Folha de S. Paulo, 16/06/2014
Por Luiz Felipe Pondé
União Brasileira Socialista Soviética.
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Piada de mau gosto mesmo, também acho, mas a pena mesmo é que a discussão
política entre nós seja da idade da pedra e o socialismo ainda seja levado a
sério. A piada de mau gosto mesmo é que estamos à beira de um golpe de Estado
invisível no Brasil.
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O leitor e a leitora já estão a par do decreto do
governo que institui a Política Nacional de Participação Social e o Sistema
Nacional de Participação Social? Trata-se de decreto para aparelhar movimentos
como o MST (gente que quer tomar a terra alheia), o MTST (gente que discorda da
ideia de que se deve pagar pelo teto em que mora) e outros movimentos que
englobam gente "sem algo" e acham que a sociedade deve dar pra eles. Esses
grupos darão um golpe de Estado invisível. Tudo fruto, é claro, de setores do PT
radical e os raivosos ex-PT, hoje em pequenos partidos.
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Esse decreto é um
golpe de Estado sem dizer que é. Lentamente, os setores mais totalitários do
país, amantes de ditaduras do proletariado (ou bolivarianas) voltam à cena no
Brasil.
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Comitês como esses tornam os poderes da República reféns de gente que
passa a vida sendo profissional militante. Quando você acordar, já era, leis
serão passadas sem que você possa fazer algo porque estava ocupado ganhando a
vida.
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Pergunte a si mesmo uma coisa: você tem tempo de ficar parando a cidade
todo dia, acampando em ruas todo dia, discutindo todo dia? Provavelmente não,
porque tem que trabalhar, pagar contas, levar filhos na escola, no hospital, e,
acima de tudo, pagar impostos que em parte vão para as mãos desses movimentos
sociais que se dizem representantes da "sociedade".
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Mas a verdade é que a
maioria esmagadora de nós, a "sociedade", não pode participar desses comitês
porque não é profissional da revolução. Tais movimentos que se dizem sociais,
que afirmam que as ruas são deles, mentem sobre representarem a sociedade. Mesmo
greves como a do metrô, capitaneada por uma filial do PSTU, não visa apenas
aumentar salários. Visa instaurar a desordem para que o Brasil vire o que eles
acham que o Brasil deve ser.
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Afinal, de onde vem a grana que sustenta essa
moçada dos movimentos sociais? A dos sindicatos, sabemos, vem dos salários que
são obrigatoriamente onerados para que quem trabalha sustente os profissionais
dos sindicatos.
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Mas, até aí, estamos na legalidade de alguma forma. Mas e os
"sem-Macs" ou "sem-iPhones", vivem do quê? Quando os vemos na rua, não parecem
estar passando fome e frio como dizem que estão. Essa gente é motivada e
sustentada de alguma forma. Por que não se exige entrar nas contas do MST e MTST
e descobrir de onde vem a grana deles? Quem banca toda essa estrutura
militante?
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Temo, caro leitor e cara leitora, que sejamos nós, os mesmos que
eles consideram inimigos, a menos que concordemos com eles. Uma das grandes
mentiras desses movimentos sociais é dizer que combatem a "elite econômica",
que, aliás, em dia de greve, fica em casa porque não precisa de fato se virar pra ir trabalhar.
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Quem sofre com
esses movimentos que arrebentam o cotidiano é gente que perde o emprego, perde o
negócio, perde a vida se fica parada no trânsito ou na fila. É gente que, quando
muito, anda de carro 1.0, não gente que anda de helicóptero. É diarista,
empregada doméstica, porteiro de prédio, professor, estudante sem grana e que
tem que pagar a faculdade, não riquinhos da zona oeste paulistana que fazem
sociais para infernizar a vida dos colegas.
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É médico que tem três empregos, é
dona de casa que cuida de filhos e trabalha fora, é trabalhador da construção
civil, é gente "mortal", comum, que não pode se defender dos caras que fecham a
cidade dizendo que fazem isso em nome do "povo". Os movimentos sociais têm
demonstrado seu caráter autoritário. Pensam que as ruas são o quintal de seus
comitês, que aparelharão os poderes da República.
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Se não bastasse isso tudo,
vem aí o controle social da mídia. Dizer que será apenas para evitar monopólios
é achar que somos idiotas.
Veja o que aconteceu na Argentina.
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Luiz Felipe Pondé, pernambucano, filósofo, escritor e ensaísta, doutor
pela USP, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv,
professor da PUC-SP e da Faap, discute temas como comportamento contemporâneo,
religião, niilismo, ciência. Autor de vários títulos, entre eles, 'Contra um
mundo melhor'.http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2014/06/1470848-ubss.shtml