sexta-feira, abril 15, 2011

DILMA, A HUMANISTA



Petralha não brinca mesmo em serviço. Mal terminaram de protagonizar a maior farsa da História do Brasil, que durou oito anos, e uma nova comédia já está sendo encenada.

Faz pouco mais de cem dias que uma tecnocrata desconhecida assumiu a Presidência da República em Banânia e já foi criado um novo mito político, capaz de rivalizar com o de seu antecessor e criador em cinismo e empulhação.

Dilma Rousseff está sendo vendida por seus apoiadores, antigos e recentes, como a anti-Lula. Não importa que ela só exista por causa do Apedeuta, que a retirou da obscuridade e a escolheu para sucedê-lo (ou melhor dizendo: para gerenciar o governo em seu lugar): o "estilo Dilma", dizem, é diferente. Cansados da fanfarronice e da discurseira infindável do descobridor do Universo, muita gente, compreensivelmente, viu no silêncio enigmático de Dilma um alívio. Não perceberam que isso também é uma manobra política. Sai de cena o animador de auditório e entra a Muda Decorosa. Logo, concluem os "analistas", o governo Dilma é diferente do governo Lula. É outro governo, enfim.

O que leva gente aparentemente inteligente e em pleno domínio de suas faculdades mentais a essa fantástica conclusão? Além da diferença, digamos, de estilo pessoal - falastrão e megalomaníaco, no caso de Lula, e mais reservado e contido, no de Dilma -, apenas duas coisas.

Primeiro: a economia. Dilma anunciou privatizações em setores como aeroportos e - o horror, o horror! - bateu-se pela aprovação, no Congresso, do salário mínimo de 545 reais. É o governo da austeridade!, apressaram-se em anunciar os que vêem nisso uma ruptura com a irresponsabilidade orçamentária e o populismo desbragado da Era Lula.

Segundo: a política externa. Mais precisamente, os direitos humanos. Aqui, a Soberana teria tratado logo de demarcar sua posição em relação à atitude de Lula e de Celso Amorim, ao denunciar o apedrejamento de mulheres no Irã do companheiro Mahmoud Ahmadinejad. É o fim da política externa delinquente de apoio a ditaduras!, alardearam, em júbilo, muitos dos críticos do governo lulista. Estes viram nisso a prova definitiva de que a diplomacia brasileira teria retomado o caminho da racionalidade, de que jamais deveria ter-se desviado, depois do namoro indecoroso com o que de pior existe na humanidade.

É claro que é mais uma balela. Mostro por quê.

Em primeiro lugar, se Dona Dilma resolveu mexer na política econômica, é porque percebeu o risco que esta representa para o ato teatral que está encenando. Trata-se, simplesmente, de mais um ziguezague, coisa que os petistas são useiros e vezeiros. O que está por trás dessa nova manobra é tão-somente garantir o poder, nada mais do que isso. Foi com essa finalidade que Lula, aconselhado por marqueteiros, resolveu lançar sua "Carta aos Brasileiros" em 2002, para acalmar os mercados, admitindo, assim, ter sido um bravateiro durante toda a vida. Dilma está seguindo o mesmo rumo, com a diferença de que está tendo de consertar a herança maldita deixada por Lula e por... Dilma. É algo que está em perfeita sintonia com a verdadeira ideologia do PT - a do "farinha pouca, meu pirão primeiro" (tradução: aparelhamento do Estado pela máquina sindical-petista devoradora de recursos públicos). Em outras palavras: se é conveniente, adota-se. E se o discurso anterior contrariava essas práticas, passa-se uma borracha e pronto. Nisso ela está só repetindo o que sempre foi a prática petista.

Com relação à política externa, a farsa é ainda mais clara. É aqui que se tem dito as maiores barbaridades nos últimos tempos. Cheguei a ouvir, de uma pessoa considerada sensata, que a nova atitude "humanista" de Dilma, em contraste com a política "pragmática" de seu antecessor (como se adular ditadores fosse sinal de pragmatismo, e não de delinquência...), seria o resultado de um compromisso íntimo da atual presidente, decorrente de seu passado como ex-presa política e torturada durante o regime militar. "Ela foi presa e torturada, logo, é natural que defenda os direitos humanos", tornou-se o mantra a ser repetido pelos incautos, que acreditam numa história com apenas uma versão e que os idealistas da Vanguarda Armada Revolucionária só queriam a democracia.

Poucas vezes se leu e ouviu mentira maior. Se Dilma resolveu mudar um pouco o discurso em relação ao Irã, condenando, "como mulher", a execução de adúlteras no país muçulmano, isso não se deveu a nenhuma conversão sua à causa da Anistia Internacional ou da Human Rights Watch, mas, novamente, a uma conveniência política. Depois do fiasco total da política externa megalonanica no Oriente Médio, manter a mesma posição calhorda no tocante ao regime de Teerã seria passar recibo de idiotice. E os petralhas são tudo - hipócritas, principalmente -, menos burros. Tivesse dado certo a jogada do acordo fajuto com o Irã, e não sido torpedeado como foi pela ONU, o Itamaraty teria mantido a mesma política?

Além do mais, uma coisa é condenar o regime do Irã, um país distante e um pária da comunidade internacional. Outra coisa, muito diferente, é fazer o mesmo com companheiros vizinhos. Fico cá pensando: quando será que a humanista Dilma Rousseff, ex-camarada Stela da VAR-Palmares, vai condenar as violações aos direitos humanos em Cuba ou o narcoterrorismo das FARC? Quando será que ela vai dizer uma palavra contra algum de seus companheiros do Foro de São Paulo? Nem precisa ir muito longe: basta condenar as depredações dos vândalos do MST. A democrata Dilma está disposta a fazer isso?

(Em tempo: Dilma jamais se disse arrependida dos anos de terrorismo, quando lutava de três-oitão na mão para que o Brasil se tornasse uma nova Cuba. Até agora, o máximo que ela fez foi declarar que "mudou com o Brasil". O que significa que não lamenta nem se arrepende da época em que participava de grupos que assaltavam bancos, sequestravam e matavam pessoas para implantar o comunismo no País. Pelo contrário: tem orgulho disso. Coisa de gente humanista e comprometida com os direitos humanos, como se vê.)

Muita gente, levada pelo ilusionismo oficialista, ignorância ou wishful thinking, ou tudo isso junto, está caindo nesse conto-da-Dilma-responsável-e-humanista. A ponto mesmo do delírio. Arnaldo Jabor, por exemplo, caiu de amores por Dilma Primeira e Única, a quem não cansa de elogiar por sua beleza (!?) e... cultura (!!!???). Dispenso de comentar o gosto estético do cineasta-que-virou-comentarista. Quanto à cultura, basta dar uma olhada em algum dos vídeos em que a Pudorosa aparece exibindo todos os seus dotes de elegância linguística e fluência verbal, para não falar em sua lógica perfeita (a última dela foi ter dito, na China, que o mundo está entrando, em pleno ano de 2011, na segunda metade do século XXI...). Coisa de deixar os grandes oradores do passado, como Cícero e Demóstenes, revirando-se no túmulo, de inveja.

"Ah mas ela é competente, entende muito de energia" etc. Nem vou comentar. Quem tem que dizer alguma coisa, aqui, é quem ficou no escuro em dois apagões recentes. No primeiro dos quais, a então ministra Dilma mostrou toda sua competência... para fugir (literalmente) de qualquer explicação convincente.

Quanto ao estilo discreto e recatado, nada de surpreendente. Ou você já viu, caro leitor, um subordinado querer aparecer mais do que o chefe?

Sempre me intrigou o fato de tantos atores serem de esquerda. Agora sei por quê. Ser esquerdista é mesmo encenar para a platéia. Os atores podem até mudar, mas o enredo continua o mesmo.

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