial Times, publicado na Folha de S. Paulo deste fim de semana. Vocês verão que muito que eu venho dizendo desde o dia 31/05 está lá. Finalmente alguém na grande imprensa tocou no cerne da questão: por mais desastrada que tenha sido a ação militar israelense, a "flotilha humanitária" da "ONG" ligada ao Hamas foi uma provocação.

Provavelmente, não vai adiantar nada elencar aqui os argumentos que vêm em seguida, assim como não adianta lembrar que o Hamas quer destruir Israel e que já havia terrorismo contra Israel antes de o país ocupar a Faixa de Gaza, em 1967. Os adoradores da morte e inimigos de Israel - ou seja, uns 95% da humanidade, nestes dias - não dão a mínima para fatos e argumentos (e videos): já decidiram que Israel é sempre o culpado e o lado agressor, independentemente do que faça ou deixe de fazer. Mas fica o registro. E a pergunta: se Israel levantar o bloqueio a Gaza amanhã, estaria mais ou menos seguro? Em que isso iria fazer avançar a paz na região?
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Como sempre, é apenas uma pergunta. E, como sempre, ficará sem resposta.
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“Malfeito” e “estúpido” são os adjetivos que foram aplicados aos eventos da segunda-feira passada, quando soldados israelenses mataram nove passageiros e feriram inúmeros mais no navio turco Mavi Marmara.

A frota Gaza Livre, patrocinada por uma organização de caridade turca com laços com o radicalismo islâmico, tinha um objetivo humanitário: levar ajuda a Gaza. Mas como admitiram os líderes da frota, igualmente tinha um objetivo militar: quebrar o bloqueio a Gaza imposto por Israel em 2007.

Quando os participantes em um conflito borram a linha entre civis e combatentes, as boas opções desaparecem. Sob as circunstâncias, a ação não foi nem estúpida nem malfeita. Repeliu com sucesso um ataque às fronteiras de Israel, embora a custo consideravelmente mais elevado do que Israel desejaria.

Há um bloqueio a Gaza porque o Hamas, o partido islâmico que governa o território, quer Israel destruído. Nos últimos anos, foram lançados milhares de foguetes em cidades no sul israelense.

Pode-se discutir se o isolamento do Hamas é sábio, razoável, proporcional ou eficaz. Mas é outra questão se Israel tem o direito de reforçar um bloqueio numa zona de guerra.

As críticas ruidosas à ação israelense tendem a misturar os dois aspectos acima para dizer que porque a) o bloqueio israelense de Gaza é injusto, e b) os passageiros da frota se opõem ao bloqueio, consequentemente, c) no encontro entre Israel e os passageiros, Israel está errado, e os passageiros, certos.

Este é um ponto de vista ilógico e um modelo para a escalada da violência. Imagine o perigo se, na Guerra Fria, as organizações não governamentais do bloco soviético tivessem navegado pequenas frotas em águas dos EUA para protestar sobre o conflito racial americano.

Israel forneceu a evidência de que seus soldados estavam em perigo mortal quando chegaram ao Mavi Marmara -as imagens em vídeo de alta qualidade, que foram liberadas em horas. O governo mostrou que os passageiros trouxeram máscaras de gás e tinham pré-fabricado vídeos de propaganda.

O jornal “The Guardian” relata que três dos turcos mortos procuravam o “martírio” com a operação. Diversas fontes relatam ligações próximas entre o IHH, patrocinador da frota, e o Hamas.

SEM OPÇÕES
Mas as intenções daqueles no barco -se humanitárias, como disseram (publicamente) os organizadores, ou terroristas, como dizem os israelenses- não têm nada a ver com a justiça ou a injustiça da ação. Proteger fronteiras diz respeito à soberania, não a sentimento.

A intenção explícita dos ativistas em violar o bloqueio israelense torna quase certamente a posição precisa do barco menos importante.

A insistência, mesmo entre os aliados israelenses, na visão de que Israel se comportou de modo estúpido apoia-se na ideia de que havia outras opções. O jornalista americano Thomas Friedman e o escritor israelense David Grossman criticaram líderes de Israel por não atuar mais “criativamente”.

Israel foi responsabilizado pelas ações de outros -particularmente, para a deterioração em seu relacionamento com a Turquia. Este ponto de vista é promovido cinicamente por Suat Kiniklioglu, um porta-voz do partido turco AK, que diz que o incidente “danificou irrevogavelmente as relações turco-israelenses em nível bilateral”.

A deterioração das relações turco-israelenses ocorre desde que o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, trouxe o partido AK para o poder com a plataforma de tornar o país mais islâmico.

Não se pode reaver as boas graças do mundo muçulmano com atitude confiante, ou neutra, em relação a Israel. A hostilidade crescente da Turquia em relação a Israel é uma causa, não uma consequência, do incidente do Mavi Marmara.

A coisa mais alarmante da semana passada não foi o ataque. Foi a maneira como a opinião na internet ecoou a opinião dos ativistas e as opiniões de elites políticas e jornalísticas seguiram essa mesma linha.

Que Israel tenha perdido a batalha da opinião pública é desatroso. Mais incômodo é que essa batalha tenha sido perdida antes que os fatos estejam esclarecidos.