domingo, junho 30, 2013

O FIM DE DILMA ROUSSEFF? (E ISSO NÃO É NECESSARIAMENTE UMA BOA NOTÍCIA...) OU: REFLEXÕES SOBRE UMA REVOLTA EM BUSCA DE UM OBJETIVO


Acredito que já é possível tirar algumas conclusões sobre o que está acontecendo. Aí vai minha análise. Vamos tentar botar alguma ordem nesse galinheiro.

Primeiro o lado bom:

- Os protestos que há três semanas sacodem o Brasil não têm nada a ver com outros movimentos no mundo atual ou no passado, tais como os que recentemente sacudiram Espanha, Portugal, Grécia, Turquia, Egito, “Occupy”, 1968 e
tc. Isso é bom, porque 1) todos esses movimentos tiveram como tônica o anticapitalismo ou o antiocidentalismo, enquanto as reivindicações no Brasil são muito mais difusas; 2) alguns desses movimentos, como no Egito e os de 68 no Brasil, se dirigiam contra regimes autoritários (não é o caso – ainda – do Brasil, embora muita gente no partido do governo trabalhe nesse sentido); e 3) sobretudo na Europa, tais movimentos se deram num contexto de crise econômica, o que também não é (ainda) o caso do Brasil (apesar do “pibinho” e da volta da inflação);

- O discurso governamental triunfalista, do tipo “Brasil Maravilha”, foi totalmente desmoralizado. As ruas mostraram que a propaganda lulo-petista, exaustivamente repetida nos últimos dez anos, é uma farsa. “Mais saúde e educação”, “mais hospitais e menos estádios”, “mais segurança”, “menos impostos” “chega de corrupção” etc. mostraram que os problemas cruciais do País continuam sem solução, e escancararam o abismo entre o discurso oficial e a realidade. Enfim, acabou o oba-oba. De agora em diante, será muito mais difícil para os marqueteiros do Planalto venderem a ideia ufanista de que vivemos no melhor dos mundos;

- Caiu a máscara de Dilma Rousseff. A “gerentona” supostamente ultra-competente revelou-se como aquilo que realmente é: inábil e despreparada, incapaz de gerir os destinos do País. Demorou para dar uma resposta às manifestações e, quando o fez, depois de se aconselhar com seu padrinho político (o que mostrou, mais uma vez, despreparo e falta de independência), agiu de forma desastrosa e destrambelhada, primeiro fingindo que os protestos não tinham qualquer relação com seu governo e, depois, com propostas inócuas e/ou alopradas como a importação de médicos cubanos e o plebiscito para convocar uma Constituinte exclusiva – medida que, além de cheirar a golpismo, revelou falta de coordenação dentro do próprio governo. Incompetente, à frente de um ministério de áulicos, Dilma demonstrou também falta de coragem ao desistir, por medo de vaias, de comparecer à decisão da Copa das Confederações no Maracanã – o que deveria ser a apoteose do “Brasil Maravilha” virou motivo de constrangimento;

- Acabou o monopólio esquerdista das ruas. Os protestos, até por não terem liderança e serem (aparentemente) espontâneos, tiveram como uma das marcas principais o caráter apartidário, dirigindo-se contra todos os partidos – inclusive os de esquerda. Sob as palavras de ordem “sem partidos” e “fora oportunistas”, bandeiras do PT e de outras legendas de esquerda foram rasgadas e militantes desses partidos que tentaram se infiltrar nas manifestações foram hostilizados e expulsos. Pela primeira vez em décadas não se viram bandeiras vermelhas dominando um movimento de massas no Brasil.

Esse foi o lado bom dos acontecimentos. Agora as más notícias:

- Os protestos, que começaram em SP como uma manobra eleitoreira do PT contra o governo estadual, a pretexto do aumento da tarifa de ônibus (manobra que deu errado e fugiu ao controle), não têm rumo, nem liderança. Nessas condições, acabaram se perdendo em slogans vazios e muitas vezes contraditórios, que expressam apenas um vago sentimento de insatisfação “por um Brasil melhor” ou “contra tudo isso que está aí”, sem clareza e sem dar nome aos bois. Resultado: grupos esquerdistas e o próprio governo vêm tentando se rearticular para sequestrar as manifestações, com as causas mais disparatadas (“Fora Feliciano”, “contra a ‘bolsa-estupro’” etc.). Assim, os protestos, sem objetivos claros, perdem-se no vazio ou degeneram em baderna e vandalismo – vândalos de lojas e de instituições;

- Mais uma vez, ficou claro que não há oposição no Brasil. Tão perplexos e desorientados pela marcha dos acontecimentos quanto o governo, os partidos soi-disant
 oposicionistas se limitaram a assistir ao povo na rua, perdendo mais uma chance de se colocarem à frente das reivindicações e dos protestos, preferindo continuar no rame-rame de declarações anódinas e/ou eleitoreiras (não se viu até agora, por exemplo, nenhum movimento parlamentar a favor de uma CPI da Copa). Tímida e vacilante, a “oposição” recusou-se a denunciar o governo, chegando mesmo a considerar válida a proposta bolivariana do plebiscito para a reforma política. Um vexame, talvez pior do que o de 2005, quando DEM e PSDB perderam a oportunidade de pedir o impeachment de Lula da Silva, envolvido até o pescoço no escândalo do Mensalão;

- A grande incógnita: Lula. Em silêncio há mais de 200 dias por causa do escândalo Rosemary Noronha (mais um!), o auto-proclamado maior líder mundial da História sumiu de circulação com o início dos protestos. A má notícia é que, com o esfarelamento de Dilma Rousseff e sua queda vertiginosa nas pesquisas, "ele" poderá retornar em 2014 (muita gente no PT torce para que isso ocorra, e quer ver Dilma longe da Presidência). Pode mesmo acontecer uma inflexão mais à esquerda do governo, como a ideia do plebiscito parece antever. Enfim, não há nada certo, e as coisas podem ficar ainda piores do que já estão. A ver.

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