A onda de protestos que varreu o Brasil em junho foi vista com
perplexidade pelo governo lulodilmista e saudada otimisticamente como o
despertar de um "novo Brasil" por muitos analistas. Como já
escrevi aqui, tenho motivos para ser cético em relação a esse "novo Brasil" que se está
alardeando por aí. Isso porque, entre outras coisas, não vi um foco nos
protestos, uma liderança capaz de dar um rumo claro e direcionar
a indignação represada durante 11 anos de mandarinato
petista para além do oba-oba e do eventual vandalismo. As manifestações, sem comando e sem objetivos claros,
perderam-se numa barafunda de reivindicações
as mais difusas e até mesmo estapafúrdias (a começar
pelo tal “passe livre”, na verdade uma desculpa de grupelhos de
extrema-esquerda e de mentes pré-púberes para brincar de “revolução”),
sem Norte e sem conteúdo. Como numa tragédia de Shakespeare, tudo pareceu resumir-se a
um espetáculo de som e fúria, significando nada.
Apesar de todo o barulho, não se tocou, até agora, no essencial, limitando-se os protestos a
palavras de ordem vagas e abstratas, que convidam ao sequestro das manifestações
pelo próprio governo e pelos partidos esquerdistas.
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Um exemplo: quase ninguém se deu conta de que o slogan mais repetido nas
manifestações – "mais saúde, mais educação" –, pode significar mais gastança, mais desperdício do dinheiro público, assim
como nas obras da Copa. Não por acaso, a maior manifestação popular da História dos EUA ocorreu em
2011 CONTRA a proposta do governo Obama de universalizar o sistema de saúde pública.
Mais escolas e mais hospitais (e mais médicos, como quer o governo) significa
mais gastos, o que quase sempre quer dizer mais impostos – e mais corrupção. Mas ninguém parece ter percebido isso.
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Outro exemplo: o desencanto com os "partidos" e os "políticos"
em geral, sem dar nomes aos bois (quase não se viram cartazes de "Fora
Dilma" ou "Lula na cadeia") e "contra tudo isso que
está aí". Os brasileiros que foram às ruas manifestaram-se contra
todos os partidos, deixando claro que nenhum deles lhes representa. Mas do quê –
ou melhor: de quais partidos e políticos – estavam falando exatamente? O que os
representa?
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Para tentar colocar alguma ordem nesse caos e nessa confusão
mental – que parece ser mesmo a característica principal do País de Macunaíma –,
apresento a seguir uma agenda política que, asseguro, se for aplicada vai
transformar radicalmente o cenário nacional. Eis minha modesta proposta
para mudar o Brasil.
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Trata-se do seguinte. Um partido, ou movimento - o nome pouco importa
-, que defenda os seguintes pontos:
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- Livre Mercado – Ou seja: livre iniciativa e meritocracia, e não o "capitalismo de
Estado" dos companheiros no poder, o capitalismo estatal ou semi-estatal
dos Eikes Batistas financiado pelo BNDES e pela Petrobrás. Isso que dizer lutar pelo fim dos monopólios, estatais ou de empresas queridinhas do governo, e pela livre concorrência. Em outras palavras:
trata-se de implantar, no Brasil, aquilo que se implantou nos EUA e na
Inglaterra há uns duzentos anos, e que ainda não deu as caras na terra do patrimonialismo
e dos bolsas-famílias: o capitalismo.
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- Redução do Estado – Condição
essencial para que exista capitalismo é limitar o papel do Estado ao mínimo
indispensável, a fim de não prejudicar a atividade econômica e proporcionar
serviços públicos de qualidade onde a ação governamental é imprescindível (segurança, justiça e
defesa, por exemplo). Isso passa, necessariamente, pela redução dos impostos e pela utilização mais racional do dinheiro público. Máquina
inchada, apadrinhamento, ineficiência e corrupção
caminham juntos, como qualquer brasileiro sabe muito bem. (Aí estão 39 ministérios para ilustrar esse fato.)
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- Defesa do Estado de Direito Democrático – Parece óbvio (e é!),
mas qualquer partido ou movimento que se preze deve ter na defesa das
liberdades democráticas - de expressão, de crença, de reunião, de imprensa – parte inseparável
de seu programa. Isso significa defender o mais possível a não-intervenção do Estado na vida privada do cidadão, a
defesa das liberdades individuais contra o Leviatã estatal.
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- Política externa não-ideológica – Embora não seja um
assunto popular no Brasil, a diplomacia deve coadunar-se com os princípios
acima, distanciando-se da agenda bolivariana e antiamericana que hoje
domina o Itamaraty, ditada pelo Foro de São Paulo (o maior tabu político
da América Latina nos últimos 23 anos).
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Aí está. Acredito que ninguém poderá chamar os pontos acima de radicais,
ou dizer que eles pecam pela ambição
desmedida. Pelo contrário: trata-se de um
programa básico, o mínimo necessário para se construir uma alternativa democrática
e liberal aos partidos existentes no País. E, mesmo assim, trata-se de algo
absolutamente inédito no Brasil.
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É incrível, mas nenhum – nenhum! – partido político atualmente existente
no Brasil pauta sua agenda pelos princípios acima. Há partidos de todos os
tipos e para todos os gostos – de esquerda, de ultra-esquerda, fisiológicos,
dinheiristas etc. –, mas nenhum, pelo que sei, define-se abertamente como
conservador ou liberal, portanto de direita. Esta continua a ser um anátema,
enquanto ser de esquerda (ou seja: a favor de ditaduras como a de Cuba, por
exemplo) é visto geralmente como algo bom e positivo. Não por acaso, as eleições no Brasil já viraram um samba de uma nota
só, com todos falando a mesma linguagem esquerdista ou de Miss, defendendo
"mais saúde", "mais educação",
"pela vida" (alguém é contra?) etc.
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(A propósito, caro leitor: que país civilizado e democrático não possui pelo menos um partido de direita solidamente estruturado? Que nação democrática possui apenas partidos pertencentes a um lado do espectro ideológico? Poderia responder?)
Não me surpreende que a maioria da população brasileira, que é honesta, paga impostos e
não quer viver mamando nas tetas do Estado-babá, não se reconheça em nenhum
partido existente. É que nenhum deles realmente a representa. E não há
nada no horizonte para preencher esse vazio. Daí o povo não saber ao certo contra
o quê ou quem protesta.
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Quer mudar o Brasil? Que tal pensar no que está aí em cima, para começar?
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