sexta-feira, abril 01, 2011

O País dos BBBobocas


Leio abismado a seguinte notícia, retirada da internet: “Brasil tem mais ex-BBBs do que arqueólogos”.

É mesmo um espanto!

Que alguém tenha tido a pachorra de contar quantos cretinos participaram, até agora, desse desfile de nulidades narcisísticas desesperadamente em busca da fama instantânea e descartável proporcionada por um dos programas mais imbecis de todos os tempos – e que acaba de completar sua 11ª (!) edição, meu deus do céu! –, é algo que talvez nem Freud explica. Agora, que esses candidatos a subcelebridades sejam mais numerosos do que os que se dedicam ao estudo da História e da Antiguidade, em um país de 190 milhões de habitantes, é simplesmente uma aberração, uma monstruosidade, um motivo de reflexão e – principalmente – de vergonha.

Um país que tem mais ex-integrantes de um reality show – que de "reality", aliás, não tem nada, sendo tão-somente uma gincana televisiva, e das mais estúpidas já concebidas, em que um bando de marmanjos sarados e gostosas, sem falar nos representantes das tais "minorias" (gays, lésbicas, transsexuais e o escambau), entre um merchandising e outro, fazem de tudo para aparecer e ficar ricos –, enfim, um país com mais isso aí do que arqueólogos ou professores de Arqueologia está passando recibo de Estado falido e de incompetência, está abaixo de merecer qualquer respeito. É algo que corresponde a uma confissão de inépcia, de incapacidade absoluta para produzir qualquer coisa boa e positiva para a humanidade. Outros países produzem cientistas, filósofos, escritores, historiadores e arqueólogos. O Brasil produz ex-BBBs às pencas. Sugiro exportá-los todos para a Antártida.

De certo modo, esse besteirol televisivo é mesmo um retrato perfeito do Brasil. Poucos programas conseguem mostrar, de forma tão eloquente, toda nossa indigência, toda nossa miséria cultural e intelectual. Um povo que não valoriza a educação – e não me venham dizer que é só o governo; é o povo mesmo, que elege analfabetos para a Presidência da República e a Câmara dos Deputados – merece, de fato, engolir esse lixo. Outros povos têm um Voltaire, um Shakespeare, um Cervantes, um Dostoiévski... O Brasil tem o BBB e o Pedro Bial.

Para que não digam que isso é só implicância e rabujice minhas, e que ignoro o fato de que essa bobajeira vem de programa similar na Holanda, terra que já deu ao mundo um Spinoza e um Rembrandt, aproveito para recordar que a TV é uma porcaria no mundo inteiro – e olhem que a TV brasileira, em que pesem seus BBBs, Datenas e Márcias Goldschmitts, nem está entre as piores... Mas em nenhum outro lugar do planeta a TV tem tanto poder de penetração e exerce tamanha influência ao ditar o comportamento da população quanto na Terra dos Papagaios. Sobretudo da molecada, que não sabe a diferença entre um gênio e um macaco.

Há mais aparelhos de TV per capita no Brasil do que geladeiras. Sem falar naqueles objetos esquecidos e desprezados: os livros. A maioria das cidades brasileiras não tem sequer biblioteca, e em cerca de 90% das casas será em vão buscar um único volume de Machado de Assis. (Aliás, a maioria dos brasileiros, tirando, talvez, o horóscopo e as placas de trânsito, jamais leu ou lerá nada em toda sua existência, seguindo o exemplo do Apedeuta, que elevou a ignorância a objeto de culto oficial.) E não digam, por favor, que a culpa é da pobreza – se fosse assim, cantores sertanejos e jogadores de futebol famosos seriam todos intelectuais. Além do mais, o que é mais caro: um livro ou um televisor?

A maioria dos brasileiros jamais ouviu falar de Goethe, mas aposto o que quiserem que quase todos sabem tudo que rolou e quem ganhou o último BBB. A propósito: quem, entre os que participam e os que perdem tempo assistindo a essa patacoada, tem a menor idéia de onde vem o nome do programa, retirado do romance 1984, de George Orwell – cuja estória se passa, justamente, numa sociedade totalitária, em que a liberdade individual deixara de existir, tendo dado lugar à vigilância onipresente e opressiva do “Big Brother” (o “grande irmão”)? Aliás, quem, entre esses, já ouviu falar em Orwell? Quem já leu algum livro dele – ou qualquer livro – na vida?

Uma das frases mais repetidas de Monteiro Lobato – tão repetida que já virou um lugar-comum – afirma que uma nação se faz com homens e livros. Se isso é verdade, o Brasil já deixou de ser uma nação faz tempo, se é que já foi um dia. Hoje, não passa de um gigantesco palco, um desfile infindável de nulidades que venderiam a mãe embalada para presente em troca de sucesso e grana. E que não fazem nada – absolutamente nada – para merecê-lo, além de aparecer e fazer micagens na frente das câmeras. E ainda vem o bobalhão do Pedro Bial e os chama de “heróis”... É triste. É o Brasil.

3 comentários:

fernando disse...

Gostei do texto, mas não adianta criticar...ainda que muitos o façam, esse tipo de "doença" vai permanecer por um bom tempo e como você mesmo disse...é o Brasil, o país onde todo mundo se acha importante...até o cidadão que compra um celular no crediário nas casas Bahia.

Tua mãe disse...

Fazia tempo que eu não lia tanta idiotice, tanto culto apenas ao que interessa, como se o entretenimento fosse um crime. Que mundo entediante seria o seu, caro Gustavo. Que triste seria se todos fossem iguais a você.

Enfim, o nosso jornalismo é feito assim e leva as pessoas a se sentirem inteligentes, cultas e engajadas se ajudarem a falar mal de tudo, a reclamar de tudo, a jogar a auto-estima de sua própria gente na lama, somos dirigidos a achar que tudo o que é nosso não presta. E o que aparentemente presta deve ser desmantelado pra parecer que não presta.

Fico aqui me perguntando... em quê essa matéria contribuiu para alguma coisa no país? Em que a vida do brasileiro vai melhorar por ter sido informado das suas observações idiotas? Pra que serviu isso? Que importância tem tais fatos na vida sócio-político-econômica dos leitores?
Repito: você é um asno tentando parecer inteligente. Vai dormir, velhaco!

Gustavo disse...

Caro "Tua Nãe" (???), muito obrigado por seu comentário tão sábio e inteligente. Suas observações são dignas dos espectadores desse tipo de programa televisivo, um exemplo de "entretenimento inteligente" (além do mais, importado, mas deixa pra lá).

Depois de ler tão sábias palavras de vossa senhoria, fiquei com vontade de queimar todos os meus livros. De agora em diante, vou me dedicar integralmente, como única atividade intelectual, a assistir 24 horas todos os dias a esse maravilhoso "reality show" e a outros do mesmo naipe. Quem sabe assim, depois de algumas horas sendo submetido a essa forma de lobotomia frontal, eu finalmente consiga chegar ao mesmo nível mental demonstrado por v.sa. nesse seu comentário típico de um BBB.

Muito obrigado, mesmo. Você é muito inteligente...