sábado, março 31, 2012

E SE FOSSE MAOMÉ?


Um leitor, o David, enviou-me um link para um comercial de Red Bull que foi tirado do ar pelo Conar, o Conselho Nacional de Regulamentação Publicitária. Ele mostra a famosa passagem bíblica em que Jesus está no barco com Pedro e outros apóstolos, que estão pescando. Jesus começa a andar sobre as águas. É por que ele é santo e coisa e tal? Não, é porque ele toma Red Bull, diz o próprio Cristo, com uma voz meio chapada, que está mais para Bob Marley do que para o Messias. Ah, então é por isso que ele anda sobre as águas? Não - responde o Filho de Deus -: é só escolher as pedras. E lá vai ele, o Salvador, aos saltinhos, entre um gole e outro do energético.

Não vi nada de ofensivo no comercial, que achei até engraçado. Sendo ateu, esse tipo de coisa não me afeta. Acho divertidíssimo, por exemplo, o filme A Vida de Brian, do grupo inglês Monty Python, uma das obras mais sarcásticas que já vi, que tira um tremendo sarro da história de Jesus. Proibi-lo seria uma estupidez, além de um óbvio atentado à liberdade artística (ao contrário de uma campanha da Benetton, veiculada há alguns anos, em que um padre e uma freira aparecem se beijando na boca). Mas admito que há quem se sinta ofendido em sua fé religiosa. E que veja no comercial de Red Bull uma afronta. Nesse caso, além de simplesmente não consumirem o produto - ainda somos livres para fazer escolhas, não? -, essas pessoas têm, sim, o direito de reclamar. Pesquisei e descobri que em outros paises democráticos, como a África do Sul e a Itália, esse e outros comerciais do mesmo produto e de teor semelhante também foram retirados do ar a pedido de cristãos mais sensíveis.

"Ah, mas isso é censura", apressa-se a bradar quem acredita que a liberdade não tem limites. Nada mais forçado. Censura seria se fosse uma imposição arbitrária do Estado, determinada não pela Lei, mas pela discricionaridade do governante - ou dos militantes de algum movimento político que querem colocar o Estado a seu serviço. Ou seja, se fosse um ato de uma ditadura - como aquela que os esquerdistas veneram e que o papa Bento XVI visitou esta semana (e onde a festa de Natal, por exemplo, ficou proibida por trinta anos, e rezar em público até há alguns anos dava cadeia, como ocorria em todas as tiranias comunistas). Nem a África do Sul de hoje nem a Itália são, ao que eu saiba, ditaduras. Além disso, a Constituição brasileira protege a liberdade de religião, punindo a profanação de símbolos religiosos (algo que se tornou comum, por exemplo, nas paradas gays). Pode-se dizer que é uma Constituição autoritária? 

Antes de criticarem a suposta intolerância de católicos ou protestantes, seria bom perguntarem a si mesmos: e se fosse Maomé? Há alguns dias, o chefe da BBC de Londres confessou publicamente que a emissora só aceita fazer piadas ou críticas a Jesus, mas não a Maomé. Sua justificativa: é que os cristãos, ao contrario dos muçulmanos, não reagem quando provocados... Acho que jamais vi confissão de cinismo e covardia maior do que essa, um claríssimo duplo padrão moral. O fato de os cristãos não reagirem quando insultados (talvez levando ao pé da letra a máxima de que é melhor dar a outra face) é, a meu ver, um ponto a seu favor, uma prova de que estão habilitados a viver numa sociedade democrática. Ao contrário dos islamitas que se explodem em mercados lotados e matam crianças.  

Sejamos honestos: nenhuma religião é mais combatida, atacada, vilipendiada, execrada, espinafrada, esculhambada (com ou sem motivo, não importa) do que a cristã - e, em especial, a fé católica. Muitos que reclamam de intolerância na retirada do comercial de Red Bull esquecem que, de todas as liberdades de que gozamos em uma democracia, a pioneira, a mãe de todas as demais, é a liberdade religiosa, de crença e de culto. Liberdade que é afrontada praticamente todos os dias no Brasil, por "movimentos" que, a pretexto de defender o caráter laico do Estado e os direitos de minorias, querem impor suas ideologias totalitárias, tentando calar a boca de padres e pastores e banir, por exemplo, crucifixos de repartições públicas. Em um país cultural e majoritariamente (a seu modo, mas ainda assim) cristão, não há como não ver nisso uma clara imposição autoritária de uma minoria organizada. Pior: uma intromissão numa questão de foro íntimo, pessoal, que é a religião. Não se trata, portanto, de uma rendição ao politicamento correto, mas exatamente do oposto.
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Muitos que enxergam censura na decisão do Conar sobre o comercial de Red Bull que faz troça com Jesus não vêem nenhum problema em pedir prisão para um humorista por uma piada considerada sexista ou preconceituosa (aqui sim, pode-se falar de patrulha politicamente correta). Geralmente são os mesmos que acham plenamente normal e compreensível muçulmanos queimarem embaixadas - e pessoas - por causa de uma charge do profeta Maomé. Anestesiados por um entorpecente mental chamado multiculturalismo, são implacáveis ao atacar severamente o suposto machismo ou casos de pedofilia na Igreja Católica, enquanto fecham os olhos ou mesmo procuram justificar crimes semelhantes ou piores cometidos em nome do Islã. 
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Só para dar um exemplo mais ou menos próximo: na Faixa de Gaza, hoje dominada pelos terroristas islamitas do Hamas e transformada numa cabeça-de-ponte do Irã, meninas de 8 anos de idade são forçadas a se casarem com homens mais velhos, em cerimônias de casamento coletivo. Se fossem cristãos, seriam acusados de pedófilos e estupradores. Mas não se vê quase ninguém denunciando-os como tal. Para a maioria dos que torcem o nariz para o cristianismo, as prescrições - e são apenas prescrições, sem qualquer efeito legal impositivo - de um velhinho vestido de branco sobre aborto e homossexualismo causam mais revolta do que o apedrejamento de mulheres acusadas de adultério e o estupro de crianças - de ambos os sexos - pelos devotos de Maomé. Tampouco os que se dedicam a criticar o papa e a Igreja se dão conta de que a religião mais perseguida do mundo, hoje, é o cristianismo.

Querem dados? Então lá vai. No Iraque, até 2003 havia cerca de 1 milhão de católicos; hoje sobraram menos da metade. São todos os dias atacados por   terroristas islamitas, e praticamente não restou nenhuma igreja intacta no país. No Egito, que passou recentemente por uma revolução tida por democrática, os cristãos coptas, a comunidade religiosa mais antiga do país - muito mais antiga do que o Islã -, sofre perseguições diárias dos fanáticos salafitas, que ganharam bastante poder depois da queda do ditador Hosni Mubarak. Critica-se George W. Bush por ter invadido o Iraque e despachado Saddam Hussein para o inferno, mas não se diz uma palavra sobre esse holocausto cristão. Em outros lugares - Sudão, Índia, Paquistão, Arábia Saudita, China - os cristãos são diariamente ameaçados e atacados, sendo proibidos de professar o culto livremente. Não por acaso, muitos desses países são muçulmanos ou ditaduras. Cristãos são impedidos de professar sua fé e assassinados todos os dias no mundo. Mas quem se importa?
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Como já disse, sou ateu, mas nem por isso anticlerical, o que não é nenhuma contradição. O direito à heresia, como sabia Voltaire, é uma conquista da civilização. Mas não significa o fim da liberdade de crença. Ironicamente, hoje o anticlericalismo é uma ideologia aliada das formas mais extremas de fundamentalismo religioso (no caso, islâmico), sendo um traço comum à esquerda mais "progressista" e "sofisticada" e aos fanáticos da Al Qaeda. Já perceberam como os que adoram jogar lama em 2000 anos de cristianismo - ou seja: na própria civilização ocidental, que não seria a mesma sem os papas e os afrescos da Capela Sistina - não dizem uma palavra sobre as atrocidades cometidas em nome do Islã? Pelo mesmo motivo por que repudio a intolerância e o fanatismo de certos pastores evangélicos e mulás, acho a militância antirreligiosa e, sobretudo, anticristã, uma tolice. É por isso que concordo 110% com a frase do Diogo Mainardi: "Em Deus eu não acredito, mas na Igreja, sim".

Nessa questão do comercial do Red Bull, assim como em todas as outras que envolvam a liberdade religiosa, estou com os cristãos, embora eu seja uma ovelha desgarrada. Aliás, exatamente por isso: se for para ficar a favor apenas da liberdade dos que pensam igual a mim, que espécie de democrata seria eu? A liberdade, numa democracia, é sempre a de quem pensa diferente de nós mesmos. Não vou deixar de tomar um Red Bull na balada, mas nem por isso vou escarnecer da crença alheia. Até porque, não há nada de democrático nisso. 

O PAPA E O MARXISMO


Frase do papa Bento XVI, dita durante viagem à ilha-presídio de Cuba, dominada há 53 anos por uma dupla que tomou o poder prometendo democracia e instalou, em vez disso, a ditadura mais longeva do Ocidente:

"O marxismo não corresponde mais à realidade".

Discordo da frase de Sua Santidade.  Como assim, "não corresponde mais à realidade"? 

Por acaso algum dia o marxismo - esse delírio sociológico responsável por mais de 100 milhões de mortos no século XX - teve alguma coisa a ver com a vida real? Quando? Onde? Em 1917 na Rússia? Em 1949 na China? Em 1959 em Cuba? 

Está claro que o Sumo Pontífice se equivocou. Uma ideologia que produziu aberrações como Stálin, Mao Tsé-tung, Pol Pot e Fidel Castro - que agora posa de "tolerante", vejam só... - não corresponde à realidade, nem hoje nem ontem. Sua única correspondência é com a destruição do indivíduo, a tirania, a falta de liberdade, sob o pretexto de uma igualdade fictícia (e que os próprios comunas são os primeiros a jogar no lixo, arvorando-se em elite dominante onde quer que chegaram ao poder).

Então a censura, o Gulag, o paredón - tudo isso correspondeu à realidade um dia, em algum lugar, apenas está "obsoleto"? Mais ou menos como a TV preto-e-branco está para a TV a cores, ou a máquina de escrever para o computador? 
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Já pensou se alguém dissesse o mesmo do fascismo: "não corresponde mais à realidade"? Imaginem só a gritaria...

E a democracia, o oposto do comunismo, teria, portanto, um valor datado?  Ou seja, teria valido para uma certa época, mas não mais para hoje?

Preciso mesmo responder essa pergunta? 

O mais surrealista de tudo: a frase foi dita pelo papa no caminho para Cuba, ditadura marxista há cinco décadas... Logo onde!
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Para ficar perfeita, a frase do papa precisaria ter uma palavra a menos: "O marxismo não corresponde à realidade"

Aliás, jamais correspondeu. Cem milhões de cadáveres - uns 100 mil em Cuba - não deixam dúvidas quanto a isso.

quinta-feira, março 29, 2012

UM PAÍS MENOS MILLÔR


Este ano de 2012 está sendo cruel para o humor brasileiro. E para a inteligência.

Depois de Chico Anysio, criador de tantos tipos impagáveis, que marcaram a vida de gerações, mais um dos (raros) gênios surgidos no Brasil deu adeus nesta semana: Millôr Fernandes.

O Brasil já tinha ficado um pouco mais sem graça com a morte do mestre da comédia. Agora, sem Millôr, fica também um pouco menos inteligente. E mais vulnerável - infelizmente - à ação da polícia da linguagem e do pensamento, que age com cada vez mais desenvoltura nesta época de criatividade castrada pelo politicamente chato.

Algumas frases inesquecíveis do grande escritor, humorista e chargista, que também vai fazer muita falta - e que merecem ser lembradas nestes tempos sinistros:

"Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados".

"Eles querem dinheiro? Então não era ideologia, era um investimento". (sobre o Bolsa-Terrorismo)

E a minha preferida, genial em sua simplicidade:

"Livre pensar é só pensar".

Peço licença à gramática e introduzo no léxico um novo adjetivo, derivado de um nome próprio. O Brasil está mais triste. E mais burro. Enfim, menos Millôr.

terça-feira, março 27, 2012

ENQUANTO ISSO, EM BRASÍLIA... (PARTE 4)


- Demóstenes Torres, senador pelo DEM (GO).
- Envolveu-se com um bicheiro.
- Seu partido está pedindo sua cabeça.



- Fernando Pimentel, ministro (PT) do governo Dilma.
- Uma série de "consultorias" mal-explicadas em 2009-2010.
- ?????  

Conclusão:
"Aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei".
ou:
"Bandidos são os outros; os nossos são de estimação". 

segunda-feira, março 26, 2012

OS ANTISSEMITAS - UM TEXTO PRIMOROSO

Eu ia escrever sobre este assunto. Mas aí deparei com este texto estupendo do João Pereira Coutinho. Resumiu perfeitamente a cumplicidade dos "intelectuais" ocidentais com o que de pior existe na humanidade. Coutinho é uma ilha de lucidez em meio a um oceano de boçalidade. Só não entendo como a Folha de S. Paulo ainda não mandou o gajo embora.
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OS ANTISSEMITAS

A polícia francesa abateu Mohamed Merah, autor do massacre de sete pessoas em França. Sabemos pelos jornais que este jovem "extremista" (adoro eufemismos) não morreu descansado: ele gostaria de ter morto mais crianças judias. Atenção ao adjetivo: "judias". As três que ele assassinou em Toulouse não foram suficientes.

A Europa está horrorizada com o caso. E eu, horrorizado com a Europa, apenas pergunto: mas que caso? O do regresso do antissemitismo assassino ao continente, dessa vez servido por fanáticos islamitas?

Não vale a pena tanto espanto. E, para os interessados, aconselho leitura a respeito: o livro de Gabriel Schoenfeld, "The Return of Anti-Semitism" (Encounter Books, 193 págs.), publicado em 2004. O terceiro capítulo da obra, sobre o regresso da besta antissemita à Europa depois dos horrores da Segunda Guerra Mundial, vale o livro inteiro.

Sim, a extrema-direita tem tido um papel relevante no assunto, sobretudo em países como a Rússia ou a Ucrânia.

Mas em países ocidentais como o Reino Unido, a Alemanha ou a França, são os jihadistas caseiros que levam vantagem.

Só na Alemanha, conta o autor, a polícia acredita que 60 mil "estrangeiros" (outro eufemismo para muçulmanos radicais) pertencem a 65 grupos terroristas com ligações à Al Qaeda ou organizações semelhantes. O que significa que, em momentos de particular tensão entre o Ocidente e o Islã (os atentados de 11 de setembro; a "segunda intifada" em Israel etc.) as coisas, digamos, sobem de tom.

O leitor quer números? Voilá: quando rebentou a "segunda intifada" em setembro de 2000, registaram-se na Europa ocidental 250 crimes antissemitas nas primeiras semanas do mês - da violência física contra judeus à profanação de cemitérios, sem esquecer o desporto comum de destruir sinagogas.

Em 2002, nas primeiras duas semanas de abril, a fasquia subiu para 360 crimes contra judeus ou instituições judaicas --e só estamos a falar da França. A queima de sinagogas, e em particular a redução a cinzas de uma sinagoga em Marselha, continuou vibrante.

Não admira que, só nesse ano, 2.500 judeus tenham optado por abandonar o país. Muitos mais seguiram o exemplo na primeira década do século 21. O êxodo, agora, promete continuar.

Moral da história? Os crimes de Mohamed Merah não são uma anormalidade na escalada antissemita que a Europa tem permitido dentro das suas fronteiras. Pelo contrário: são a conclusão lógica de uma cultura de ódio reinante.

E o pior de tudo é que essa cultura nem sequer é exclusividade de terroristas ou marginais. Ela é produzida e, pior que isso, legitimada pela "intelligentsia" europeia em suas colocações grosseiras sobre o conflito israelense-palestino.
Lemos o "pensamento" do criminoso de Toulouse sobre esse conflito e ele não é substancialmente diferente de livros ou editoriais "respeitáveis" onde a Faixa de Gaza é apresentada como um novo Auschwitz; os israelenses como os novos nazistas; e os judeus como os eternos conspiradores para dominar o mundo (de preferência, manipulando a política de Washington).

Não vale a pena explicar o que existe de paranóia e abuso nessas colocações. Exceto para dizer que elas excedem em muito qualquer crítica legítima --repito: legítima-- que se possa fazer aos governos israelenses democraticamente eleitos.

Aplicar aos judeus de hoje e ao seu estado categorias próprias da desumanidade nazista é o pretexto ideal para que os fanáticos se sintam autorizados a atuar em nome dessa repulsa.

Mohamed Merah, no fundo, limitou-se a apertar o gatilho. Mas o veneno que existia na sua cabeça é plantado diariamente na Europa por insuspeitos humanistas. 

domingo, março 25, 2012

A BLOGOSFERA PROJETISTA


Do blog do Alex Medeiros, jornalista lá da minha terra (http://www.alexmedeiros.com.br/). A foto também foi tirada de lá.

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No andor em que vai parte da sociedade brasileira, encarando o cotidiano a partir de visões de ideologias beirando o fundamentalismo, estou vendo a hora a militância alternativa convencer a nação de que peido é de direita e flato é de esquerda.

Após uma década de administração petista, em conluio com os diversos gêneros da esquerdopatia tupiniquim, tudo no Brasil virou motivo de dicotomia política. E nada é mais imbecil do que alguém tocar a própria vida a partir de preceitos partidários.

O filósofo inglês Francis Bacon deu uma receita para se viver bem que consistia em termos sempre disponível “madeira velha para queimar, vinho velho para beber, velhos amigos em quem confiar e autores antigos para ler”. Mas não precisava exagerar, né?

Incrível como o conselho do velho Bacon foi levado ao exagero no Brasil do século XXI, transformado no talvez único grande país onde as velhas teorias comunistas ainda são lidas, digeridas e discutidas, como se fossem uma grande novidade filosófica.

Enquanto o mundo busca saídas no campo da gestão administrativa, aqui ainda se debate, com toda a velha pompa acadêmica, sobre a revolução operária e outras baboseiras similares saídas do mofo que escapa dos livros marxistas-leninistas.

Jovens teleguiados nos surrados conceitos ainda pregados por professores militantes, fantasiam o cotidiano com delírios de combatentes de pregressas décadas. Deslocados no tempo, cospem na era do Facebook idéias de equivocados e outroras guerrilheiros do Araguaia.

As cidades estão cheias deles, pobres arautos de causas perdidas, pretensos instrumentos de uma rebeldia tardia, dotados de revanchismo retroativo que interpretam como resgate histórico. Projetam em seus equívocos analíticos todas as conspirações imagináveis.

Alguns deles convivem diariamente numa espécie de comunidade de ciganice online, ponto de apoio para investidas teóricas em reuniões regulares sempre realizadas em bares, shoppings, cafés ou livrarias. Se auto-proclamam as vozes do progresso.

Nada escapa aos seus descontentamentos para-ideológicos, nutrem um dedicado ódio ao pessoal do PSDB, representado nas figuras de FHC e José Serra. Coitados, esquecem que tucanos e petistas são abortos políticos de uma mesma placenta partidária.

Não testemunharam – nem seus mestres informaram – na manjedoura do PT a presença de magos sociais democratas como Mário Covas, FHC, Franco Montoro, Ruth Cardoso, Afonso Arinos, entre tantos outros. Luiz Inácio e a choldra adoravam aplaudi-los.

O mais hilário hoje, quando vemos tanta pendenga politiqueira na blogosfera e nas redes sociais entre petralhas e tucanos, é vê-los silenciar e contemporizar com alguns aliados como José Sarney, Renan Calheiros, Fernando Collor, Jáder Barbalho e outros.

Como é lindo chamar de progressista um cantorzinho de pagode cuja maior contribuição para o comunismo foi surrar uma namorada. O cara é candidato a prefeito da maior cidade do Brasil pela revolucionária legenda do PC do B. Meu deus, diria um ateu.

No devaneio de encarar tudo como uma batalha política, há blogueiros que projetam num simples acidente de trânsito um quadro exemplar para estabelecer a luta de classes. Com tanta paranóia e esquizofrenia, melhor seria batizá-los de blogueiros projetistas.

Um blogueiro projetista que se preza precisa estar atento 24 horas para as possibilidades de revolução popular e para as chances de destruir reputações dos inimigos burgueses, como ocorre agora ao jovem Thor Batista, filho do milionário Eike Batista.

Pelas redes sociais, os militantes do delírio se antecipam ao boletim policial, aos laudos técnicos, às investigações cíveis e partem para sentenciar o rico que matou o pobre, condenam primeiro sua condição social, como uma estratégia de milícia ideológica.

Noutro exemplo, queimam na fogueira do seu sectarismo sem fim o médico que reagiu a um assalto matando o bandido. O perfil pessoal e o status social da vítima logo se tornam provas da sua periculosidade, deixando ao marginal o papel de violentado.

Vomitam teses sociológicas, estampam palavras de ordem pacifistas, ditam regras jurídicas que no fundo valem como defesa da bandidagem. Essa gente não me engana; desde 1983 que eu adquiri imunidade opinativa à velha sociologia de passeata.

sábado, março 24, 2012

A FALTA QUE CHICO ANYSIO FARÁ

Deixo um pouco de lado as análises politicas e as denúncias da corja petralha que se apossou das mentes e dos cofres públicos para me juntar ao imenso coro dos que desde ontem choram a morte de um grande artista. 

Chico Anysio foi - e com isso creio estar repetindo uma platitude - o maior comediante brasileiro de todos os tempos. Seus 209 - duzentos e nove! - personagens registrados, cada qual com voz, jeito e vida próprios, são um retrato fiel deste imenso caldeirão de tipos humanos chamado Brasil, um país que, além do futebol e do carnaval, tem (ou, pelo menos, deveria ter) no humor um de seus maiores tesouros.  

Chico Anysio não tinha apenas talento de sobra, além de grande generosidade, traços que são destacados por todos os que o conheceram e que a ele devem suas carreiras. Tinha irreverência. Coragem, mesmo. Foi ele o primeiro humorista brasileiro a criticar abertamente, com o personagem Salomé, um presidente militar, o general João Baptista Figueiredo, em plenos anos 70. (Nos últimos tempos, com Chico já doente, o personagem foi retomado, mais a título de homenagem, no Zorra Total, programa que não chega nem aos pés do Chico City ou do Chico Anysio Show, a que eu assistia quando criança.) Era, enfim, um exemplo, infelizmente cada vez mais raro, de comediante afrontando os poderosos de plantão, fazendo perguntas que o povo gostaria de fazer.

Talvez a morte tenha escolhido a hora certa para levar Chico Anysio. No Brasil de hoje, cada vez mais pautado pela idiotia do politicamente correto ou pelo nonsense imbecilóide do tipo jackass de programas outrora inovadores como o Pânico na TV, o humor sutil e inteligente de Chico tem cada vez menos espaço na TV aberta. Ele mesmo, aliás, teve de amargar anos de geladeira na Rede Globo, por causa de comentários que fez sobre alguns diretores da emissora (alguns deles aparecem agora dando depoimentos sobre a genialidade do falecido).

Se fosse hoje, personagens como Haroldo, o gay enrustido que quer virar hétero, ou Painho, o pai de santo afrescalhado (do abaitolá da Bahia), seriam rotulados pelas patrulhas como "homofóbicos". Outros, como o malandro Azambuja, entrariam na mira dos militantes negros (esse povo vê racismo em tudo!). Tavares, o bebum que deu um golpe do baú, e Nazareno, o canalha que humilha a mulher por ser feia, seriam linchados pelas hordas anti-álcool e feministas, inimigas do riso. Outros ainda, como o mentiroso Pantaleão, ou o garanhão feioso Silva, provavelmente seriam acusados de transmitirem uma imagem negativa dos nordestinos... E por aí vai. 
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Contra essas tentativas descaradas de censura - é este o nome desse tipo de coisa -, o humor de Chico Anysio era um lembrete constante de que a matéria-prima da arte é a liberdade, e que nenhum comportamento humano está acima da crítica. E isso incluía seus colegas do meio artístico (quem não se lembra do impagável canastrão Alberto Roberto?)

Chico Anysio deixa como legado várias gerações de fãs, entre os quais me incluo, e, ao mesmo tempo, um imenso vazio. Porque sabemos que ele era insubstituível. No país em que piada sobre gravidez de cantora e até comercial de lingerie passaram a ser alvos de ações do Ministério Público, a morte de Chico nos lembra que a função do humor é, simplesmente, fazer rir. E nisso ele era um gênio, um dos poucos que apareceram na Terra dos Papagaios. Chico Anysio fará falta. Muita falta.          

quarta-feira, março 14, 2012

GOVERNO? QUE GOVERNO?


por Marco Antonio Villa

Estado de S. Paulo, 12/03/2012


O rei está nu. Na verdade, é a rainha que está nua. Ninguém, em sã consciência, pode dizer que o governo Dilma Rousseff vai bem. A divulgação da taxa de crescimento do País no ano passado ─ 2,7% ─ foi uma espécie de pá de cal. O resultado foi péssimo, basta comparar com os países da América Latina. Nem se fala se confrontarmos com a China ou a Índia. Mas a política de comunicação do governo é tão eficaz (além da abulia oposicionista) que a taxa foi recebida com absoluta naturalidade, como se fosse um excelente resultado, algo digno de fazer parte dos manuais de desenvolvimento econômico. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, sempre esforçado, desta vez passou ao largo de tentar dar alguma explicação. Preferiu ignorar o fracasso, mesmo tendo, durante todo o ano de 2011, dito e redito que o Brasil cresceria 4%.

A presidente esgotou a troca de figurinos. Como uma atriz que tem de representar vários papéis, não tem mais o que vestir de novo. Agora optou pelo monólogo. Fala, fala e nada acontece. Padece do vício petista de que a palavra substitui a ação. Imputa sua incompetência aos outros, desde ministros até as empresas contratadas para as obras do governo. Como uma atriz iniciante após um breve curso no Actors Studio, busca vivenciar o sofrimento de um governo inepto, marcado pelo fisiologismo.

Seu Ministério lembra, em alguns bons momentos, uma trupe de comediantes. O sempre presente Celso Amorim ─ que ignorou as péssimas condições de trabalho dos cientistas na Antártida, numa estação científica sucateada ─ declarou enfaticamente que a perda de anos de trabalho científico deve ser relativizada. De acordo com o atual titular da Defesa, os cientistas mantêm na memória as pesquisas que foram destruídas no incêndio (o que diria o Barão se ouvisse isso?).

Como numa olimpíada do nonsense, Aloizio Mercadante, do Ministério da Educação (MEC), dias atrás reclamou que o Brasil é muito grande. Será que não sabe ─ quem foi seu professor de Geografia? ─ que o nosso país tem alguns milhões de quilômetros quadrados? Como o governo petista tem a mania de criar ministérios, na hora pensei que estava propondo criar um MEC para cada região do País. Será? Ao menos poderia ampliar ainda mais a base no Congresso Nacional.

Mas o triste espetáculo, infelizmente, não parou.

A ministra Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, resolveu dissertar sobre política externa. Disse como o Brasil deveria agir no Oriente Médio, comentou a ação da ONU, esquecendo-se de que não é a responsável pela pasta das Relações Exteriores.

O repertório ministerial é muito variado. Até parece que cada ministro deseja ardentemente superar seus colegas. A última (daquela mesma semana, é claro) foi a substituição do ministro da Pesca. A existência do ministério já é uma piada. Todos se devem lembrar do momento da transmissão do cargo, em junho do ano passado, quando a então ministra Ideli Salvatti pediu ao seu sucessor na Pesca, Luiz Sérgio, que “cuidasse muito bem” dos seus “peixinhos”, como se fosse uma questão de aquário. Pobre Luiz Sérgio. Mas, como tudo tem seu lado positivo, ele já faz parte da história política do Brasil, o que não é pouco. Conseguiu um feito raro, na verdade, único em mais de 120 anos de República: foi demitido de dois cargos ministeriais, do mesmo governo, e em apenas oito meses. Já Marcelo Crivella, o novo titular, declarou que não entende nada de pesca. Foi sincero. Mas Edison Lobão entende alguma coisa de minas e energia? E Míriam Belchior tem alguma leve ideia do que seja planejamento?

Como numa chanchada da Atlântida, seguem as obras da Copa do Mundo de 2014. Todas estão atrasadas. As referentes à infraestrutura nem sequer foram licitadas. Dá até a impressão de que o evento só vai ser realizado em 2018. A tranquilidade governamental inquieta. É só incompetência? Ou é também uma estratégia para, na última hora, facilitar os sobrepreços, numa espécie de corrupção patriótica? Recordando que em 2014 teremos eleições e as “doações” são sempre bem-vindas…

Não há setor do governo que seja possível dizer, com honestidade, que vai bem. A gestão é marcada pelo improviso, pela falta de planejamento. Inexiste um fio condutor, um projeto econômico. Tudo é feito meio a esmo, como o orçamento nacional, que foi revisto um mês após ter sido posto em vigência. Inacreditável! É muito difícil encontrar um país com um produto interno bruto (PIB) como o do Brasil e que tenha um orçamento de fantasia, que só vale em janeiro.

Como sempre, o privilégio é dado à política ─ e política no pior sentido do termo. Basta citar a substituição do ministro da Pesca. Foi feita alguma avaliação da administração do ministro que foi defenestrado? Evidente que não. A troca teve motivo comezinho: a necessidade que o candidato do PT tem de ampliar apoio para a eleição paulistana, tendo em vista a alteração do panorama político com a entrada de José Serra (PSDB) na disputa municipal. E, registre-se, não deve ser a única mudança com esse mesmo objetivo. Ou seja, o governo nada mais é do que a correia de transmissão do partido, seguindo a velha cartilha leninista. Pouco importam bons resultados administrativos, uma equipe ministerial entrosada. Bobagem. Tudo está sempre dependente das necessidades políticas do PT.

A anarquia administrativa chegou aos bancos e às empresas estatais. É como se o patrimônio público fosse apenas instrumento para o PT saquear o Estado e se perpetuar no poder. O que vem acontecendo no Banco do Brasil seria, num país sério, caso de comissão parlamentar de inquérito (CPI). Aqui é visto como uma disputa de espaço no governo, considerado natural.

Mas até os partidos da base estão insatisfeitos. No horizonte a crise se avizinha. A economia não está mais sustentando o presidencialismo de transação. Dá sinais de esgotamento. E a rainha foi, desesperada, em busca dos conselhos do rei. Será que o encanto terminou?

domingo, março 11, 2012

UMA MENTIRA CHAMADA DILMA ROUSSEFF


Dilma Vana Rousseff é uma mentira. Não sou eu quem o diz. É a própria Dilma Vana Rousseff. 

Querem uma prova? Leiam o discurso de posse dela na Presidência da República, em 1o de janeiro de 2011. Lá, ela diz o seguinte (destaquei alguns textos em negrito):

"Nossa política externa estará baseada nos valores clássicos da tradição diplomática brasileira: promoção da paz, respeito ao princípio de não-intervenção, defesa dos Direitos Humanos e fortalecimento do multilateralismo."

Quem acompanhou pelo noticiário a recente visita de Dilma à ilha de Cuba percebe claramente que o que vai escrito aí em cima não é sincero.  Dilma foi à ilha dos Castro para prestigiar a ditadura mais longeva do Ocidente.  Recusou-se a se encontrar com dissidentes e ainda fez uma declaração das mais idiotas, criticando os EUA e negando-se a dizer qualquer palavra de crítica à tirania castrista. Nisso, seguiu fielmente o roteiro traçado por seu antecessor e criador, que, numa das cenas mais abjetas da história da diplomacia brasileira, comparou em 2010 os presos políticos da ilha-presídio a criminosos comuns.  

No discurso de posse, ela disse ainda:

"Reafirmo meu compromisso inegociável com a garantia plena das liberdades individuais; da liberdade de culto e de religião; da liberdade de imprensa e de opinião."

As liberdades individuais, como a de culto e de religião, são justamente os alvos de projetos que contam com o apoio, velado ou não, do governo federal, como a PEC 122 (a chamada "lei da mordaça gay") e o PNDH-3, que o governo engavetou devido à repercussão negativa junto à opinião pública (mas que não desistiu de implantar). A referência no discurso à liberdade de culto e de religião deveu-se certamente à tentativa de aplacar setores evangélicos, principalmente depois da celeuma das declarações de Dilma a favor da legalização do aborto (que ela negou de rosário e crucifixo na mão durante a campanha eleitoral, enquanto seus assessores faziam contorcionismos verbais para tentar explicar que ela na verdade não quis dizer o que disse).  Agora que o voto evangélico não é mais tão necessário, o governo volta à carga, e a questão da legalização do aborto retorna com força, com a nomeação, inclusive, de uma aborteira treinada para o cargo de ministra das Mulheres.

Mas, atenção!, o trecho do discurso de Dilma que mais ofendeu a verdade foi o seguinte (prestem atenção aos trechos em destaque):

"Reafirmo que prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras. Quem, como eu e tantos outros da minha geração, lutamos contra o arbítrio e a censura, somos naturalmente amantes da mais plena democracia e da defesa intransigente dos direitos humanos, no nosso País e como bandeira sagrada de todos os povos."

Em claro desmentido à primeira frase, a já mencionada visita a Cuba escancarou que a preferência de Dilma está mesmo é com o silêncio das ditaduras companheiras. Quanto à afirmação seguinte, trata-se de um dos pilares fundamentais da lenda dilmista, reforçada pela hagiografia sobre ela publicada recentemente (e cujo título já diz tudo "A Vida Quer É Coragem" - sic). Pode ser resumido assim: "ela foi presa e torturada; logo, sabe o valor da liberdade". Muitos caíram nessa balela, e passaram a repeti-la como um mantra.

É uma falsidade total. Ninguém se torna "naturalmente amante da mais plena democracia e da defesa intransigente dos direitos humanos" porque passou pela experiência da prisão e da tortura. Jamais fui preso ou torturado, mas uma coisa sei com certeza: a tortura não faz de ninguém um democrata. Pelo contrário: a tendência é que a pessoa, pelo trauma da violência, fique ainda mais revoltada e amargurada, tornando ainda mais profundo seu ódio pelos inimigos. Consta que Aiman al-Zawahiry, o atual chefe da Al-Qaeda, foi preso e torturado no Egito antes de se juntar a Osama Bin Laden. Assim como ele, quantos terroristas islamitas da atualidade não se radicalizaram ainda mais por terem sido presos no passado por ditaduras árabes seculares? (Esse é um argumento, aliás, dos que condenam o tratamento dispensado aos terroristas islamitas em Guantánamo, por exemplo.)

A se levar a sério essa alegada relação causal entre ter sido torturada e amar a democracia, deveríamos agradecer aos torturadores, pois teria sido graças ao pau de arara e aos choques elétricos que os guerrilheiros presos descobriram o valor da democracia. Os lulodilmistas inventaram a tortura pedagógica.

Mais adiante no discurso, a criatura de Lula da Silva faz uma afirmação que, pouco mais de um ano e sete ministros a menos depois, soa como irônica:

"Serei rígida na defesa do interesse público. Não haverá compromisso com o erro, o desvio e o malfeito. A corrupção será combatida permanentemente, e os órgãos de controle e investigação terão todo o meu respaldo para aturem com firmeza e autonomia."
 
No final, Dilma Rousseff termina seu discurso repetindo uma mentira histórica:

"Chegamos ao final desse longo discurso. Dediquei toda a minha vida a causa do Brasil. Entreguei minha juventude ao sonho de um país justo e democrático. Suportei as adversidades mais extremas infligidas a todos que ousamos enfrentar o arbítrio. Não tenho qualquer arrependimento, tampouco ressentimento ou rancor."

Dilma Rousseff não se arrepende de ter, segundo suas palavras, lutado por um país justo e democrático. De fato, seria ilógico alguém se arrepender de ter-se entregue ao sonho da justiça e da democracia. Quem seria contra isso? Ninguém, obviamente. Mas foi por isso mesmo que Dilma lutou e foi presa e, dizem, torturada? Nesse ponto, é importante saber a que tipo de sonho realmente ela entregou sua juventude. 

Vamos lembrar: Dilma Rousseff foi presa em 1970 e cumpriu três anos da sentença a que foi condenada por ter participado, como militante, de três organizações armadas de extrema-esquerda: a COLINA (Comandos de Libertação Nacional), a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) e a VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária-Palmares). Pelo menos nesta última, ela teve algum papel de destaque, tendo sido uma das dirigentes.  

O que queria a VAR-Palmares? Em seu Programa, elaborado em setembro de 1969 - provavelmente, com a participação de Dilma, que usava os codinomes de Estela, Vanda ou Luíza - está escrito o seguinte, na parte referente ao "caráter da revolução" (o texto consta da coletânea organizada por Daniel Aarão Reis Filho e Jair Ferreira de Sá, Imagens da Revolução: Documentos das Organizações Clandestinas de Esquerda dos Anos 1961-1971, Rio de Janeiro, Marco Zero, 1985):

"Só a Revolução Socialista poderá libertar os trabalhadores do campo da miséria e assegurar a expansão das forças produtivas na indústria, propiciando melhores condições de vida às massas trabalhadoras. Só a Revolução poderá assegurar a expansão da economia e a independência nacional, até que, com a destruição do imperialismo em escala internacional e com a construção do comunismo, possam desaparecer todas as demarcações e antagonismos entre os povos". (p. 265)

Corrijam-me se entendi errado, mas, até onde sei, "revolução socialista" é uma coisa, e amor à democracia e defesa intransigente dos direitos humanos, é outra, completamente diferente e antagônica. O mesmo vale para "construção do comunismo": quem tem um mínimo de conhecimento sobre o que foi a URSS ou o que é hoje Cuba ou a Coréia do Norte sabe perfeitamente  que tal regime político é incompatível com qualquer idéia de liberdade individual, sobretudo liberdade de culto e de expressão. Era esse o sonho de um país justo e democrático de que falou Dilma em seu discurso de posse?

Mais à frente, o mesmo documento explicita o tipo de regime político pelo qual se batia a organização a qual pertenceu Dilma Rousseff (mais uma vez, peço atenção aos termos destacados do texto):

"O objetivo da Revolução Brasileira é, assim, o da conquista do poder político pelo proletariado, com a destruição do poder burguês que explora e oprime as massas trabalhadoras. Este objetivo, resultado da vitória da guerra revolucionária de classes, será concretizado com a formação do Estado Socialista, dirigido pelo Governo Revolucionário dos Trabalhadores, expressão da Ditadura do Proletariado." (idem)  

Aí está. O grupo de Dilma pugnava não pela democracia representativa que temos hoje, mas pelo "Estado Socialista" (assim, com maiúsculas), um "Governo Revolucionário dos Trabalhadores", expressão da - mais claro, impossível - "Ditadura do Proletariado". Alguma dessas expressões lembra, mesmo que remotamente, defesa da democracia e dos direitos humanos?

O documento da VAR-Palmares tem, não dá para negar, pelo menos o mérito da clareza. Em vários trechos, fica óbvio que seus militantes tinham em vista muito mais do que eleições livres e democráticas. Na parte concernente à "guerra revolucionária", por exemplo, está escrito textualmente:

"[...] Sendo uma guerra contra o sistema capitalista, a Guerra Revolucionária no Brasil deve ser encarada sob o prisma do socialismo, sendo esta sua lei básica. [...]" (p. 269 - grifo no original)

Duas páginas adiante, há uma passagem que especifica a relação entre o objetivo e a forma de luta (a guerrilha). Ao analisar os motivos por que os guerrilheiros estariam isolados e dispersos, o texto afirma:

"Este isolamento e esta dispersão só serão rompidos pela atuação revolucionária da vanguarda, educando as massas na perspectiva da violência e do socialismo". (p. 271)

E, para que não paire qualquer sombra de dúvida sobre o que era e o que queria a organização na qual militou a jovem Dilma, há um trecho que diz:

"A Vanguarda Armada Revolucionária-Palmares, como organização partidária político-militar, constitui-se na vanguarda socialista que, orientada pela ciência e pelo método do marxismo-leninismo, enriquecidos teórica e praticamente pelo movimento revolucionário de todo o mundo, propõe-se a lutar pela revolução proletária e pela implantação do Socialismo no Brasil." (p. 275)  

Creio que o parágrafo acima é suficientemente claro. Ou ainda resta alguma dúvida?

Comparem agora os trechos acima do documento-programa da VAR-Palmares com os trechos selecionados do discurso de posse de Dilma Rousseff na Presidência.  Especialmente aqueles em que ela diz que, por ter lutado contra o arbítrio, é uma amante da democracia e defensora intransigente dos direitos humanos. E que não tem qualquer arrependimento. Pois é...

Uma nota pessoal. Participei, e não escondo isso de ninguém, de um grupo sectário de ultra-esquerda na universidade. Eu era um paspalho, mas não posso dizer que fui iludido. Sempre soube que o objetivo final daqueles aspirantes a Lênin e a Trotsky da província era destruir a sociedade capitalista e impor a ditadura do proletariado. Era, aliás, exatamente isso o que me atraía naquele grupelho radical: a retórica totalitária, o desprezo total à democracia (que chamávamos sempre de "burguesa"). Assim como Dilma Rousseff, acreditei um dia que o futuro da humanidade era o comunismo, e dediquei a essa causa um pedaço de minha juventude. Mas, ao contrário dela, não vejo razão alguma em ocultar esse fato, posando de defensor da liberdade.

Finalmente, vale recordar: em nome da "revolução proletária" e da "implantação do socialismo", grupos como a VAR-Palmares praticaram atos terroristas, como assassinatos, atentados à bomba, seqüestros e  assaltos, com dezenas de vítimas fatais (o primeiro marido de Dilma, Cláudio Galeno, chegou mesmo a seqüestrar um avião comercial, desviado para Havana). Derrotados pelas forças da repressão política, os remanescentes da luta armada passaram a se apresentar, desde então, como democratas. E instituíram uma "comissão da verdade" revanchista que pretende, ao arrepio da Lei da Anistia,  julgar e condenar os que os perseguiram. Com o aval da presidente da República. A mesma que afirmou, no discurso de posse, não ter qualquer arrependimento, assim como ressentimento ou rancor.

Desde que foi escolhida por Luiz Inácio Lula da Silva para ser sua sucessora, Dilma Rousseff, a ex-Estela da VAR-Palmares, passou por uma verdadeira transformação estética. Pelo visto, não foi só sua aparência física que sofreu uma mudança radical: também seu passado político é constantemente retocado por generosas doses de photoshop. Infelizmente para ela, os grupos da luta armada deixaram documentos.

Das duas uma: ou a VAR-Palmares não era uma organização revolucionária marxista-leninista que lutava para instaurar uma ditadura comunista no Brasil, e nesse caso a Dilma Rousseff de 1969 estava participando de uma farsa, ou era, e nesse caso a Dilma de 2011 estava querendo enganar a platéia posando de heroína da luta pelas liberdades democráticas. Em qualquer situação, estamos diante de uma descarada falsificação histórica.   

Os aduladores da atual presidente gostam de dizer que ela se comportou bravamente na tortura, e que mentiu para seus interrogadores. Ela mesma faz questão de repetir essa versão quando lhe é conveniente. Ao que parece, ela interiorizou essa tática. Esta se tornou mesmo sua segunda natureza. Quando se trata de Dilma Vana Rousseff, o que ela diz e a verdade quase nunca estão no mesmo lugar.
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Como dizia o velho Paulo Francis: "Quer ver um comunista se desmoralizar? É só deixá-lo falar". (Ou lembrar o que disseram, eu acrescentaria.) 

A NOVA POTÊNCIA MUNDIAL


Crianças anglo-saxônicas brincando no Rio Tâmisa, em Londres - ainda bem que essas coisas só se vêem por lá...

Para que não digam que só escrevo o que escrevo porque sou um invejoso, ressentido e recalcado por causa desse imenso sucesso de público e crítica que é o lulopetismo, aí vai uma boa notícia.

Está em todos os jornais. O Brasil é agora a sexta maior economia do mundo. Deixamos para trás o Reino Unido.

Que beleza, não? Que maravilha! Esperem aí, vou abrir uma garrafa de champanhe.

Vou mesmo me juntar ao coro dos pachecos e pachecas do oficialismo cleptopetista e gritar, a plenos pulmões, cheio de furor ufanista, slogans de outra época: Pra frente Brasil! Ninguém segura este país! Brasil-sil-sil!

Pois é, né? Estou até com pena dos ingleses, coitados... Os súditos da rainha devem estar se roendo de inveja diante do avanço do Impávido Colosso. Também pudera: como sabe qualquer pessoa minimamente alfabetizada e com algum acesso à informação mais básica, os filhos da pérfida Albion estão numa pindaíba de dar dó até no mais miserável retirante nordestino. Ao contrário de nós, claro.

Só para vocês terem uma idéia, aí vão alguns números para nos encher ainda mais de orgulho patriótico:

- 53% das habitações sem saneamento básico - isso mesmo: mais da metade das casas sem esgoto;

- uma educação falida e incapaz de providenciar o ensino das noções mais básicas de português e de matemática, que se expressa nos últimos lugares nos exames internacionais de qualidade da educação, com mais de 14 milhões de analfabetos (noves fora os analfabetos funcionais, muito mais numerosos);

- um sistema de saúde pública infame e pavoroso, com hospitais que mais se assemelham a açougues;

- cerca de 50 mil assassinatos por ano devido ao crime organizado - num país que, oficialmente, não está em guerra;

- milhares de zumbis viciados em crack zanzando nos centros das grandes cidades e até no interior;

- estradas intransitáveis e aeroportos defasados há décadas, incapazes de atender à demanda;

- tragédias sazonais e plenamente evitáveis na estação de chuvas todo verão - devido à omissão criminosa das "autoridades" etc.

Sem falar, claro, num flagelo que, felizmente, é desconhecido por estas plagas: a corrupção generalizada, a um ritmo de um ministro demitido a cada dois meses (apenas no primeiro ano do governo). Roubalheira? Mensalão? Impunidade?  Ouvi dizer que tem dessas coisas lá pelas bandas da Inglaterra. (Aliás, por lá parece que também eles ainda sofrem com epidemias de dengue, vejam só que atrasados...)

Tudo isso, claro, existe na outrora gloriosa Grã-Bretanha, não no Brasil varonil. Todos estamos carecas de saber que, desde primeiro de janeiro de 2003, quando D. Sebastião voltou para nos redimir, nossa Pátria Amada Idolatrada Salve Salve virou o Paraíso terrestre, motivo de inveja e admiração de todos os povos do planeta.

Para reforçar isso ainda mais, vejam só o que os pobres britânicos têm para mostrar ao mundo, em comparação com o que temos a oferecer:

- Eles têm alguns escribas medíocres, como um tal de Shakespeare, ou um John Milton, um Edmund Burke, um J.S. Mill, um Charles Dickens... Figuras absolutamente obscuras e sem nenhuma influência na Literatura e na Filosofia mundiais. Nós temos gigantes do pensamento universal como Paulo Coelho e Gabriel Chalita.

- Eles deram ao mundo alguns poucos e insignificantes cientistas, como Isaac Newton e Charles Darwin; nós somos uma potência científica, como demonstram nossos dezenas de prêmios Nobel. Tanto somos que já temos mais ex-BBBs do que arqueólogos... é a nossa contribuição ao progresso mental da humanidade.

- Eles tiveram um papel ínfimo na História universal; já o Brasil foi berço da Revolução Industrial e exportador de tecnologia. Sem falar na nossa atuação decisiva na derrota do nazi-fascismo na Europa durante a II Guerra e, depois, do comunismo. 

- Eles ainda pautam sua política externa pela chamada aliança atlântica com os EUA; nós estamos muito mais avançados, e nos guiamos pela aliança com baluartes da democracia e dos direitos humanos como Cuba, Venezuela e Irã.

Nem falo aqui das artes e da cultura, como o cinema, onde, como todos sabem, damos um banho nos gringos. Estamos na vanguarda nesse quesito, ao contrário dos ingleses. Aliás, quem foi mesmo esse tal de Hitchcock?

Parece que a coisa está tão feia por lá que o governo de Sua Majestade estaria cogitando importar o modelo do Bolsa-Cabresto, tão bem-sucedido no Brasil. (Os políticos de lá não sabem o que estão perdendo.) Também estaria pensando em construir um trem-bala unindo o rio Capibaribe a seu tributário, o Tâmisa.

Finalmente chegamos ao Primeiro Mundo. Aí estão os fatos acima que não me deixam mentir.    

sexta-feira, março 09, 2012

UM POEMA PARA OS TEMPOS ATUAIS

Primeiro eles vieram atrás dos liberais.
Atacaram-nos de todas as formas, buscaram desacreditá-los,
Até que “liberal” virou uma palavra feia.
E eu não protestei, porque não era liberal;
.
Depois, eles vieram pelos conservadores.
Trataram de satanizá-los, de estigmatizá-los, 
Até que que não sobrou nenhum deles.
E eu não disse nada, porque não era conservador;
.
Mais tarde, eles vieram atrás dos católicos e dos evangélicos.
Cobriram-lhes de calúnias, ridicularizam-nos,
Tacharam-nos de reacionários, atrasados, homofóbicos…
E eu me calei, porque não era católico, nem evangélico;
.
Então foi a vez de todos os que insistiam em pensar de forma diferente.
E eu permaneci em silêncio, porque não me interesso por política;
.
Finalmente, vieram me buscar.
.
E já não havia ninguém para protestar.

quarta-feira, março 07, 2012

PARA QUE NÃO DIGAM QUE NÃO AVISEI...

THIS IS A BULLSHIT-FREE SPACE


Aqueles que acompanham o blog conhecem minha política em relação aos comentários.  Apenas para que fique claro para os que passaram a frequentá-lo recentemente, vou repeti-la aqui:

- Insultos pessoais, ofensas gratuitas e provocações infantis serão ignorados. Isto aqui não é parede de banheiro público. Procure um psicanalista.

- Links para notícias ou sites que fazem propaganda política do lulopetismo travestida de "jornalismo", como o chapa-branca Carta Capital, também terão o mesmo destino. A web já tem demais desse lixo para que o blog vire caixa de ressonância do JEG (Jornalismo da Esgotosfera Governista). Este blog existe, entre outras coisas, para denunciar essa canalha, que vive de calúnias e do dinheiro da viúva.

- Responderei apenas comentários que eu julgar dignos de resposta - isso inclui aqueles com um mínimo de respeito à norma culta da língua portuguesa. Opiniões divergentes serão respondidas à altura (ou seja: antes de escrever um comentário, procure certificar-se da veracidade dos fatos citados). 

- Comentários assinados terão preferência sobre os anônimos. A web não é lugar para se esconder. Se quer ter uma opinião e ser respeitado por isso, tenha pelo menos a coragem de ter um nome. 

Não dou a mínima se alguém achar que o que está acima é "censura" - quem censura, meus caros, é o governo, não blogueiros, estudem a respeito. Não tenho esse poder. E, se o tivesse, não o usaria para tolher a liberdade de expressão, como fazem os esquerdopatas. Além do mais, o blog é meu e publico o que quiser. Não adianta tentar me pautar.

Se seu comentário foi recusado, saiba que foi por causa de algum desses critérios acima. Recomendo que não insista.

Não gostaram? Problema de vocês. Nesse caso, sugiro que mudem para sites como o da Carta Capital ou o vermelhopontocom, ou de algum "blogueiro progressista" pago com dinheiro público para falar bem da Poderosa. Garanto que lá vocês se sentirão mais à vontade.

É isso. Espero que tenha ficado claro. Não me obriguem a me repetir.

Agora, de volta à nossa programação normal.

segunda-feira, março 05, 2012

APRENDENDO COM OS LULOPETISTAS

Justiça seja feita: é possível aprender muito com os lulopetistas. Todos os dias, recebemos deles uma nova e valiosa informação, capaz de revolucionar nossos conceitos sobre as mais diversas áreas do conhecimento. Esqueçam tudo que a Musa Antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta. 

Primeiro foi o homem formado na universidade da vida, caso único na história da humanidade de filho de uma mulher que nasceu analfabeta (as mães dos demais mortais, como se sabe, já vieram ao mundo recitando Shakespeare e Fernando Pessoa), que nos brindou a todos com suas pérolas de sabedoria. 

Graças a ele, aprendemos, por exemplo, que, ao contrário do que mostram os mapas e livros de geografia, o Brasil não faz fronteira com a Bolívia.

Foi-nos revelado, ainda, que para se viajar do Brasil aos EUA é preciso atravessar o Oceano Atlântico – a Terra de Obama, como se sabe, fica na Europa ou na África, não na América. 

Para ficar no terreno da geografia, descobrimos que os iranianos são árabes, e não persas, e que o problema do aquecimento global só existe (!) porque a Terra é redonda. Sem falar na revelação histórica, que passou despercebida até aos maiores pesquisadores, de que Napoleão invadiu a China.

Foram algumas contribuições ao avanço da ciência feitas pelo maior líder mundial desde o Gênese. Outras certamente viriam, se nosso demiurgo, que dispensou a educação formal quando teve a chance, não considerasse o hábito de ler tão enfadonho quanto andar de esteira (seu contributo ao estímulo à leitura entre as crianças). 

Tantas foram as gemas de pura ciência e aristotélica inteligência despejadas ao longo de oito longos anos pelo criador do Brasil-Maravilha registrado em cartório que muitos sábios, certamente humilhados por tamanha sapiência, resolveram conceder-lhe várias homenagens acadêmicas. Já estão pensando mesmo em criar uma disciplina especial somente para descobrir como receber um título de doutor honoris causa sem precisar ter lido sequer um livro na vida.
Agora, o mestre parece ter encontrado uma discípula à altura.  Embora não tão hábil com as palavras quanto o mentor e inventor, a ponto de quase nunca conseguir concatenar, numa mesma frase, sujeito e predicado, de modo a apresentar uma única idéia coerente, obrigando observadores a fazerem uso de um intérprete, a Soberana parece estar se esforçando para atingir o mesmo nível de excelência. 

Quem mais, além da musa de Arnaldo Jabor, para nos ensinar que o Oceano Atlântico não passa de um tributário dos rios Capibaribe e Beberibe, como disse ela em recente discurso no Recife? (Duvida? Veja aqui: http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/direto-ao-ponto/celso-arnaldo-conclui-a-antologica-implosao-do-pior-discurso-de-todos-os-tempos/)

Depois dessa, a quem poderia surpreender uma ministra dos Direitos Humanos (!) dizendo não ver nenhum problema nesse quesito na ilha-prisão de Cuba (!!) e pregando abertamente a desobediência à Lei (no caso, a de Anistia) para transformar uma "comissão da verdade" numa farsa para punir militares de pijama (mas não os companheiros que jogaram bombas, sequestraram e mataram inocentes)?

E o que dizer de uma ministra das mulheres confessar-se uma aborteira (!) praticante e dizer (e ser aplaudida!) em seu discurso de posse que ela, ex-integrante de grupo armado de extrema-esquerda nos anos 60, lutou pela democracia (!!!)?

E mais: sendo apoiadas pela presidente e pelo ministro da Defesa (!), que pediram punição a um grupo de militares da reserva (amparados na Lei, que lhes dá esse direito) por terem lançado manifesto contestando o que vai acima?   

Diante disso, francamente, que importância tem o fato de que o Brasil teve como ministro da Educação um militante que não sabe soletrar a palavra “cabeçalho” e que aprovou livros didáticos ensinando (!) que falar – e escrever – “nóis pega os peixe” é a mais pura manifestação de variedade linguística?

O que é isso, diante da verdadeira revolução na geografia mundial proporcionada pelos discursos da Poderosa? Ou a formidável revisão histórica realizada pelos companheiros de armas que, tendo fracassado em seu intento de transformar o Brasil numa nova Cuba, agora alegam terem lutado por eleições livres e liberdade de imprensa?

Não duvido que um dia acordaremos com a notícia de que o governo decidiu, por decreto, que o Oceano Pacífico nasce no rio S. Francisco,  Tóquio é uma filial do bairro paulistano da Liberdade e Veneza, um subúrbio da capital pernambucana.

É o Brasil, caminhando célere para se tornar a maior potência mundial.